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quinta-feira, 8 de junho de 2017

CRISTO – O UNIGÊNITO FILHO DE DEUS S. JOÃO 3:16




Se Cristo é o eterno Lógos preexistente como pode ser chamado em S. João 3:16 de unigênito Filho de Deus?
A palavra controvertida neste verso, quanto ao seu real significado, é o termo grego monoguenês, que necessita ser bem estudado para uma cabal compreensão do problema. Monoguenês foi traduzida na Versão do Rei Tiago (KJV) por unigênito, mas na Revised Standard Version (RSV) e na New English Bible (NEB) por único.
Pode a palavra grega monoguenês ser traduzida indiferentemente por unigênito e único? A resposta a esta pergunta encontra-se a seguir.
Monoguenês aparece nove vezes no Novo Testamento, sendo cinco vezes usada para Cristo – S, João 1:14, 18; 3:16, 18; I João 4:9 e quatro vezes para outras pessoas - Lucas 7:12; 8: 42; 9:38; Heb. 11:17. É uma palavra composta de monos = um, só, único, singular e guénos = espécie; cuja tradução correta deve ser - o único de uma espécie. Não vem do grego gennaw = gerar, pois se viesse teria dois "nis", mas sim de givvneomai = tornar-se.
Compreendendo a etimologia da palavra poderemos entender melhor o verdadeiro significado de monoguenês especialmente, ao ser aplicado a Jesus Cristo.
Monoguenês, proveniente de monos (um só, único) e guénos (de guinomai) não se refere a nascer ou ser gerado, mas indica a qualidade inigualável da pessoa a quem se aplica.
Como bem enfatizou Fernando Kattensbruch em seu Dictionary of Christ and the Gospels:
"Não há dúvida de que a expressão 'unigênito' indica uma nuança da palavra grega, monoguenês, que raramente é salientada... Quando Cristo é denominado monoguenês huios, não se dá ênfase ao fato de que Ele como Filho 'nasceu' ou foi 'gerado'... , mas sim ao fato de que Ele é o 'único' Filho, de que como Filho de Deus é sem igual. Os tradutores latinos estavam certos ao traduzirem essa expressão por... Filius unicus (Filho Único), não por Filius unigenitus (filho unigênito)".
W. E. Read com bastante justeza asseverou:
"Na verdade, como algumas traduções expressam o pensamento, Jesus de Nazaré, nosso Senhor e Salvador, foi realmente único. Era diferente de qualquer outro ser no universo. Permanece sem igual, como o único que na qualidade de Deus se tornou homem, sendo, enquanto estava na carne, tanto Deus como homem. Ele era 'Emanuel... Deus conosco' (S. Mat. 1:23). Era único na Sua relação para com o Pai; em Sua natureza divina; no fato de que revelou o Pai; no fato de que é nosso único Salvador e Redentor; no fato de que era sem pecado, não só em Sua natureza divina, mas também em Sua natureza humana".
O Ministério Adventista, Jan., Fev. 75, p. 19.

O Filho de Deus chegou à existência humana recebendo vida de maneira diferente dos outros seres, por isso, ele é chamado de Filho Único (Monoguenês).
A palavra grega "monoguenês" pode significar único quantitativamente (filho único) e único qualitativamente (único em sua geração, nascimento singular, único na maneira de chegar a ser ou nascimento milagroso). Ver S. João 1:14,18; 3:16.
Ele é "Filho Único", porque da Trindade, Cristo é o único que recebeu o título de "Filho de Deus com poder" (Rom. 1:4) e o poder de Deus (I Cor. 1:24). Seu nascimento é único em sua classe, porque nasceu tendo vida própria, portanto foi um milagre.

O livro Problems in Bible Translation, publicação da Conferência Geral, na página 202 afirma o seguinte sobre esta palavra:
"Jesus Cristo, Deus preexistente, o divino Verbo criador, em sua encarnação tornou-se em um sentido incomparável o Filho de Deus. Por isso é que Ele é designado monoguenês, o único de Sua espécie, o único em muitos aspectos do Seu ser e vida".
Vejamos se os dicionários e comentários comprovam a explicação anterior?
Lidell and Scott - único, singular;
Moulton and Milligan - literalmente - único de sua espécie, singular, não unigênito, que é igual a monogennhtov.
Arndt and Gingrich - único (no gênero) de algo que é o exemplo exclusivo de sua categoria... Na literatura joanina, monoguenês é usado apenas com referência a Jesus. A significação de único pode ser perfeitamente adequada para todas as vezes que aparece ali.
H. Cremer - Biblical Theological Lexicon - especial preciosidade, especificamente precioso;
Theological Dictionary of the New Testament, vol. IV, página 739 - significa o supremo predicado da majestade, indicando a máxima prova do amor de Deus para o mundo. Somente João usa monoguenês para descrever a relação de Jesus com Deus. Para esta mesma relação Marcos tem: "O huios mu o agapetós" - Meu filho amado.
Platão declarou que o céu é único (monoguenês) em sua espécie.
A Epístola de Clemente faz alusão a certa ave chamada Fênix da seguinte maneira: Esta é a única (monoguenês) de sua espécie.
Seria interessante achar em hebraico a palavra que foi traduzida na LXX por monoguenês, porque se amplia a nossa compreensão sobre o seu verdadeiro significado. A palavra hebraica equivalente é "Yachid". Nas passagens onde aparece como Salmos 22:20; 35:17; Amós 8:10 ela é traduzida na KJV, NEB e Almeida Edição Revista e Corrigida pelas expressões: minha querida, minha preciosa vida, predileta, filha único.
Em Lucas 7:12; 8:42 e 9:38 onde se encontra a palavra monoguenês, ela foi traduzida na KJV por único. Em Heb. 11:17, declara: "Pela fé Abraão, quando pasto à prova, ofereceu Isaque; estava mesmo para sacrificar o seu unigênito (monoguenês) aquele que acolheu alegremente as promessas". Onde fala de Isaque a KJV traduz por unigênito e a RSV por único. Sabemos que Isaque não era o unigênito porque tinha um irmão mais velho – Ismael, e mais tarde Abraão gerou outros filhos através de Quetura. Isaque em nenhum sentido foi unigênito, mas sim filho singular, o único de sua espécie, o filho da promessa, visto que Ismael estava fora da promessa (Gál. 4: 22, 23).
Em Gênesis 22:2, no texto hebraico, está "Yachid", mas na Septuaginta aparece assim: "Toma teu filho querido (agapeton), a quem amas (egapesas) - Isaque.

COMO SURGIU O UNIGÊNITO EM LUGAR DE ÚNICO

Uma pergunta lógica e natural vem à mente de cada um. Quem traduziu monoguenês para unigênito – o único gerado, se a palavra não tem esta significação?
Nas primeiras versões da Bíblia para o latim este termo foi traduzido por "unicus" como nos prova o Códice Vercelence de 365 AD.
O Papa Dâmaso, pediu a São Jerônimo, que revisasse as velhas versões latinas das Escrituras, porque já havia muitas variantes de leitura em alguns versos. Em 385 estava pronta a Revisão dos Evangelhos, onde São Jerônimo substituiu a palavra' "unicus" por "Unigenitus" em virtude de interesse teológico e não gramatical.
A frase que o influenciou parece ter sido uma célebre do Credo de Epifânio - Gennhqevnta ek qeou patrov monogevnh = único gerado de Deus o Pai. Eram necessárias duas palavras desta frase – Gennhqevnta monogevnh - para dar a idéia de único gerado ou unigênito; mas esta expressão, aliada a outros conceitos do Concilio de Nicéia, em defesa da Trindade, levaram Jerônimo a traduzir monoguenês, em S. João 1:14, 18; 3:16, 18; 1 João 4:9; Heb. 11:17 por "unigenitus", onde não houve interesse teológico ele conservou "unicus" - Luc. 7:12; 8:42; 9:38.
Unigênito significa único e se o único não é criado, pois se o fosse não seria único, mas apenas mais um entre os chamados filhos de Deus pela criação.
O "unigenitus" da Vulgata influenciou os tradutores da KJV de 1611 e tem influenciado as traduções em português.
O Novo Testamento na Linguagem de Hoje foi feliz em substituir unigênito por único, corrigindo uma impropriedade lingüística. Não há neste feito nenhuma inovação, pois simplesmente palmilharam o acertado caminho já antes seguido por Tyndale, em 1525, por Phillips, pelos tradutores da RSV, NEB e outros.
São comuns na Bíblia as expressões: "Filho de Deus" e "Filho do homem" com referência a Cristo. Sabemos que "Filho de Deus" descreve a sua natureza divina, confirmando a Sua divindade, enquanto o "Filho do homem" comprova sua natureza humana.
O SDABC, vol. VIII, página 1033 nos fornece mais os seguintes dados: "O título 'Filho do homem' assegura-nos que o Filho de Deus realmente veio viver na Terra, como um homem entre os homens, para que Ele pudesse morrer como um homem pela humanidade".

CONCLUSÃO

O estudo da palavra em sua formação etimológica; nos bons dicionários e comentários; na comparação com o hebraico e com a Septuaginta, com o seu uso mesmo fora da Bíblia nos leva à conclusão indiscutível que monoguenês não significa unigênito, mas sim muito querido, o único de sua espécie e que João aplicando-o a Cristo queria indicar que Ele é incomparável e muito amado.
H. R. Reynolds em seu The Pulpit Commentary (o Comentário do Púlpito) realçou esta verdade da singularidade de Cristo, relatada em João 1:14, da seguinte maneira:
"A afirmação deste verso, no entanto, é inteira e absolutamente inigualável. O pensamento é completamente novo. Strauss declara-nos que a concepção apostólica de Jesus não tem valor histórico, pelo fato de representar um estado de coisas que não ocorre em nenhuma outra parte da História. É exatamente isto que os cristãos sustentam. Ele, no mais profundo sentido, é incomparável na história da humanidade".
Os comentários e deduções desta pesquisa nos evidenciam quão significativa é a palavra monoguenês e nos esclarecem bem, para o cuidado que devem ter os responsáveis pela tradução do texto bíblico, para que esta transmita de maneira exata e precisa a idéia do original.
De hoje em diante não leiamos mais S. João 3:16 como Filho unigênito, mas sim como único, indicando a qualidade inigualável do nosso Salvador.
Sabendo que a palavra não indica nascimento ou geração humana, porém realça a natureza e elevada dignidade de Cristo finalizaremos com a paráfrase apresentada por W. E. Read:
"Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o Seu filho, Aquele que é incomparável e tão maravilhoso que ninguém O pode descrever, para que todo o que nEle crê não pereça, mas tenha a eterna."

NOTA: As três fontes mais significativas no fornecimento de subsídios para este estudo foram:
1ª.) A monografia de Dale Moody, "O Único Filho de Deus".
2ª.) Artigo de W. E. Read no Ministério Adventista, de Janeiro e Fevereiro de 65, páginas 17 a 19.
3ª.) Problems in Bible Translation, The Review and Herald.

Por. Pedro Apolinário

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