domingo, 22 de março de 2015

TRINDADE: UMA REVELAÇÃO GRADUAL - UMA COMPREENSÃO BÍBLICA E DOS PRIMEIROS CAPÍTULOS DO LIVRO HISTÓRIA DA REDENÇÃO





Apesar de, como o próprio autor declarou, não ser um posicionamento oficial da Igreja Igreja Adventista do Sétimo Dia, o presente artigo nos leva ao entendimento de alguns textos bíblicos e também do espírito de profecia, em especial os primeiros capítulos do livro História da Redenção. Achei bastante relevante as considerações e a linha argumentativa feitas por Rubem M. Scheffel. 


**Dica do Autor do site: LEIA O ARTIGO ACOMPANHANDO OS TEXTOS BÍBLICOS. DEPOIS QUE TERMINAR A LEITURA, LEIA OS DOIS OU TRÊS PRIMEIROS CAPÍTULOS DO LIVRO HISTÓRIA DA REDENÇÃO.



Trindade: Uma Revelação Gradual


A obra redentora de Deus é um trabalho de equipe; o trabalho do Pai, Filho e Espírito Santo, unidos e interessados em nossa salvação.


Rubem M. Scheffel

Editor de Livros Denominacionais da Casa Publicadora Brasileira.


Imaginemos que Deus fosse apenas uma Pessoa. Isso significaria que Ele estivera, durante milhões e milhões de anos, na imensidão vazia, antes de ter criado o Universo e os seres vivos. Mas a Bíblia diz que Deus é amor, e o amor não pode se manifestar em solidão. É preciso ter alguém a quem amar, caso contrário, o amor não se desenvolve. E não tem chance de ser correspondido. Fica difícil imaginar um Deus de amor, que permaneceu por uma eternidade passada sem ter a quem amar.

A tendência de quem é sozinho é desenvolver o egoísmo, o orgulho, não o amor. Porque o amor precisa ser expresso e partilhado. Se Deus fosse um Ser solitário, talvez a Bíblia dissesse que Deus é orgulho, ou que Deus é egoísmo. Mas como Deus é amor, isso por si só já subentende que Ele, desde os tempos da eternidade, sempre teve a quem amar e por quem ser amado. Assim, através da revelação, sabemos que Deus o Pai ama o Filho e o Espírito Santo, e é por Eles amado. Os três constituem a Divindade, sem no entanto serem três deuses.

Se fossem três deuses, eles provavelmente seriam rivais, cada um lutando pela supremacia no Universo. E como têm poderes iguais, certamente acabariam dividindo o Universo em três territórios, e cada um seria o soberano absoluto do seu terço. Então o Universo não seria mais Universo, mas uma espécie de Multiverso, tendo cada território as suas próprias leis e regulamentos.1

Segundo a Bíblia, Deus é um só, mas em três Pessoas. Essa família Trinitária serve de modelo para a família humana, pois Gênesis 2:24 diz que o homem se une à sua mulher, tornando-se “uma só carne”. Ora, marido e mulher são duas pessoas, mas o amor substancia essa união, fazendo com que dois sejam um. Assim também é o amor que une a Trindade.

Entretanto, é preciso admitir que a Trindade é um mistério, tal como o matrimônio também o é (Efés. 5:32). Um mistério revelado, mas não explicado. A própria Bíblia diz que não podemos penetrar nos mistérios divinos: “Porque os Meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os vossos caminhos os Meus caminhos, diz o Senhor, porque, assim como os céus são mais altos do que a Terra, assim são os Meus caminhos mais altos do que os vossos caminhos, e os Meus pensamentos, mais altos do que os vossos pensamentos.” (Isa. 55:8 e 9).

Se nós ainda não conseguimos compreender bem o átomo, a eletricidade, e muito menos o Universo, deveríamos negar a Trindade só porque Ela transcende a nossa limitada compreensão?

Conhecimento progressivo

Quando Adão e Eva foram criados, Deus não lhes deu uma aula completa, desvendando-lhes todos os segredos do Universo. Eles deveriam aprender aos poucos: “Enquanto permanecessem fiéis à lei divina, sua capacidade para saber, vivenciar e amar, cresceria continuamente. Estariam constantemente a adquirir novos tesouros de saber, a descobrir novas fontes de felicidade, e a obter concepções cada vez mais claras do incomensurável, infalível amor de Deus.” 2

Quando os remidos chegarem ao Céu, eles não receberão, logo no primeiro dia, uma dose maciça de informações que os coloque a par de tudo o que se passa no Universo. Eles estudarão os mistérios do Universo e do amor de Deus pelos séculos infindos da eternidade. E sempre “surgirão ainda novas alturas a atingir, novas maravilhas a admirar, novas verdades a compreender, novos objetivos a aguçar as faculdades do espírito, da alma e do corpo”.3

Ora, o conhecimento é progressivo não apenas para o homem, mas para todos os seres não caídos também. Eles estão há milênios pesquisando os mistérios do Universo e do amor de Deus. E estão sempre descobrindo e aprendendo coisas novas. E assim continuarão por toda a eternidade.

Assim sendo, Deus, em determinado momento da eternidade, criou os anjos e revelou-lhes de início apenas o que eles precisavam saber para desenvolverem o seu trabalho no Céu. Deu um nome a cada um, indicou a sua atribuição, e estabeleceu algumas regras básicas.

A vida transcorria serena, harmoniosa e feliz no lar celestial. Não sabemos quanto tempo durou essa paz. O fato é que um dia, Lúcifer, o primeiro dos querubins cobridores, e o mais elevado em poder e glória dentre os habitantes do Céu, “invejou a Cristo, e gradualmente pretendeu o comando que pertencia unicamente a Cristo”.4

Como poderia ter acontecido isto? Sendo Lúcifer de uma inteligência extraordinária, como pôde ele cometer o incrível erro de se comparar com Cristo, a ponto de considerá-Lo um rival, e a ponto de achar que teria competência para ocupar a Sua posição? Será que ele não sabia que era um ser criado? Não tinha ele conhecimento da infinita distância que há entre o Criador e a criatura?

Uma parte da resposta está num dos aspectos mais fantásticos da natureza divina: Deus Se gloria na humildade. E Ele é humilde porque ama. Não temos dúvida quanto ao amor com que Deus nos amou. E por causa desse amor infinito, Cristo Se submeteu a uma infinita humilhação. Cristo disse: “Quem a si mesmo se exaltar será humilhado; e quem a si mesmo se humilhar será exaltado.” Mat. 23:12.

Estas palavras se cumpriram com o próprio Cristo, conforme nos diz Paulo: “Seja a atitude de vocês a mesma de Cristo Jesus, que, embora sendo Deus, não considerou que o ser igual a Deus era algo a que devia apegar-Se; mas esvaziou-Se a Si mesmo, vindo a ser servo, tornando-Se semelhante aos homens. E, sendo encontrado em forma humana, humilhou-Se a Si mesmo e foi obediente até a morte, e morte de cruz! Por isso Deus O exaltou à mais alta posição e Lhe deu o nome que está acima de todo nome.” (Filip. 2:5-9, NVI).

Após a infinita humilhação de Cristo, na cruz, Ele ressuscitou, ascendeu aos Céus, e recuperou toda a glória que tinha junto ao Pai antes da criação do mundo. Ele foi exaltado acima de todos. 

Na forma de anjo

Quando Lúcifer saiu a disseminar a sua rebelião entre os anjos, certamente ainda não havia compreendido que a verdadeira glória está em ser humilde, e não em exaltar-se. E esta característica divina não surgiu como uma medida de emergência para salvar o homem. Jesus não Se tornou humilde por causa do surgimento do pecado. Ele é humilde. Haveria alguma evidência de que a humildade de Cristo não está ligada apenas à salvação do homem? Sim.

Um dia, o grande Criador convocou para uma reunião especial, do conselho divino, um dos anjos, o arcanjo Miguel, O qual deveria “trabalhar em união com Ele na projetada criação da Terra e de cada ser vivente que devia existir sobre ela”.5

Deus estava planejando criar um novo mundo e uma nova ordem de seres. Mas por que teria Ele convocado o arcanjo Miguel para discutir esses planos com Ele, e não Lúcifer, “o primeiro dos querubins cobridores, e o mais elevado em poder e glória dentre os habitantes do Céu”? Não fazia sentido, não tinha lógica para a mente racional de Lúcifer, que Deus o tivesse ignorado e passado por cima da sua autoridade, desrespeitando assim a hierarquia celestial que Ele próprio havia estabelecido.

Então Lúcifer, considerando essa atitude da parte de Deus uma “usurpação dos seus direitos”6, encheu-se de ciúme e saiu a disseminar o seu descontentamento por entre os demais habitantes celestiais, procurando demonstrar que Deus não era justo. Os seus argumentos pareceram tão lógicos que ele conseguiu persuadir uma terça parte dos anjos.

O Céu agora estava dividido em anjos leais e anjos rebeldes. Estes últimos estavam dispostos a defender sua posição pela força. Nesse momento dramático, por amor aos anjos leais, Deus revelou um segredo celestial. Essa revelação não estava totalmente de acordo com o plano ideal de Deus. Mas não havia outra alternativa, em face das circunstâncias.7

Antes da grande luta, “todos deveriam ter uma apresentação clara a respeito da vontade dAquele cuja sabedoria e bondade eram a fonte de toda a sua alegria. O Rei do Universo convocou os exércitos celestiais perante Ele, para, em Sua presença, apresentar a verdadeira posição de Seu Filho, e mostrar a relação que Este mantinha para com todos os seres criados. O Filho de Deus partilhava do trono do Pai, e a glória do Ser eterno, existente por Si mesmo, rodeava a ambos. Em redor do trono reuniam-se os santos anjos, em uma multidão vasta, inumerável”.8

E aqui está o âmago da questão: os anjos não sabiam que o arcanjo Miguel, que eles tinham na conta de um companheiro, de um anjo como tantos outros, era na verdade o Criador deles, o Filho Unigênito de Deus, a segunda Pessoa da Trindade, o Verbo Divino, através do qual todas as coisas haviam sido criadas. Até aquele momento eles não sabiam que Deus era uma Trindade, e que uma das Pessoas da Trindade, a Segunda, habitava entre eles na forma de um anjo!

Evidências bíblicas

Em Gên. 32:22-32 temos o relato da luta de Jacó junto ao ribeiro de Jaboque. Ele lutou a noite inteira com alguém que lhe pareceu ser um homem. Ao alvorecer, porém, ao ser ferido na coxa, Jacó discerniu o caráter do seu antagonista. “Soube que estivera em conflito com um mensageiro celestial. ... Era Cristo, o ‘Anjo do Concerto’, que Se havia revelado a Jacó.”9

Êxodo 23:20: “Eis que Eu envio um Anjo adiante de ti, para que te guarde pelo caminho e te leve ao lugar que tenho preparado.” Comentando este texto, Ellen White diz: “Durante todas as vagueações de Israel, Cristo, na coluna de nuvem e fogo, foi o seu dirigente.”10

Malaquias 3:1: “Eis que Eu envio o Meu Mensageiro, que preparará o caminho diante de Mim; de repente, virá ao Seu templo o Senhor, a quem vós buscais, o Anjo da aliança, a quem vós desejais.” A palavra anjo significa “mensageiro”. E Cristo sempre foi o Mensageiro de Deus a Israel.

Judas 9: “Contudo, o arcanjo Miguel, quando contendia com o diabo e disputava a respeito do corpo de Moisés, não se atreveu a proferir juízo infamatório contra ele; pelo contrário, disse: O Senhor te repreenda!” Aqui também Ellen White diz: “Moisés passou pela morte, mas Cristo desceu e lhe deu vida antes que seu corpo visse a corrupção. Satanás procurou reter o corpo, pretendendo-o como seu; mas Miguel ressuscitou Moisés e levou-o ao Céu.”11

Apocalipse 12:7: “Houve peleja no Céu. Miguel e os Seus anjos pelejaram contra o dragão.” Em I Tessalonicenses 4:16 temos a declaração de que os mortos ressuscitarão quando ouvirem a “voz do arcanjo”. Em João 5:28 lemos que os mortos ressuscitarão ao ouvirem “a Sua voz”.

O nome Miguel, em hebraico, significa “quem é como Deus?”, e é ao mesmo tempo uma pergunta e um desafio. Considerando que a rebelião de Satanás era, na verdade, uma tentativa de instalar-se no trono de Deus e ser “semelhante ao Altíssimo”, o nome Miguel é muito apropriado para Cristo – o único semelhante ao Altíssimo, e que assumiu a tarefa de vindicar o caráter de Deus, refutar as acusações de Satanás e confrontar a ambição deste de ser igual a Deus.

Jesus, o eterno mediador

Os anjos ficaram assombrados com a revelação de que o arcanjo Miguel era o Filho de Deus e “alegremente reconheceram a supremacia de Cristo, e, prostrando-se diante dEle, extravasaram seu amor e adoração”.12 Mas o que estava Cristo fazendo entre eles, como anjo? Antes que o Verbo Se manifestasse na carne e habitasse entre os homens, Ele adotou a aparência de anjo e habitou entre os anjos, assumindo pela primeira vez o Seu papel de mediador.

É preciso ter em mente que não só os seres caídos, mas também os não caídos têm necessidade de um mediador entre eles e Deus, pois “há misteriosos abismos a serem atravessados, mesmo onde o pecado não perpetrou a sua obra de ruptura nas mentes criadas! Obviamente, um enorme ato de mediação é necessário, a fim de cobrir as infinitas distâncias que inevitavelmente existem entre o Criador e Suas criaturas”.13

Nem todos os seres celestiais contemplam a face de Deus, a não ser, talvez, em ocasiões especiais, como a que já foi mencionada. Nem todos estão ao redor do trono de Deus. Muitos vivem nos confins do Universo, a milhões de anos-luz de distância, e precisam, portanto, de um mediador, de alguém que represente o Criador, que lhes revele o caráter de Deus e lhes dê a conhecer a Sua vontade. Isso era certamente o que Cristo fazia entre os anjos e outros seres que nunca pecaram, e também o que veio fazer entre nós, através da encarnação.

Mas por que Deus não deixou isto tudo bem claro desde o início? Não teria Deus induzido Lúcifer em erro, ao permitir-lhe pensar que a sua autoridade estava sendo desrespeitada? Não, pois provavelmente este era o teste de lealdade, a que todos os seres celestiais foram submetidos. O princípio celestial é o do altruísmo. Portanto, quando o arcanjo Miguel foi convidado para o conselho divino, Lúcifer devia ter reagido assim: “Que bom que Ele foi honrado, e não eu.” Mas, infelizmente, Lúcifer falhou em seu teste. Ele permitiu que o egoísmo tomasse conta dele e o pusesse a perder.

E por que Lúcifer não voltou atrás quando Deus revelou a verdadeira identidade do arcanjo Miguel a todos os anjos? Diz-nos Ellen White que Lúcifer “quase chegou à decisão de voltar; mas o orgulho o impediu disto”.14 Cristo lhe deu oportunidade de voltar atrás, depois que ele se convenceu “de que não tinha razão”. Mas o orgulho o impediu!

Assim, pois, o conflito entre Cristo e Satanás foi na verdade um conflito entre o orgulho e a humildade, entre o egoísmo e o altruísmo. Lúcifer ambicionava a glória de Deus, mas não o Seu caráter. Ele foi excluído da glória suprema, porque se recusou a se humilhar, pois a glória divina envolve o humilhar-se a ponto de abandonar o trono de glória e morrer pela criatura!

E o Espírito Santo?

Nenhuma menção é feita na Bíblia e nos escritos de Ellen White sobre a obra do Espírito Santo antes da Criação. Ellen White diz apenas que “o Pai, o Filho e o Espírito Santo deram-se a Si mesmos ao estabelecerem o plano da redenção”.15 Entretanto, como sabemos pela Palavra de Deus que uma de Suas atribuições é “convencer o mundo do pecado, da justiça e do juízo” (João 16:8), podemos imaginar que durante a rebelião de Lúcifer o Espírito Santo atuou no coração e na mente dos anjos, incluindo o querubim cobridor, procurando convencê-los, “com gemidos inexprimíveis” (Rom. 8:26), de que Lúcifer estava enveredando pelo caminho do pecado e que Deus é justo.

O Espírito de Deus conseguiu convencer dois terços de anjos, mas um terço, infelizmente, não Lhe deu ouvidos. Podemos concluir, portanto, que Lúcifer e seus anjos pecaram contra o Espírito Santo e não puderam mais permanecer na santa atmosfera do Céu.

No Antigo Testamento

O Antigo Testamento dá ênfase ao fato de que há um só Deus: “Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor.” Deut. 6:4. “Assim diz o Senhor, Rei de Israel, seu Redentor, o Senhor dos Exércitos: Eu sou o primeiro e Eu sou o último, e além de Mim não há Deus.” Isaías 44:6.

Israel estava cercado por nações politeístas. Assim, a insistência do Antigo Testamento em dizer que Deus é um só tinha por objetivo combater a idéia desses deuses pagãos. Deus não queria que o Seu povo acreditasse que Ele fosse igual a esses supostos deuses, geralmente constituídos por um deus superior, masculino, sua esposa e filho e mais uma porção de deuses menores.

Por isso, Deus insistiu na Sua unidade e absoluta soberania sobre toda a Criação. Mas “embora o Antigo Testamento não ensine explicitamente que Deus é triúno, ele alude à pluralidade interna da Divindade. Por vezes Deus utiliza pronomes e verbos no plural, tais como nestas expressões: ‘Façamos o homem à nossa imagem e semelhança’ (Gên. 1:26); ‘Eis que o homem se tornou como um de nós’ (Gên. 3:22); ‘Vinde, desçamos e confundamos ali a sua linguagem’ (Gên. 11:7)16.” Com quem Deus está falando? Só pode ser com os outros membros da Divindade.

Entretanto, em Isaías 48:16 temos uma referência mais explícita à Trindade: “Agora, o Senhor Deus [o Pai] Me enviou a Mim [o Filho] e o Seu Espírito [o Espírito Santo]. A Trindade pode ser também inferida em referências separadas, em vários textos e situações. Enquanto o Pai aparece sentado em Seu trono (Isa. 6:1, Ezeq. 1:26-28, Dan. 7:9-10), Jesus é o que muitas vezes aparece em forma humana. O Senhor apareceu a Abraão, e quando este ergueu os olhos, viu três homens de pé, em frente dele (Gên. 18:1 e 2). Abraão argumentou com Ele (Gên. 18:20-32), e depois, “fez o Senhor chover enxofre e fogo, da parte do Senhor, sobre Sodoma e Gomorra” (Gên. 19:24). Jacó lutou com Ele (Gên. 32:22-30), Josué se encontrou com Ele como “Príncipe do Exército do Senhor” (Jos. 5:13-15) e os três companheiros de Daniel passearam dentro da fornalha de fogo ardente com Ele (Dan. 3:25).

No Novo Testamento

A revelação da verdade é progressiva. Assim sendo, é no Novo Testamento que vamos encontrar as melhores evidências sobre a doutrina da Trindade. Quando o anjo Gabriel foi enviado a Maria, com o anúncio de que ela daria à luz um filho, O qual deveria se chamar Jesus, ele mencionou os três membros da Trindade, dizendo: “Descerá sobre ti o Espírito Santo, e o poder do Altíssimo te envolverá com a Sua sombra; por isso, também o ente santo que há de nascer será chamado Filho de Deus.” Lucas 1:35.

Temos outra evidência notória quando Jesus foi batizado, “e o Espírito Santo desceu sobre Ele em forma corpórea como pomba; e ouviu-se uma voz do céu: Tu és o Meu Filho amado, em Ti Me comprazo” (Luc.3:22). Há várias outras referências, como em Mateus 28:19, em que os crentes deveriam ser batizados “em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo”; a bênção apostólica em II Coríntios 13:13, a saudação de Pedro em sua primeira epístola (1:2), Judas 20 e 21, e vários outros textos.

“Portanto, o Novo Testamento reconhece o Pai como Deus (João 6:27; Efés. 6:23; I Ped. 1:2), a Jesus Cristo como Deus (João 1:1 e 18; 20:28; Rom. 9:5; Col. 2:2 e 9; Tito 2:13; Heb. 1:8; I João 5:20), e ao Espírito Santo como Deus (Atos 5:3 e 4; I Cor. 2:10 e 11; I Cor. 3:16).”17

Certa vez os judeus pegaram em pedras para apedrejar a Jesus porque Ele declarou unidade com Deus (João 10:30-33). Notem que os judeus responderam dizendo: “Não é por obra boa que Te apedrejamos, e sim por causa da blasfêmia, pois, sendo Tu homem, Te fazes Deus a Ti mesmo.” Os judeus, portanto, entenderam perfeitamente as palavras de Jesus, e reagiram à sua moda.

Outros textos que provam a Divindade de Jesus no Novo Testamento, são: João 3:13; 5:21 e 26; 8:23 e 58; 10:30 e 33; 17:5; I João 5:20; Rom. 9:5; Heb. 1:8; Tito 1:3; 3:4; Col. 2:9; II Ped. 1:1.

O Espírito Santo – uma Pessoa

O Espírito Santo é mencionado na Criação da Terra, pairando sobre as águas (Gên. 1:2), habitando o coração de José (Gên. 41:38) e Josué (Núm. 27:18) e transformando Saul (I Sam. 10:6). Davi, após o seu pecado, suplicou: “Não... me retires o Teu Santo Espírito” (Sal. 51:11).18 A crença de que o Espírito Santo é apenas a “força ativa de Deus” ou uma “influência”, e não uma Pessoa, pode ser reprovada pelas seguintes evidências bíblicas:

Atos 5:3: Ananias e Safira mentiram ao Espírito Santo. Só se pode mentir a um ser inteligente, que pode ser enganado e moralmente iludido. E o verso seguinte deixa claro que o Espírito Santo é Deus.

Atos 13:1 e 2: “Disse o Espírito Santo: Separai-Me, agora, Barnabé e Saulo para a obra a que os tenho chamado”. 

Não costumamos citar palavras de seres impessoais, porque estes não falam. Aqui é o Espírito Santo que chama, o que designa uma Pessoa detentora de personalidade própria.

Enumeramos, a seguir, vinte características e qualidades pessoais do Espírito Santo:

• Tem mente e vontade. Rom. 8:27.
• É tratado pelo pronome pessoal (Ele). João 16:14, Efés. 1:14.
• Citado entre outras pessoas. Atos 15:28: “Pareceu bem ao Espírito Santo e a nós”.
• Tem conhecimento. I Cor. 2:11.
• Ensina. Luc. 12:12, João 14:26.
• Convence. João 16:8, Gên. 6:3.
• Impede. Atos 16:6 e 7.
• Concede, permite. Atos 2:4.
• Administra, distribui. I Cor. 12:11.
• Fala. Atos 10:19, 13:2, João 16:13.
• Toma decisões. I Cor. 12:11.
• Guia. João 16:13, Gál. 5:18.
• Anuncia. João 16:14 e 15.
• É entristecido. Efés. 4:30.

• Intercede. Rom. 8:26.
• Chama. Apoc. 22:17.
• Procura. I Cor. 2:10.
• Agrada-Se. Atos 15:28.
• É tentado pelo homem. Atos 5:9.
• Pode ser difamado e blasfemado. Mat. 12:31 e 32.19

Uma “força” ou “influência” não poderia ter tais características pessoais. Mas os que crêem assim argumentam dizendo: Se o Espírito Santo é uma Pessoa, como é possível que habite dentro de outra pessoa, como nos diz Paulo em I Cor. 6:19?

Ora, ninguém nega que Cristo é uma Pessoa. No entanto, o mesmo apóstolo Paulo diz, em Efésios. 3:17: “E, assim, habite Cristo no vosso coração, pela fé.” Se Cristo, sendo uma Pessoa, pode habitar em nosso coração, assim também o Espírito Santo.

No adventismo

“A compreensão da doutrina da Trindade, entre os adventistas do sétimo dia, surgiu após um longo processo de pesquisa, rejeição inicial e posterior aceitação. Os primeiros adventistas não nutriam dúvidas quanto à eternidade de Deus o Pai, à divindade de Jesus como Criador, Redentor e Mediador, e à importância do Espírito Santo. Entretanto, eles não estavam inicialmente convencidos de que Cristo existia desde os tempos da eternidade, ou que o Espírito Santo é um Ser pessoal, e por isso rejeitaram a princípio o conceito da Trindade. ... Outro argumento contrário era a interpretação errônea de que essa doutrina ensinava a existência de três deuses.”20

Foi só em 1898, com a publicação do livro O Desejado de Todas as Nações, que os adventistas compreenderam e aceitaram a doutrina da Trindade. Logo no início de seu livro Ellen White abordou o assunto da preexistência de Cristo, dizendo: “Desde os dias da eternidade o Senhor Jesus Cristo era um com o Pai.”21


Mas esta declaração não foi suficiente para esclarecer o que a Sra. White pensava sobre a divindade de Cristo. Mais adiante, no mesmo livro, ao comentar a ressurreição de Lázaro, ela escreveu uma frase que mudou a teologia antitrinatariana dos adventistas: “Em Cristo há vida original, não emprestada, não derivada.”22

Não houve tempo em que o Pai existisse e o Filho não. Como homem na Terra, Cristo submeteu Sua vontade à vontade do Pai (João 5:19 e 30). Mas como Deus existente por Si mesmo, Ele tinha poder para dar a Sua vida e poder para tornar a tomá-la (João 10:18).

Essas afirmações chocaram a liderança teológica da igreja, na época. M. L. Andreasen, um dos importantes autores e professores da Igreja, disse que o novo conceito era tão diferente dos anteriores, que alguns líderes duvidaram que Ellen White tivesse realmente escrito essas palavras. Em 1902 Andreasen fez uma viagem à residência da Sra. White, na Califórnia, para investigar esse assunto. E verificou que todas as citações sobre as quais pairavam dúvidas, haviam sido realmente escritas pelo próprio punho de Ellen White.23

Os novos conceitos providenciados pelo livro O Desejado de Todas as Nações levaram os adventistas de volta à Bíblia, e através de minuciosa pesquisa, eles descobriram grande quantidade de informações sobre a Trindade que não haviam notado antes.

Graças a isso, nós hoje temos a alegria de crer que Deus não é um Ser solitário, mas uma família, composta por Pai, Filho e Espírito Santo. Uma família feliz, que serve de modelo para todas as famílias na Terra, porque é unida pelos sagrados laços do amor.

Finalmente, poderíamos perguntar: Que importância tem a Trindade para a nossa salvação? Faz alguma diferença se eu acreditar que apenas o Pai é Deus? Essas perguntas poderiam ser substituídas pela seguinte: É importante ter uma noção correta de Deus? É óbvio que sim. Se você acreditar, por exemplo, que Deus é um tirano, cruel, que deixará os pecadores não arrependidos queimando eternamente no inferno, terá mais dificuldade para amá-Lo, não é verdade?

Assim também, quando você olha para si mesmo, pensa nas suas deficiências, e se sente inseguro quanto à salvação, a aceitação da Trindade, e especialmente do fato de que Jesus é Deus e morreu por nós, expulsa para sempre esses temores. Porque nos assegura que a salvação é obra de Deus, e não nossa.

Em outras palavras, a Trindade nos mostra que Deus não fica sentado em Seu trono enquanto manda outro, que não é Deus, para se humilhar e morrer em favor do homem. Não! O próprio Deus Se fez carne, viveu, morreu, e agora vive novamente. Enquanto Deus o Pai permaneceu em Seu trono para governar o Universo, Deus o Filho assumiu a forma humana, tendo sido gerado por Deus o Espírito Santo, O qual agora está presente em todo lugar para nosso benefício.

Isso faz com que a obra redentora de Deus seja um trabalho de equipe, o trabalho do Pai, Filho e Espírito Santo, unidos e interessados em nossa salvação. E se aceitamos a salvação gratuita que o Deus triúno oferece, somos recebidos nessa maravilhosa família; e um dia estaremos para sempre juntos.



Referências:

1 Beatrice S. Neall, “The Trinity – Heaven’s First Family”, Elder’s Digest, number 10, pág. 9.
2 Patriarcas e Profetas, pág. 51.
3 O Grande Conflito, pág. 677.
4 História da Redenção, pág. 13.
5 Idem, págs. 13 e 14.
6 Patriarcas e Profetas, pág. 40.
7 Carsten Johnssen. How Could Lucifer Conceive the Idea of a Rivalry With Jesus Christ? Andrews University (sem data), pág. 22.
8 Patriarcas e Profetas, pág. 36.
9 Idem, pág. 197.
10 Idem, pág. 311.
11 Primeiros Escritos, pág. 164.
12 Patriarcas e Profetas, pág. 36.
13 Carsten Johnssen, Op. Cit., págs. 19 e 20.
14 Patriarcas e Profetas, pág. 39.
15 Conselhos Sobre Saúde, pág. 222.
16 Nisto Cremos, pág. 41.
17 Alberto R. Timm, “A Trindade Sem Mistério”, Decisão, agosto de 1985, pág. 24.
18 Beatrice S. Neall, Op. Cit., pág. 10.
19 Arnaldo B. Christianini, Radiografia do Jeovismo, págs. 84 e 85.
20 Jerry Moon, “Heresy or Hopeful Sign?”, Adventist Review, 22/04/99, pág. 9.
21 O Desejado de Todas as Nações, pág. 19.
22 Idem, pág. 530.
23 Jerry Moon, Op. Cit., pág. 11.








Artigo retirado da revista Ministério (março/abril de 2003).

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