quinta-feira, 21 de julho de 2016

A SABEDORIA EM PROVÉRBIOS




Há muito tempo se discute não pouco o significado dos vers. 22 a 31 de Provérbios 8. A LXX apresenta a seguinte introdução ao tema: "Se eu lhes declarar as coisas que ocorrem diariamente, também recordarei as coisas antigas para as relatar".

Há um evidente paralelo entre esta passagem e a obra da segunda pessoa de a Deidade.  Entretanto, a passagem é alegórica e deve empregar-se cautela para não afirmar que a alegoria diz mais do que o autor quis expressar.  As conclusões a que se chegue sempre devem harmonizar com a analogia das Escrituras.

Alguns procuraram encontrar aqui um respaldo para o ensino que afirma que houve um tempo quando Cristo não existia, e que foi criado pelo Pai como o começo de sua obra para estabelecer um universo perfeito e habitado.  Não têm validez as conclusões dogmáticas apoiadas em passagens figuradas nem em parábolas.  Os resultados falsos destas interpretações são evidentes quando se considera a interpretação popular da parábola do rico e Lázaro (Luc. 16: 19-31).  Sempre deve procurar-se que a veracidade das crenças doutrinais se apoie em declarações literais da Bíblia.  Como exemplo de este tipo de declarações relacionadas com o assunto que nos ocupa, ver Miq. 5: 2; Juan 1: 1; 8: 54; cf.  DTG 16. 

Compare-se também com estas declarações:

"Em Cristo há vida original, que não provém nem deriva de outra" (DTG 489). 

"O Senhor Jesus Cristo, o divino Filho de Deus, existiu da eternidade, como pessoa diferente, mas de uma vez um com o Pai" (EGW RH 5-4-1906). 

"Cristo é o Filho de Deus pré-existente, existente por si mesmo... Nos assegura que nunca houve um tempo quando não estivesse em íntima comunhão com o eterno Deus" (Ev 446, 447; DTG 11, 15-17).

À luz destas declarações, pode ver-se que as traduções modernas que separam-se do hebreu para seguir a LXX, e traduzem "criou-me" ou frases similares, em vez de "possuía-me" (RVR), podem induzir a conclusões errôneas. 987 É indubitável que a passagem se refere a Cristo, a quem se apresenta simbolicamente como a sabedoria. No Eze. 28 pode ver-se outro exemplo desta dobro aplicação, aonde o "príncipe de Tiro" em parte representa a Satanás.
Outro fator extremamente importante para quem defende que a SABEDORIA em Provérbios refere-se única e exclusivamente a Cristo e que causa uma situação delicada e sem resposta é esta: Ela é retratada no sexo feminino... é tratada como uma IRMÃ.
“Dize à sabedoria: Tu és minha irmã; e à prudência chama de tua parenta”... Pv. 7:4
Jesus é mulher? Ele pode ser irmã de alguém???
 Claramente trata-se de uma alegoria, uma linguagem POÉTICA.
Caso semelhante, como já referido, ocorre em Ezequiel 28 que possui dupla aplicabilidade.
Tem elementos que são comuns ao rei de Tiro e a Satanás. Entretanto, há elementos que só podem ser aplicados a Lúcifer.
Em Provérbios 8 usou-se uma figura de linguagem (a sabedoria), personificou-se esta figura de linguagem, e dentro do texto COMPLETAMENTE POÉTICO (pois a sabedoria realmente não é uma pessoa e não fala), há elementos que são aplicados a Cristo, a Sabedoria de Deus.
 Mas há elementos que não podem ser a Ele vinculados.

Surge a pergunta:

O Manual da IASD afirma que; “Há um só Deus: Pai, Filho e Espírito Santo, uma unidade de três pessoas co-eternas.” Se isso é verdade, por que Ellen White, ao comentar sobre a unidade que existe entre Cristo e o Pai, utiliza Provérbios 8, onde o sábio Salomão afirma que quando Deus compunha os fundamentos da Terra, Cristo era Seu aluno? Como poderia Cristo sendo o próprio Deus, ser aluno de Deus?

"Cristo declarou por intermédio de Salomão: "O Senhor Me possuiu no princípio de Seus caminhos e antes de Suas obras mais antigas. Desde a eternidade, fui ungida [a Sabedoria]; desde o princípio, antes do começo da Terra. ... Quando punha ao mar o seu termo, para que as águas não traspassassem o Seu mando; quando compunha os fundamentos da Terra, então, Eu estava com Ele e era Seu aluno; e era cada dia as Suas delícias, folgando perante Ele em todo o tempo. Prov. 8:22, 23, 29 e 30. -Signs of the Times, 29 de agosto de 1900 (A Verdade Sobre os Anjos, págs. 23 e 24). 

RESPOSTA:

Ellen White usou a versão King James que contém a palavra "brought up";  jamais "pupil" (aluno), e citou Prov. 8:30, coerentemente com os eruditos que traduzem o significado da palavra hebraicaאמן  "amôn" como artista, arquiteto, artífice, conforme o Dicionário de Hebraico de J. Strong. A mesma palavra hebraica ocorre no livro de Cantares do próprio Salomão (7:1), traduzida como "artista". "Aluno" é um problema da versão Almeida antiga.
A versão Almeida antiga também traduz nesse texto (Cant. 7:1) a palavra como "artista",  embora traduziu-a como "aluno" em Prov. 8:30. A coerência indica para Prov. 8:30 a tradução como Arquiteto. Com efeito, Cristo foi o grande Artista e Arquiteto da Criação (João 1:3; Col. 1:16; Heb. 1:2).
Paulo também usou a versão de que dispunha na época, a Septuaginta (LXX), e tolerou os problemas dela, e em suas citações há alguma diferença do original hebraico, mas isso não altera o sentido das verdades que ele quis enfatizar. Ellen White jamais ensinou que Cristo é inferior ao Pai, como diz-se que ela disse o que não disse.

FONTES:  Comentário Bíblico Adventista e o livro 100 Respostas às perguntas que não mais clamam do Pr. Roberto Biagini.

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