sexta-feira, 6 de maio de 2016

O livro História da Redenção e a ausência do Espírito Santo




O conflito entre Cristo e Satanás que é desenrolado no livro História da Redenção de Ellen White, bem como no Patriarcas e Profetas, tem sido um dos campos base para os que são contrários a doutrina Trinitária fundamentarem seus argumentos. Entre as premissas básicas utilizadas por eles pode-se citar: “Como pode o Espírito Santo ser uma terceira pessoa se ele não é mencionado no relato da queda de Lúcifer contido no livro História da Redenção e Patriarcas e Profetas? Como podemos conjugar uma terceira pessoa dentro do contexto apresentado pelo Senhor a sua serva em visão?” Estas premissas contêm alguns erros grotescos que serão analisados a seguir:

1.       Neste relato não é mencionado o Espírito Santo, logo, Ele não é uma pessoa

Seria este um argumento adequado para solidificar alguma doutrina? Ora, os livros de Ester e Cântico dos Cânticos não citam o nome de Deus. Por isso, Deus deixa de ser um ser pessoal por não ser mencionado nos livros citados?

2.       O livro cita Cristo e seu Pai constantemente. Onde está o Espírito Santo?

Essa premissa é um desenrolar da primeira e que mostra mais uma vez a fragilidade argumentativa dos antitrinitarianos. O fato de dois seres da Divindade aparecerem e um ficar de fora não o exclui como o terceiro ser desta Divindade. No livro de Mateus capítulo 20 é relatada a história de 2 cegos assentados junto ao caminho. Os textos correlatos de Lucas 18 e Marcos 10, afirmam que era um cego apenas. Esta aparente discrepância se dá pelo fato de que um evangelista olha sob uma ótica diferente dos outros. Eram dois cegos. Mas Lucas e Marcos atem-se a um deles, quem sabe o que estava clamando mais, e, portanto, estava em mais evidência, dizem os estudiosos. Isso não invalida o fato de que, mesmo Lucas e Marcos falando de um cego apenas, o outro não existisse, só não foi mencionado.

Há dois texto muito utilizados pelos antitrinitarianos que poderiam bem explicar esta questão:

a)      “Não é aos homens que devemos exaltar e adorar; é a Deus, o único Deus verdadeiro e vivo, a quem são devidos nosso culto e reverência. ...UNICAMENTE O PAI E O FILHO devem ser exaltados.” (The Youth's Instructor, 7 de julho de 1898. - Filhos e Filhas de Deus, MM 1956, 21 de fevereiro, pág. 58).
               
Olhando a primeira vista, adoração ao Espírito Santo está fora de questão. Ele nem é mencionado. Portanto, não existe Espírito Santo. Mas, o que dizer deste outro texto?:

“O Espírito Santo habilitou os discípulos a EXALTAR UNICAMENTE AO SENHOR, e guiou a pena dos historiadores sagrados, para que o registro das palavras e ações de Cristo pudesse ser transmitido ao mundo.” (Obreiros Evangélicos, 286:3).

                Nesta última citação aparece o Senhor Jesus e o Espírito Santo. Alguém poderia pegar esta citação e dizer: “Não podemos exaltar o Pai, pois UNICAMENTE o Senhor Jesus pode ser exaltado.” Claro que isso é ser por demais unilateral e evidentemente demonstra a má intencionalidade do proponente, uma vez que esquece dos demais textos que abordam a questão.

É importante observar que o foco do livro História da Redenção (que trata-se de uma compilação) não é apresentar a doutrina da Trindade, mas mostrar a história da redenção em Cristo. Ele é o assunto principal. Neste mesmo livro, quando Ellen White fala do plano da redenção sendo estabelecido ela sequer menciona o Espírito Santo, veja:

b)     “Vi o adorável Jesus e contemplei uma expressão de simpatia e tristeza em Seu rosto. Logo eu O vi aproximar-Se da luz extraordinariamente brilhante que cercava o Pai. Disse meu anjo assistente: Ele está em conversa íntima com o Pai. A ansiedade dos anjos parecia ser intensa, enquanto Jesus Se comunicava com Seu Pai. Três vezes foi encerrado pela luz gloriosa que havia em redor do Pai; na terceira vez, Ele veio de Seu Pai, e podia ser visto. Seu semblante estava calmo, livre de toda perplexidade e inquietação, e resplandecia de benevolência e amabilidade, tais como não podem exprimir as palavras.
Fez então saber ao exército angelical que um meio de livramento fora estabelecido para o homem perdido. Dissera-lhes que estivera a pleitear com Seu Pai, oferecera-Se para dar Sua vida como resgate e tomar sobre Si a sentença de morte, a fim de que por meio dEle o homem pudesse encontrar perdão; que, pelos méritos de Seu sangue, e obediência à lei divina, ele poderia ter o favor de Deus, e ser trazido para o belo jardim e comer do fruto da árvore da vida.” (História da Redenção 42 e 43)

                Olhando assim, alguém sugeriria (como já tem feito os antitrinitarianos): “Viu, o Espírito Santo não existe. Ali diz que só Jesus entrou pra conversar com Seu Pai. Onde está o Espírito Santo?” Mas é interessante analisar, assim como o caso do cego em Mateus, Lucas e Marcos, outro livro, em um outro contexto, que fala do mesmo assunto. Veja:

“A Divindade moveu-se de compaixão pela raça, e o Pai, o Filho e o Espírito Santo deram-Se a Si mesmos ao estabelecerem o plano da redenção. A fim de levarem a cabo plenamente esse plano, foi decidido que Cristo, o unigênito Filho de Deus, Se desse a Si mesmo em oferta pelo pecado. Que linha pode medir a profundidade deste amor? Deus tornaria impossível ao homem dizer que Ele poderia ter feito mais. Com Cristo deu Ele todas as riquezas do Céu, para que coisa alguma pudesse faltar no plano de soerguimento do homem.” (Conselho Sobre Saúde 222)

"Os três poderes da Divindade comprometeram a sua força para realizar o propósito que Deus tinha em mente quando deu ao mundo o inefável dom de seu Filho" (The Reviw and Herald 18-07-1907)



"Os três poderes da Divindade comprometeram a sua força para realizar o propósito que Deus tinha em mente quando deu ao mundo o inefável dom de seu Filho" (The Reviw and Herald 18-07-1907)
 

Note as preciosidades deste texto: Primeiro ela afirma que a Divindade moveu-se de compaixão pela raça. Depois ela vai dizer quem é esta Divindade: o Pai, o Filho e o Espírito Santo. O texto também afirma que os TRÊS estabeleceram o plano da redenção. Mas isso não contradiz o relato do História da Redenção? Não. Assim como Lucas e Marcos não contradizem Mateus. A questão é o foco do que se apresenta. Infelizmente os antitrinitarianos pecam por desconsiderarem Ellen White em seu contexto mais amplo e cria heresias a partir de suas ideias e dos textos descontextualizados.

Portanto, o que se pode afirmar sobre o livro História da Redenção e ausência do Espírito Santo na parte inicial, é que o foco ali abordado era a batalha entre Cristo e Satanás. A luta do mal não era contra o Espírito Santo, mas contra Cristo. Entretanto, quando analisado relatos sinóticos em outros contextos que não o do grande conflito no céu, como o caso exposto acima no livro Conselho Sobre Saúde, a presença dos três é marcante e bem visível.


Por: Eleazar Domini










Um comentário:

  1. No Entanto o pecado de Lucifer foi contra o Espirito santo: Deus, em Sua grande misericórdia, suportou longamente a Satanás. Este não foi imediatamente degradado de sua posição elevada, quando a princípio condescendeu com o espírito de descontentamento, nem mesmo quando começou a apresentar suas falsas pretensões diante dos anjos fiéis. Muito tempo foi ele conservado no Céu. Reiteradas vezes lhe foi oferecido o perdão, sob a condição de que se arrependesse e submetesse.” (O Grande Conflito, p.p. 495, 496).

    Ele deixou a imediata presença do Pai, insatisfeito e cheio de inveja contra Jesus Cristo. Dissimulando seu real propósito, convocou os exércitos angelicais. Introduziu seu assunto, que era ele mesmo. Como alguém agravado, relatou a preferência que Deus dera a Jesus em prejuízo dele. Contou que, dali em diante, toda a doce liberdade que os anjos tinham desfrutado estava no fim. Pois não havia sido posto sobre eles um governador,
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    a quem deviam de agora em diante render honra servil? Declarou que os tinha reunido para assegurar-lhes que ele não mais se submeteria à invasão dos direitos seus e deles; que nunca mais ele se prostraria ante Cristo; que assumiria a honra que lhe devia ter sido conferida e que seria o comandante de todos aqueles que se dispusessem a segui-lo e obedecer a sua voz.

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