terça-feira, 17 de março de 2015

TU ÉS MEU FILHO, HOJE TE GEREI” ( HEB. 1:5)


1 – Gegenneka Te (gerei-te) vem do verbo gennaw, que quer dizer, gerar. A forma grega, indicativo perfeito ativo, é encontrada 3 vezes no N. T. :
a) Atos 13:33
b) Heb. 1:5 – explicitamente se aplica à Jesus.
c) Heb. 5:4-5,  explicitamente é aplicado à Jesus.
Estas 3 passagens usam a expressão “Tu és Meu Filho, hoje Te gerei” emprestada de Sal. 2:7 (Veja na referência bíblica no rodapé), que é o texto original de onde as 3 passagens tiram a expressão. Como resolveremos este problema? É um pouco diferente do caso de monogenes e prototokos.
Quando enfrentamos um problema como este, onde uma expressão é tomada emprestada, nada melhor do que examinar o contexto original onde esta expressão é primeiramente usada, para se ver com ela foi empregada no original.

2 – Salmos 2:7 em foco:
Sal. 2:1-2  - as gentes = nações conspirando, estão em tumulto. Imaginam coisas más = maquinam, conspiram...
Contra quem estão eles conspirando? Contra o Ungido.
Quem é o Ungido? Mais freqüentemente o rei é chamado “ungido”. Messias quer dizer ungido, e era esperado que o Messias fosse um rei poderoso. Mas também um sacerdote podia ser o messias. Em alguns casos o profeta é mencionado como sendo o ungido: (messias). Mas mais freqüentemente o rei era o ungido, ungido com óleo por ocasião de ser consagrado ao seu ofício. Davi muitas vezes, referiu-se a Saul como “ungido do Senhor” (I Sam. 24:6, 10). Assim podemos dizer que havia tribos, grupos de povos, conspirando contra o rei.

Salm. 2:3-4  - O povo está revoltado, maquinando contra o rei que foi estabelecido por Deus. Alguns estão tentando se libertar do rei. Eles eram vassalos do rei e agora estão tentando livrar-se do seu jugo, buscando a liberdade. Deus ri-se, porque, Ele foi o que estabeleceu o rei.

Salm. 2:5-6,7 -  Deus os confundirá, porque Ele ungiu o rei e fará lembrar o Seu decreto – “Tu é o Meu Filho, hoje Te gerei”.

Está claro que o Salmo 2, de onde sai a expressão trata de um rei que está em problemas, e tribos (gentios) estão revoltando-se contra ele, procurando a sua liberdade. O Senhor dirige-se ao rei e diz: “Não se preocupe, descanse; porque eu te estabeleci. Tu és o Meu Filho, eu cuidarei de Ti.

Este Salmo tem implicações Messiânicas, mas também tem uma aplicação local imediata. O assunto aqui é o de um rei no trono. A idéia é de coroação, e não de concepção (ser gerado).

Jerusalem Bible, (a melhor em linguagem nos dias atuais) traduziu Sal. 2:6 assim: “Este é o Meu rei, estabelecido por Mim em Sião, Meu santo monte”.

3 – O passo seguinte seria ver como os comentadores judeus compreenderam ou interpretaram Sal. 2:7.

a) S. B. Freehof, (American Scholar, Cincinati, 1943)  comenta Sal. 2:7 assim: “Hoje eu TE gerei, isto é, hoje Tu tens sido ungido rei.” A passagem não quer dizer que Deus hoje gerou o rei mas, quer dizer, que Deus hoje estabeleceu o rei sobre o trono ungindo-o.
b) Abraham Cohen, (British Sacholar), comenta Salmo 2:7: “Hoje Te gerei deve ser entendido figuradamente. No dia da sua posse, o rei foi gerado por Deus como Seu servo para guiar o povo”. Cohen prossegue citando II Sam. 7:12-14, mostrando que quando Salomão veio ao trono, Deus prometeu: “Eu lhe serei por pai, e ele me será por filho”  (II Sam. 7:14  pp).

4 – Conclusão: Salmo 2:7 trata de um rei que está em problemas porque gentes estão tentando maquinar contra o rei e querendo livrar-se do seu jugo. Deus ri-se deles porque fá-los lembrar do decreto: “Tu és o meu filho, eu hoje te gerei”. Quando Deus declara isto, os comentadores judeus aplicam-no ao dia da posse do rei ele se torna o Filho de Deus.
Se é isto que o texto original quer dizer, isto é, que Sal. 2:7 encerra uma idéia de coroação e não de concepção, então por que não aplicar este significado a Jesus Cristo?
Assim, Heb. 1:5 não tem nada que ver com a idéia de gerar, mas, é uma expressão figurada, como Cohen salienta, da coroação (posse) de Jesus Cristo – “Hoje eu Te empossei, estabeleci”. Se nos lembrarmos que Hebreus foi escrito para os hebreus, então devemos admitir que eles sabiam muito bem o que Sal. 2:7 queria dizer, e é usado em relação com a posse de Jesus.
Quando Paulo faz a pergunta: “a qual dos anjos disse Deus?” (Heb. 1:5), Paulo imediatamente cita Sal. 2:7, e logo a seguir Paulo cita II Sam. 7:14, “Eu lhe serei por pai, e ele me será por filho”, (veja a referência bíblica no rodapé). Isto mostra, que a expressão se refere ao entronamento (posse).
Quando foi Jesus Cristo empossado? Quando disse Deus: “Hoje eu te estabeleci”, e não “Hoje eu te gerei”?

5 – Respostas à pergunta acima formulada.
Alguns afirmam que foi ( 1 ) na Encarnação de Jesus; ( 2 ) outros por ocasião do Batismo, (Luc. 3:22);  ( 3 ) e outros afirmam que o entronamento de Jesus ocorreu por ocasião da Sua ressurreição. Cremos que a terceira interpretação seja a mais correta:
( 1 ) Porque temos o apoio do SDA B. C.
SDA B. C. 3:634, comentando Salmo 2:7 diz:
“Gerei-Te. Esta afirmação não deve ser entendida como indicando uma original geração do Filho. “Em Cristo há vida original, não emprestada (própria), não derivada” (DA 530). A Bíblia é o melhor intérprete de si mesma. Devemos permitir (concordar) que os escritores inspirados fazem uma aplicação precisa das profecias do V. T. Todas as outras aplicações são opiniões humanas, e portanto, não são apoiadas por um “Assim diz o Senhor” (veja Deu. 18:15). O comentário do inspirado apóstolo sobre a profecia deste texto faz das palavras do Salmista uma predição da ressurreição de Jesus (Atos 13:30-33). A ressurreição dos mortos de uma maneira singular proclamou ou declarou ser Jesus o Filho de Deus (Rom. 1:4).
( 2 ) Assim, em 2º lugar podemos dizer que o entronamento de Jesus ocorreu na ressurreição, porque Paulo aplica Sal. 2:7 para a ressurreição de Jesus Cristo, Atos 13:30-33. Mesmo que alguém discorde do contexto histórico de Sal. 2:7, ele não poderá discordar que Paulo está aplicando Sal. “2:7” à ressurreição de Jesus.
Naquele dia (ressurreição) Jesus recebeu um nome acima de todo o nome. Ele é exaltado acima dos outros. Ele é “gerado”, não no sentido de início de Jesus no tempo. Ele é eterno. Mas, neste dia especial ele foi empossado.
( 3 ) Rom. 1:4 declara que na ressurreição ou desde a ressurreição Jesus ocupa a exaltada posição de “Filho de Deus em poder”.
“A passagem (Rom. 1:4) refere-se à exaltada posição de Cristo como o “Filho de Deus em poder” na ou desde à ressurreição...”  SDA B. C. (Com. Sobre Rom. 1:4).
( 4 ) Esta idéia está de acordo com as outras passagens bíblicas, como por exemplo, Ef. 1:19-22.

6 – Outros comentadores:
a) International Critical Commentary, aplica Heb. 1:5 ao Batismo e Ressurreição de Jesus.
b) Ellen G. White, aplica Heb. 1:5 à Encarnação, mas especialmente à Ressurreição e Ascensão de Jesus (veja D. T. N. – 618-621); (A.A. 37-38). Isto não é uma contradição, mas como O. Cullmann (teólogo europeu contemporâneo) demonstrou, o Evento-Cristo é um, isto é, Encarnação, Morte e Ressurreição, é um evento.
Em Testimonies, vol. 2, p. 426, E G.W. escreve:
“E quando outra vez introduz no mundo o primogênito, diz: “E todos os anjos de Deus o adorem”. Jesus tomou sobre Si a nossa natureza, depôs a Sua glória, majestade, e riquezas para realizar a Sua missão, salvar aquilo que estava perdido.”
Nos livros D. T. N.  e  A. A.  Ellen G. White faz esta linda descrição:
Falando da ascensão de Jesus EGW diz, “Ardente era o desejo com que o Céu aguardava o fim de Sua estada num mundo manchado pela maldição do pecado. Chegara agora a ocasião de o universo celestial receber o Seu Rei... Cristo ascendera ao Céu na forma humana. Os discípulos viram a nuvem recebê-Lo. O mesmo Jesus que andara, e falara e orara com eles; Aquele que partira com eles o pão, que com eles estivera nos botes, no lago; e que fizera com eles, naquele mesmo dia, a penosa subida do Olivete – o mesmo Jesus fora agora para partilhar do trono do Pai.”  D. T. N.  618-619.
Aqueles que haviam ressuscitado por ocasião da morte de Cristo, “saindo dos sepulcros, depois da ressurreição Dele”, subiram com Ele ao céu, e foram apresentados perante o Pai como uma espécie de primícias da ressurreição (Mat. 27:52,53;  Ef. 48)  “Todo o céu estava esperando para saudar o Salvador à Sua chegada às cortes celestiais. Ao ascender, abriu Ele caminho, e a multidão de cativos libertos à Sua ressurreição O seguiu. A hoste celestial com brados de alegria e aclamações de louvor e cântico celestial, tomava parte na jubilosa comitiva. Ao aproximarem-se da cidade de Deus cantam como em desafio, os anjos que compõem o séquito: (EGW cita agora Sal. 24:7-10)...”
Ali está o trono, e, ao seu redor, o arco-íris da promessa.  ...Todos ali estão para dar as boas vindas ao Redentor. Estão ansiosos por celebrar-Lhe o triunfo e glorificar seu Rei. Mas Ele os detém com um gesto. Entra à presença do Pai... Os braços do Pai circundam o Filho, e é dado a ordem: “E todos os anjos de Deus o adorem” (Heb. 1:6).  D. T. N.  619-621.
“A ascensão de Cristo foi, para Seus seguidores um sinal de que estavam para receber a bênção prometida... Ao transpor  as portas celestiais, foi Jesus entronizado em meio a adoração dos anjos. Tão logo foi esta cerimônia concluída, o Espírito Santo, desceu em ricas torrentes sobre os discípulos, e Cristo foi de fato glorificado com aquela glória que tinha com o Pai desde toda a eternidade. O derramamento pentecostal foi uma comunicação do Céu de que a confirmação do Redentor havia sido feita.” A. A. 38-39.

7 – O contexto Histórico de Heb. 1:5 (tirado do C. B.).
a) Na Ásia Menor a angelologia estava desenvolvida, (Col. 2:18). Está claro que em Colosso (Ásia Menor) havia falsos mestres que estavam ensinando a existência de seres angélicos arranjados em diferentes ordens, que eram intermediários entre Deus e o mundo, e que agiam como intermediários dos homens e que lhes trouxeram, a salvação, e mereciam a adoração dos homens. Devemos ainda lembrar que o conceito de anjos organizados em ordens (Col. 1:16) é familiar na literatura apócrifa dos judeus.
 Heb. 1:5 fala de anjos. Que anjos? No v. 5  Paulo cita do V. T. para provar a superioridade de Cristo. A resposta antecipada à pergunta é: “Ele nunca disse isto para nenhum anjo em tempo algum.” Paulo está negando a alegação feita por alguns que Cristo é um anjo elevado a uma posição mais elevada. Se Cristo realmente fosse um anjo elevado ao Seu presente status, então Deus disse a um anjo, “Tu és meu Filho”. Mas , Deus não disse isto para nenhum anjo em tempo algum.
b) A Epístola aos Hebreus foi dirigida a cristãos com formação judaica para resolver o problema do seu tempo. ( 1 ) Os judeus convertidos ao cristianismo tinham que aceitar um novo elemento agora – Jesus Cristo, o Salvador.  ( 2 ) E Abraão, Melquisidec, Moisés, templo? Não tinham eles nenhum significado? Paulo diz: Não.  ( 3 ) Assim os judeus tinham um problema de aceitar a Cristo como Deus, porque eles tinham uma formação monoteísta.
O International Critical Commentary comentando Heb. 1:4 diz: “Este entronamento mostra a superioridade do Filho sobre os anjos.” E continua dizendo que a mudança brusca para uma comparação do Filho como os anjos sugere que algo está na mente do escritor – crença contemporânea sobre anjos e revelação.


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