segunda-feira, 23 de março de 2015

O ômega da apostasia : À imagem e semelhança do alfa

Retirado do site: http://circle.adventist.org/files/unaspress/parousia20060111925.pdf

José Car los Ramos, D.Min.
Professor de Daniel e Apocalipse no Salt, Unasp, Campus Engenheiro Coelho, SP


Resumo: O presente artigo compara a atual apostasia relacionada à rejeição da doutrina bíblica da Trindade com a grave apostasia ligada ao panteísmo na Igreja Adventista ocorrida no início do século passado, à qual Ellen G. White denominou de “alfa”. Considerando que a apostasia “alfa” foi combatida com firmeza pela escritora, que anteviu, por revelação divina, que nos últimos dias surgiria um movimento dissidente semelhante, porém mais pernicioso – o “ômega” –, o autor apresenta evidências que apontam para a grande probabilidade de o atual processo de apostasia antitrinitariana ser o cumprimento daquela previsão. Além do paralelo quanto ao ataque à natureza e personalidade de Deus, o artigo também enumera 14 características marcantes, comuns a ambas as apostasias.

Abstra ct: This article compares the present apostasy related to the rejection of the biblical doctrine of the Trinity with the serious apostasy tied up to the pantheistic crisis in the Adventist Church in the beginning of last century, which was called by Ellen G. White the “alpha”. Considering that the “alpha” was strongly opposed by her, which also anticipated, by divine revelation, that at the time of end a similar dissident movement would arise, but even more malignant – the “omega” –, the author presents evidences that points out the great probability of the current process of anti-Trinitarian apostasy be the fulfillment of that prophecy. Besides providing a parallel regarding to the attacks against the nature and personality of God, the article also presents fourteen striking characteristics common to both apostasies.

Introdução

Em sua trajetória por este mundo, o povo de Deus tem enfrentado problemas de apostasia,
seja o simples ato de abjuração da fé pelos atrativos do “presente século” (2Tm 4:10), ou a conduta mais sutil de abandono da verdade por filosofias artificiosas e perversivas, incompatíveis com os conceitos bíblicos (Cl 2:8). Isto sempre foi assim. Nos tempos do Antigo Testamento, Israel frequentemente dava as costas às orientações divinas e se voltava ao culto pagão. Nessas ocasiões, Deus provia mensageiros com advertências, mas eram ignorados pelo povo, ou, então, contraditados por falsos profetas a quem o povo dava mais atenção (2Cr 36:15, 16; Jr 25:3, 4; 35:15; 44:4, 5; 5:31; 14; 13, 14, 15; 23:26-32, 36; 29:8, 9; Ez 13:10). Esta situação perdurou até que o desastre do cativeiro se tornou inevitável.

Em o Novo Testamento, o próprio Senhor Jesus preveniu seus seguidores quanto ao fascínio do pecado, que se intensificaria com a passagem do tempo e levaria muitos a abdicarem da fé (Mt 24:12). Igualmente os preveniu quanto ao aparecimento de falsos profetas que enganariam “a muitos” (v. 11, 24). A esse respeito, Paulo também foi claro:

Ora, o Espírito afirma expressamente que, nos últimos tempos, alguns apostatarão da fé, por obedecerem a espíritos enganadores e a ensinos de demônios, pela hipocrisia dos que falam mentiras, e que têm cauterizada a própria consciência (1Tm 4:1, 2).

Mais que isso, ele previu que chegaria o momento em que membros da Igreja rejeitariam a verdade por fantasias muito ao gosto deles, não faltando quem os conduzisse nessa direção:

...haverá tempo em que não suportarão a sã doutrina; pelo contrário, cercar-se-ão de mestres, segundo as suas próprias cobiças, como que sentindo coceira nos ouvidos; e se recusarão a dar ouvidos à verdade, entregando-se às fábulas (2Tm 4:3, 4).

Empenho maligno nos últimos dias

Quanto ao povo de Deus nos últimos dias, a profecia previu que ele também não estaria a salvo desses percalços. Muito ao contrário! Apocalipse 12:17 afirma que, nesse tempo, o dragão irar-se-ia contra a mulher (a igreja), e pelejaria contra “os restantes da sua descendência”, a comunidade final dos fiéis. Essa ira se manifesta de duas formas distintas mas convergentes no interesse satânico de se opor a Deus e à sua obra: a intolerância religiosa, que, cedo, se degenera em arbitrariedade, perseguição, e morte; e a controvérsia teológica tendenciosa, geradora de heresias que deturpam o ensino, maculam a verdade, confundem os sinceros, e desencaminham os incautos e despreparados. A perseguição remove da igreja apenas os de coração dobre e os hipócritas, e acaba por resultar em maior fervor e fidelidade da parte dos sinceros e fiéis, fortalecendo, inclusive, o testemunho em favor da verdade. No tempo do império romano, os próprios adversários da igreja acabavam por reconhecer que o sangue dos mártires era como semente, produzindo maior número de cristãos. Se assim foi no passado, por que não o seria em nossos dias ou no próximo futuro?

Quanto à controvérsia teológica, é bom lembrarmos que a contestação é útil quando provinda de bons motivos, tais como a exaltação do direito, a busca da verdade, etc. É, todavia, deletéria quando fruto do fanatismo e zelo sem entendimento; da mera especulação; do amor à originalidade e ineditismo visando auto-projeção; da arrogância intelectual que tenta cobrir a superficialidade de conhecimento; do orgulho da pseudo-erudição que se ostenta com ares de “único detentor da verdade”; de uma falsa ortodoxia que, a pretexto de reformar a Igreja, não vai além de criticá-la e combater sua estrutura, sua liderança e seu ministério; e do mórbido ressentimento de eternos frustrados e inconformistas, que a tudo questionam e se julgam injustiçados pela maneira como a igreja “os considera”.

O inimigo é astuto no emprego de todas estas e outras situações para provocar desvios na fé que levem à formação de movimentos colaterais, à simples defecção, ou mesmo à permanência de dissidentes no seio da igreja, para que não cessem ali os questionamentos, as críticas, as discórdias, as dúvidas, e as facções. Muito criteriosamente, ele se vale de mentes brilhantes, mas irrequietas (e como gosta de usar os que reúnem maior potencial!), que acabam discordando do parecer da Igreja em questões doutrinárias e administrativas,
gerando uma situação extrema de franca oposição.

No curso histórico do povo do advento

Desde antes de 1844, quando tudo se encaminhava para o surgimento do remanescente que restauraria as verdades lançadas por terra pelo poder apóstata (ver Dn 8:12-14), e muito mais depois dessa data, o inimigo esteve vigilante e ativo, contrafazendo, tanto fora como dentro da Igreja, fatos, assuntos e mensagens direta ou indiretamente ligados a ela, com o objetivo de obliterar a verdade e frustrar os propósitos de Deus. Uma lista não-exaustiva destas investidas contra a Igreja, em seu curso histórico, inclui o seguinte:1

1842 – movimento pré-pentecostal, com Philemon Steward liderando a seita dos tremedores. Ele ia diariamente a um monte onde, segundo o que afirmava, recebia a visita de um anjo que lhe trazia revelações consideradas dom de profecia;

1844 – movimento migratório dos Mórmons de Illinois para o estado de Utah. Nesse ano, deu-se difusão ao Livro de Mórmon, publicado em 1830 por Joseph Smith, na pretensão de espírito de profecia e com valor normativo, para eles, igual ao da Bíblia;

1846 – movimento da santificação consumada. Membros praticavam o magnetismo; caíam em êxtase, não trabalhavam e diziam estar preparados para a trasladação;

1848 – o espiritismo moderno nasce em Hydesville, Nova Iorque, no lar da família Fox, colocando em xeque a verdade bíblica da imortalidade condicional, e impondo um sistema totalmente antibíblico de salvação;

1850 – movimento dos selados na Nova Inglaterra as pessoas não poderiam pecar ainda que o quisessem;2

1853 – começa em Michigan o movimento separatista conhecido como Partido Mensageiro; pouco depois se liga à Defecção da Era Porvir de Wisconsin; de curta duração;

1855 – movimento da falsa humildade crentes rastejam como animais, mesmo nas ruas, até a igreja;

1858 – surge, também em Michigan, o partido dissidente A Esperança de Israel, logo desfeito, deixando alguns remanescentes que, em 1866, se uniram ao Partido Marion, de Iowa, formado por dois administradores da Associação local que se opuseram fortemente à organização da Igreja. O Partido Marion se tornou conhecido como Igreja de Deus (Adventista), um ramo que, em 1933, deu origem à Igreja de Deus (Sétimo Dia);

1858 e 1863 – o dom de línguas é explorado extravagantemente no leste dos Estados Unidos;

1859 – Charles Robert Darwin (1809- 1882) propõe a teoria da evolução, em franco conflito com o pensamento criacionista, colocando em xeque a verdade bíblica do sábado;

1887 – Dudley Marvin Canright abandona a Igreja, em desacordo com alguns dos ensinos dela, incluindo o do santuário. Em 1889, ele publicou Seventh-day Adventism Renounced, onde explica as razões de sua atitude e alinha argumentos contra o pensamento adventista;

1888 – o legalismo quase rechaça o tema da justificação pela fé na Assembléia de Minneápolis;

1893 – Ana Phillips, de Battle Creek, alega receber visões autênticas, mas, felizmente, logo se deixou dissuadir por um testemunho de Ellen G. White;


1900 – heresia da carne santa adotada por um grupo de Indiana – assumiam o perfeccionismo de que Cristo, na agonia do Getsêmani, fora ali revestido de carne imaculada, semelhante à de Adão antes da queda, e de que o crente deveria buscar a mesma experiência. Partidários da idéia criam que a pessoa, uma vez reavivada pelo Espírito Santo, não mais pecaria nem viria a morrer. Aqui ficava evidenciado que o perfeccionismo, manifestado desde o princípio, estaria sempre perseguindo a Igreja; mais recentemente, Robert D. Brinsmead encabeçou o movimento “chamado ao santuário”, considerado “uma versão mais refinada da heresia da carne santa”;3

1902 – o panteísmo do Dr. John Harvey Kellogg, com a adesão de Ellet J. Waggoner, um dos campeões da justificação pela fé na Assembléia de Minneápolis, alguns médicos e outros pastores. O movimento em torno do assunto começara antes defindar o século;

1905 – defecção de Albion Fox Ballenger, contrariando a doutrina do santuário celestial conforme sustentada pela Igreja, controvérsia que reapareceria mais tarde com William W. Fletcher, Louis R. Conradi, E. B. Jones, e, mais recentemente, Desmond Ford;

1914 – Primeira Grande Guerra, o problema na Alemanha um grupo se separa da Igreja, dando origem aos chamados reformistas. A Igreja Adventista do Sétimo Dia é acusada de ser Babilônia, idéia propagada desde 1893 nos Estados Unidos;

1916 – Margarida Rowen alega ser a sucessora de Ellen G. White (que falecera em 16 de julho de 1915), e cria a Reforma Adventista do Sétimo Dia Rowenita. De lá para cá, não tem faltado quem assim alegue. Mais recentemente, Jeanine Sautron, da França, impôs-se, criando o movimento do Remanescente, com representação em várias partes do mundo, inclusive no Brasil; mas o movimento feneceu tão logo a “profetisa” veio a falecer;

1929 – Victor T. Houteff, adventista de Los Angeles, cria o movimento A Vara do Pastor, especificamente objetivando uma convocação para a reforma e formação dos 144 mil. Em 1935, ele e seu grupo se transferiram para Waco, Texas, e criaram, numa fazenda local, o Centro Monte Carmelo, onde pretendiam reunir os 144 mil e prepará-los para a trasladação, não para o Céu, mas para a Palestina, onde formariam, em regime de teocracia, o novo reino de Davi. Daí coordenariam a conclusão da obra de pregação do evangelho no mundo para que Cristo pudesse retornar. Mas por ocasião da morte de Houteff em 1955, reuniam-se em Monte Carmelo apenas 125 seguidores. Finalmente, um outro ex-adventista, o texano Vernon Hoell, que passou a se identificar como David Koresh, reorganizou o movimento, agora com o nome Adventistas do Sétimo Dia – Ramo
Davidiano. O movimento, com forte sabor apocalíptico, prosseguiu até o trágico desfecho
de 19 de abril de 1993, quando mais de 90 pessoas morreram carbonizadas, pressionadas por um cerco policial que já durava vinte dias. De fato, quando pessoas se lançam numa obra para a qual Deus não as chamou, mas imaginam que precisam “reformar” a Igreja, ignorando, todavia, como Deus a tem conduzido e continuará a conduzir, é difícil prever até onde o inimigo as levará, e que triste fim as aguarda. E o pior de tudo é que o nome “adventistas do sétimo dia” estava lá, para ser veiculado negativamente nos noticiários mundiais. Tudo muito triste!

Ninguém se engane; o inimigo é astuto, e o que ele puder fazer para denegrir a imagem do povo de Deus diante do mundo, ele fará;

Década de 1980 – Tem início no seio do adventismo o movimento antitrinitário moderno, fundamentado no pressuposto de que a Igreja Adventista do Sétimo Dia apostatou por vir a crer na Trindade, e reclamando, destarte, um retorno, como alegam seus partidários, à crença dos pioneiros. Originário dos Estados Unidos, o movimento, qual onda avassaladora, praticamente se alastrou por todo o mundo.

Bem, esta é uma listagem parcial das tentativas satânicas, desde antes de 1844, de dificultar, e, se possível, obstar o avanço do povo de Deus no cumprimento da missão a ele consignada por Jesus. Mas estas artimanhas não inibiram a Igreja, que, de um pequeno grupo nos primórdios do movimento, incorpora hoje milhões empenhados num plano mundial de evangelização. Ellen G. White escreveu em 1904 em plena crise panteísta:

Somos o povo de Deus, observador dos mandamentos. Nos passados cinqüenta anos tem-se feito pressão sobre nós com toda sorte de heresias, a fim de embotar-nos o espírito em relação aos ensinos da Palavra – especialmente quanto ao ministério de Cristo no santuário celestial e à mensagem do Céu para estes últimos dias, como foi dada pelos anjos do décimo quarto capítulo do Apocalipse. Mensagens de toda espécie e feitio têm feito pressão sobre os adventistas do sétimo dia, pretendendo substituir a verdade que, ponto por ponto, tem sido buscada com estudo e oração e atestada pelo poder milagroso do Senhor. Mas os marcos que nos tornaram o que somos, devem ser preservados, e sê-lo-ão, conforme Deus o mostrou mediante sua Palavra e o testemunho de seu Espírito. Ele nos conclama a nos apegarmos firmemente, com a mão da fé, aos princípios fundamentais baseados em autoridade inquestionável.4

O inimigo continua mais ativo que nunca, “sabendo que pouco tempo lhe resta” (Ap 12:17). A serva do Senhor previu que movimentos desta natureza, que denotam o conflito entre Cristo e Satanás, continuariam até o fim, e cada vez mais intensamente. “Este conflito será levado a efeito até que a obra de salvação seja cumprida. E ele se tornará cada vez mais feroz conforme o fim se aproxima.”5 “A grande controvérsia entre o bem e o mal há de assumir proporções cada vez maiores até o seu final desenlace.”6 E quanto mais próximos do fim, “os enganos de Satanás serão mais sutis, seus assaltos mais decididos”.7

Uma das estratégias satânicas atuais é fomentar, entre os adventistas, especulações nesta ou naquela direção, bem como prosseguir com controvérsias teológicas (tal como se nota presentemente em relação à natureza e personalidade de Deus), a ver se consegue distraí-los do cumprimento de sua principal tarefa: a pregação da tríplice mensagem angélica.8

A julgar pelo tempo em que estamos vivendo, e quão próximos nos sentimos da volta de Jesus, é muito provável que tal controvérsia esteja ocorrendo em cumprimento da apostasia que Ellen G. White identificou com o emprego do termo ômega, e que, segundo ela, seguiria ao alfa. Mas para se deduzir que tal é o caso, precisamos analisar mais detidamente o alfa da apostasia.

O alfa da apostasia

Alfa e ômega são as letras primeira e última do alfabeto grego. A fórmula é usada no Apocalipse em referência ao Deus verdadeiro como sendo “o primeiro e o último, o princípio e o fim” (1:8; 22:13), um eco de Isaías 44:6 e 48:12. Deus é tanto Razão como Propósito, Autor e Consumador de todas as coisas que se cumprem na efetivação de seu glorioso plano redentor. Ele é quem conserva o inteiro curso da história nas mãos, conduzindo-a rumo ao clímax final, quando seu plano aparecerá plenamente consumado. É por isso que nada temos a temer (exceto o pecado).

À luz da profecia apocalíptica, os eventos da História se processam não na qualidade de um fluxo descolorido e sem vida de circunstâncias que tomam lugar por obra do acaso, ou, na melhor das hipóteses, em resultado da pretendida soberania humana nos assuntos do mundo. Antes de tudo, refletem “a vida de homens e nações vistas à luz daquele que é a luz de cada homem, e a vida de toda a história; e assim percebemos que somente uma pessoa viva pode ser o alfa e ômega, o ponto inicial da criação e seu descanso final.”9 Como afirma R. H. Mounce, “Alfa e Ômega representam o hebraico Aleph Tau, que foram consideradas não simplesmente como a primeira e a última letra do alfabeto, mas como incluindo todas as demais.”10

Provavelmente, Ellen G. White não conhecia este pormenor, mas Deus a orientou para que usasse a fórmula alfa e ômega para, com o primeiro termo, distinguir determinada apostasia que incorporasse as anteriores e as que viriam, até sobrevir a pior de todas, referida com o emprego do segundo termo.

Vamos nos imaginar desconhecendo Ellen G. White, bem como o que ela disse acerca do Alfa da apostasia. Observando os 20 eventos acima alistados, ocorridos no transcurso de mais de 160 anos de história da Igreja Adventista, vários dos quais deram começo a movimentos dissidentes e apóstatas, qual deles, a nosso ver, mereceria o epíteto de “alfa da apostasia”? Talvez apontássemos o de 1887, a rebelião do Pr. Canright, afinal ele escreveu um livro contendo duras críticas à Igreja e ao pensamento doutrinário desta. Poderia ser o de 1905, quando o Pr. Ballenger se levantou contra a doutrina distintiva da Igreja, o santuário celestial. Quem sabe seria o de 1914, que abriu espaço para a facção reformista que conhecemos? Melhor seria, talvez, o de 1916, quando outra facção reformista surgiu, com a diferença de que os cabeças do movimento acabaram presos, acusados de assassinato. Nesse caso, ainda mais provável seria o movimento reformista de David Koresh, que acabou em tragédia.

Nenhum desses, todavia, se enquadraria na apostasia que a serva do Senhor denominou “alfa”. Algo mais atraente, fascinante, sedutor, mais sutil (portanto, mais temerário e ameaçador), e, o pior de tudo, apresentando-se com ares de “nova luz”,11 foi por ela indicado como sendo esse tipo de apostasia: o envolvimento do Dr. John Harvey Kellogg, então líder de nossa obra médica, com o panteísmo. Por que o erro do Dr. Kellogg foi tão sério? No que consistiu a gravidade de sua nova posição? Em que aspecto a defecção do Dr. Kellogg foi tão ameaçadora aos ideais da Igreja, que ensejou a perspectiva de uma apostasia futura paralela, que ela chamou de “ômega”, e a fez tremer por nosso povo?12

Dados históricos

O alfa da apostasia envolveu, naturalmente, assuntos de ordem administrativa, mas foi especialmente no campo do pensamento teológico que ele se tornou mais preocupante. Os conceitos panteístas, propugnados por Kellogg (que já vinha dando sinais de tendências para o esote-rismo13) despojavam Deus de sua personalidade e o reduziam a simples energia que a tudo penetra; Deus se fazia presente em todas as coisas no universo e era a garantia da existência e permanência delas. Para ele, a vida era a própria essência de Deus, “não simplesmente as manifestações do seu poder, mas sua presença real.”14 Assim, qualquer ser vivo carregava Deus dentro de si.

Estes conceitos foram mais amplamente divulgados com a publicação, em 1903, de The Living Temple, obra principal de Kellogg sobre suas idéias panteístas. O “templo vivo”, que serviu de título ao livro, é o corpo humano, e é vivo porque Deus está nele a partir de uma simples célula. As colocações desta obra provocaram, naturalmente, grande agitação entre os líderes adventistas, tanto positivamente, levando alguns a saudá-las com entusiasmo e a acatarem-nas como nova luz, quanto negativamente, fazendo com que outros reagissem desfavoravelmente. Isto induziu Kellogg, não muito tempo depois, a fazer uma revisão de sua obra e alterar parte do seu conteúdo, numa tentativa de torná-la
mais aceitável. O novo título, The Miracle of Life, seria novamente mudado em 1907 para Life, Its Mysteries and Miracles a Manual of Health Principles. Com isso, Kellogg tornava efetivo e definitivo o que desde o início tinha sido sua alegação: a de que ele agia em favor dos sólidos princípios de saúde.

Ellen G. White nunca se deixou levar por suas pretensões. Por meio de trabalho pessoal, incluindo várias cartas a ele enviadas, tentou persuadi-lo do perigo de suas novas idéias, mas em vão. Foi desligado da comunhão da igreja em 10 de novembro de 1907.

Implicações teológicas

Assim colocados, não seria difícil inferiras implicações destes conceitos para a mensagem do evangelho. Se a vida do homem é a própria essência de Deus nele, então tudo o que ele tem que fazer é procurar a salvação em si mesmo. As verdades ligadas diretamente a Jesus e sua obra, tais como encarnação, expiação, ministério no santuário celestial, segunda vinda, etc, são simplesmente uma farsa, porque, afinal, o próprio pecado e o estado pecaminoso do homem são também uma farsa. A Bíblia afirma que o pecado faz separação entre Deus e o pecador (Is 59:2); mas, para o panteísmo, esta separação não existe, porque Deus está dentro do próprio homem. Jesus, então, teria vindo para salvá-lo do quê? De fato, a apostasia encabeçada por Kellogg não era mais uma entre outras; era uma que englobava as demais, pois conspirava contra a fé cristã no seu todo. “As teorias
espiritualistas acerca da personalidade de Deus, levadas à sua conclusão lógica, derribam
toda a ordem cristã.”15 Enquanto as outras apostasias haviam se voltado contra instituições de Deus (como, por exemplo, o santuário), essa era uma apostasia que se voltara contra o Deus das instituições, e, portanto, envolvia a ambos.

É interessante notar como teólogos não-adventistas, de linha conservadora, reagiram ao panteísmo e suas implicações. Para o panteísta, afirma D. S. Clark, “Deus é tudo e tudo é Deus... O universo é Deus e Deus é o universo, e o homem é a mais elevada forma existencial de Deus. Não existe Deus pessoal à parte da personalidade do homem...”16 Mas “se Deus é tudo, então todo o mal do mundo faz parte de Deus, tanto quanto o bem; e como todas as coisas surgem por uma lei de necessidade, o mal é uma necessidade. Isto faz desaparecer toda a distinção entre o bem e o mal e destrói toda a moralidade do mundo.”17 Além disso, o panteísmo “faz a personalidade proceder do que é impessoal. Se a personalidade é uma virtude ou vantagem preeminente, então o Deus do panteísmo,
do qual procedem todas as coisas, é inferior aos seres conscientes e sensíveis deste mundo.”18 E “se Deus é impessoal, não podemos amar nem orar a tal Deus, e a religião se torna uma irrealidade.” Assim “o ser absoluto do panteísmo não é absoluto de modo algum, porque é deficiente no que concerne à personalidade”.19

Para A. H. Strong, “panteísmo é esse método de pensamento que concebe o universo como o desenvolvimento de uma substância inteligente e voluntária, ainda que impessoal, a qual alcança consciência apenas no homem. O panteísmo, portanto, identifica Deus, não com cada objeto no universo, mas com a totalidade das coisas”.20 De acordo com esse autor, a “filosofia panteísta deveria adorar Satanás acima de tudo”, em vista de seu intelecto e força.21 Isto me leva a concluir que, segundo o panteísmo, Satanás, vivo, pessoal e inteligente como é, deve também conter a presença de Deus.

Para L. Berkhof, o panteísmo sustenta que “o ser de Deus é realmente a substância de todas as coisas”.22 Esse fato conspira contra a santidade de Deus, pois o torna “responsável por tudo o que acontece no mundo, tanto para o mal quanto para o bem”, e estabelece que a responsabilidade moral do homem “é fruto da imaginação, e a oração e a adoração religiosa não passam de superstição.”23

Beckwith observa que “todo panteísmo é monismo [isto é, oposto ao pensamento trinitário]”, embora “monismo envolva mais que panteísmo.”24 Champlin e Bentes confirmam esse detalhe dizendo que

o panteísmo é uma espécie de monismo, que identifica a mente e a matéria, e que pensa que a unidade é divina. E assim o finito e o infinito tornam-se uma e a mesma coisa... Concebidos como um todo, todos os seres e toda a existência é [sic] Deus.25

Segundo esses autores, para o panteísmo “a redenção tem muito mais a ver com os atos éticos dos homens, em sua natureza e em suas expressões.”26 Em outras palavras, a redenção depende do próprio homem, pois não passa de mera consecução humana. Assim o panteísmo começa por aviltar a Deus e termina por dignificar o homem.

Não foi, portanto, por mero acaso que Ellen G. White classificou a heresia sustentada por Kellogg como o alfa da apostasia, o que requereu dela uma firme tomada de posição para combater e rebater o mal. E da forma como ela a repeliu podemos detectar suas próprias características.

Catorze características

A situação criada entre os adventistas com a crise panteísta no apagar das luzes do século 19 e início do 20 ensejou uma das mais solenes advertências do Espírito de Profecia. Elas estão especialmente contidas num documento intitulado Testimonies for the Church Containing Letters to Physicians and Ministers (médicos e pastores foram os mais contagiados com a heresia, com destaque para os primeiros), referido como Special Testimonies, Series B, nº 2. Parte desse material foi reproduzido em Mensagens Escolhidas, 1:193-208. Outras advertências foram registradas no oitavo volume dos Testemunhos para a Igreja e em A Ciência do Bom Viver. Por meio de suas ponderações, podemos elaborar o perfil da heresia:

(01) Heresia letal “No livro [The] Living Temple acha-se apresentado o alfa de heresias letais.”27 Por que letal? Porque os “que continuarem a manter essas teorias espiritualistas hão de, sem dúvida, comprometer sua experiência cristã, cortar a ligação com Deus e perder a vida eterna”.28

(02) Mistura do falso com o verdadeiro Advertiu a sra. White:

Apartai-vos da influência exercida pelo livro[The] Living Temple; pois encerra ensinamentos especiosos. Há nele opiniões inteiramente verdadeiras, mas estas se acham mescladas de erro.29

O próprio Satanás foi educado nas cortes celestiais, e tem conhecimento do bem da mesma maneira que do mal. Mistura o precioso com o vil, e é isso que o habilita a enganar.30

(03) Alegação de ser uma grande verdade Ellen G. White denunciou a pretensão do engano panteísta nos seguintes termos:

Ensinamentos que estão desviando as pessoas da verdade vêm sendo apresentados como de grande valor... Muitos fatos serão apresentados que parecerão verdadeiros, e, contudo, terão que ser ponderados cuidadosamente, com muita oração; pois podem ser sutis artifícios do inimigo.31

Há muitos que... trarão suas imperfeições para dentro da igreja, e negarão a fé, adotando teorias estranhas, que promoverão como se fossem verdades.32

(04) Aparente apoio da Bíblia e do Espírito de Profecia É claro que os proponentes da heresia panteísta para, diante da Igreja Adventista do Sétimo Dia, sustentarem-na como de grande valor, teriam que se valer da Bíblia e dos escritos de Ellen G. White; assim, procuraram o apoio dos escritos inspirados.33 Quanto a isso, Ellen G. White declarou:

Os textos são tirados de seu contexto, e usados para sustentar teorias errôneas... Através de todo o livro citam-se passagens da Escritura. Essas passagens são apresentadas de modo a fazerem o erro parecer verdade... Pode haver nesse livro expressões e opiniões que estejam em harmonia com os meus escritos. E pode haver em meus escritos muitas afirmações que, tiradas do contexto, e interpretadas de acordo com o pensamento do autor de [The] Living Temple, dir-se-iam de acordo com os ensinamentos desse livro. Isso pode dar aparente apoio à asserção de que as idéias de [The] Living Temple estejam em harmonia com meus escritos. Deus não permita, porém, que prevaleça esta impressão.34

(05) Aparência de piedade Misturando a verdade com o engano, pretendendo ser uma grande verdade, e, para tanto, valendo-se da Bíblia e do Espírito de Profecia, a heresia deu o passo seguinte: ostentou-se com aparência de piedade. Esta outra pretensão, todavia, foi igualmente denunciada pelo Espírito de Profecia:

O pensamento mais triste de todos é o de que, sob a sua [de Satanás] influência, os homens terão uma forma de piedade, sem ter verdadeira ligação com Deus.”35

Como já visto, a heresia estava sendo considerada uma nova luz que pretendia confirmar o que o Deus, por meio dos testemunhos, revelara.

(06) Conceito sobre Deus à luz da razão humana O alfa da apostasia preteriu a revelação divina pela lógica da racionalidade humana. Em uma de suas cartas pessoais endereçadas a Kellogg, no empenho de ajudá-lo a ver o engano e o perigo em que estava se envolvendo, ela o advertiu:

Você tem seguido o inimigo passo a passo examinando mistérios muito altos e santos para a sua compreensão. Então, em seu ensino, o Santo tem sido rebaixado às idéias científicas e espiritualísticas do homem.36

Mais ou menos na mesma ocasião, ela apelou aos obreiros em geral:

Rogo aos que estão trabalhando para Deus que não aceitem o espúrio em lugar do genuíno. Não permitam que a razão humana seja posta onde deveria estar a verdade divina e santificadora.37


Ela também lembrou à Igreja que

a inteligência mais privilegiada pode se esforçar até o ponto de se perder em conjeturas a respeito da natureza de Deus; mas o esforço será inútil... Mente humana alguma pode compreender a Deus. O ser humano finito não deve tentar interpretar a Deus. Ninguém deve alimentar a especulação a respeito da natureza divina. Nesse assunto, o silêncio é eloqüência. O Onisciente está acima de qualquer discussão.38

(07) Pressão sobre adventistas do sétimo dia Tal como costuma acontecer com dissidentes no empenho de disseminar suas idéias, os que defendiam o panteísmo não se preocupavam em anunciar a “nova luz” àqueles no mundo necessitando de salvação. A pressão para que a heresia fosse aceita era feita sobre membros da Igreja. Ellen G. White afirmou no auge da crise panteísta:

Digo a todos: estejam de sobreaviso, pois, como anjo de luz, Satanás está percorrendo todas as reuniões de obreiros cristãos, e em cada igreja procura ganhar para seu lado os membros.39

Aqui parece claro que o inimigo se faz representar por aqueles dissidentes que instam com membros de igreja a que aceitem suas opiniões. Ela disse ainda:

Estão atualmente penetrando as instituições educativas e as igrejas por toda parte, ensinos
espiritualistas que minam a fé em Deus e em sua Palavra.40

“Ensinos espiritualistas” eram os conceitos panteístas da Divindade, conforme esposados por Kellogg (ver característica 10 abaixo).

(08) Uma agressão à personalidade de Deus

Ele [o livro The Living Temple] introduz aquilo que não passa de especulação acerca da personalidade de Deus e do lugar de sua presença... As afirmações feitas em [The] Living Temple acerca desse ponto são incorretas...41

A força potente que atua por meio de toda a natureza e sustenta todas as coisas não é, como alguns cientistas descrevem, simplesmente um princípio dominante, uma energia impulsionante. Deus é espírito; não obstante é um Ser pessoal...42

(09) Uma representação falsa de Deus e, portanto, uma desonra para Ele

A teoria de que Deus é uma essência que penetra toda a natureza é aceita por muitos que professam crer nas Escrituras; mas, se bem que revestida de belas roupagens, esta teoria é perigosíssimo engano. Ela representa falsamente a Deus e é uma desonra para sua grandeza e majestade.43

(10) “Espiritização” de Deus

Já se estão infiltrando entre nosso povo ensinos espiritistas, que enfraquecerão a fé dos que lhes derem ouvidos.

44 Médicos, tendes vós estado a fazer a obra do Mestre escutando fantasiosas interpretações espiritualistas das Escrituras, interpretações que minam os fundamentos de nossa fé, ficando quietos?... Não precisamos do misticismo que há nesse livro... As teorias espiritualistas acerca da personalidade de Deus levadas à sua conclusão lógica, derribam
toda a ordem cristã.45

(11) Fator de desagregação

Os sentimentos do inimigo estão sendo disseminados por toda a parte. Sementes de discórdia, de infidelidade, estão sendo amplamente semeadas... Enquanto as teorias extraviadoras desse livro forem entretidas por nossos médicos, não pode haver união entre eles e os ministros que estão levando a mensagem evangélica. Não deve haver união enquanto não houver mudança. Quando os missionários médicos fizerem sua prática e seu exemplo se harmonizarem com o nome que levam, quando sentirem a necessidade de se unirem firmemente com os ministros do evangelho, então poderá haver ação harmônica.”46

(12) “Amor espiritual não santificado”

Vi as conseqüências desses fantasiosos pontos de vista acerca de Deus, na apostasia, espiritualismo e amor livre. A tendência para o amor livre, que esses ensinos encerram, estava tão disfarçada que, a princípio, era difícil tornar claro o seu verdadeiro caráter.47 Até que o Senhor mo apresentou, eu não sabia como denominá-lo, mas fui instruída a chamá-lo amor espiritual não-santificado.48

Provavelmente a instrução divina aqui teve a ver com o fervor, o entusiasmo, a devoção, o interesse como os correligionários do panteísmo propugnavam a heresia,49 bem como os sentimentos carnais que a heresia pode alimentar.50

(13) Teoria em total dissonância com os ensinos de Cristo Para Ellen G. White, a revelação de Deus em Cristo era “a última palavra”, o fator decisivo, a norma para qualquer crença ou concepção.

Cristo veio revelar aos seres humanos o que Deus quer que saibam.51 Cristo falou com autoridade. Toda a verdade essencial ao conhecimento das pessoas proclamou Ele com a indubitável certeza do conhecimento. Nada proferiu de fantasioso ou sentimentalista. Não apresentou sofismas, nem opiniões humanas. Nada de contos vazios, nenhuma falsa teoria revestida de linguagem bonita brotou de seus lábios.52

O panteísmo deveria ser sumariamente rejeitado porque jamais o mínimo vestígio dele se fez presente no ensino de Jesus.

Podemos com segurança rejeitar as idéias que não se encontram em seus ensinos... Não apresentem teorias ou provas que Cristo nunca mencionou e que não têm fundamento na Bíblia.53

 (14) Inspiração pelo diabo

Idéias brilhantes, cintilantes, muitas vezes relampejam de uma mente que se acha influenciada pelo grande enganador. Os que escutam e aquiescem ficarão encantados, como ficou Eva pelas palavras da serpente. Eles não podem dar ouvidos a encantadoras especulações filosóficas, e conservar ao mesmo tempo clara na mente a palavra do Deus vivo.54

Os que semeiam enganos acerca de Deus e da natureza, os que inundam o mundo com ceticismo, são inspirados pelo inimigo caído, que é também estudante da Bíblia...”55
Naturalmente isto é verdade com respeito a qualquer ensino falso.

Razão elementar

O que teria contribuído para que a Igreja Adventista do Sétimo Dia se tornasse tão vulnerável ao panteísmo que uma apostasia tal como aquela ocorrida com Kellogg e os
que a ele se uniram, viesse a se tornar uma realidade? LeRoy Edwin Froom define-o de maneira bem objetiva:

Indubitavelmente, falta de claro e coeso pensamento quanto à Divindade em nossas primeiras décadas as três pessoas da Divindade, e, assim, da personalidade do Espírito Santo tornou mais fácil esta temporária e perigosa digressão... Havia também confusão concernente ao Espírito Santo, com o realce a tais textos como quando Cristo “assoprou” sobre seus discípulos e disse: “recebei o Espírito Santo” (Jo 20:22).56

Se a Igreja tivesse estabelecido desde o princípio o conceito trinitário de Deus como ponto doutrinário definido, efetivo, indisputável, seria mais difícil que se abrisse algum espaço para o panteísmo no seio do adventismo, pois a crença na Trindade é, reconhecidamente, o mais poderoso antídoto contra esta heresia. Na época da explosão do panteísmo em solo cristão, Nitzsch afirmou:

É a doutrina da Trindade somente que provê uma perfeita proteção contra o ateísmo, politeísmo, panteísmo e dualismo. Pois a distinção absoluta entre a essência divina e o mundo é mais segura e firmemente mantida por aqueles que adoram a Trindade, do que por aqueles que não o fazem. É precisamente aqueles sistemas de monoteísmo que, no mais alto grau, tem excluído a doutrina da Trindade, e se orgulham por conta disto o [pseudo] judaísmo e maometanismo como exemplos que têm levado ao mais deplorável panteísmo, em vista de sua esterilidade e vacuidade.57

Isto assim ocorre porque se admitimos a unicidade da essência divina sem a necessária caracterização das três pessoas, despojamos Deus de sua personalidade, já que uma simples substância é de si mesma impessoal. É o mero ser, vazio, despido, simples e abstrato. É, portanto, caminho aberto para o panteísmo.

Outros teólogos são do mesmo parecer. Diz Bloesch:

Ignorar a Trindade é terminar ou no deísmo ou no panteísmo. Pelo primeiro, Deus se torna
remoto e distante, e, pelo segundo, Ele se torna indistinguível da alma ou substância do mundo. O verdadeiro Deus não está nem totalmente fora do mundo nem está incorporado no mundo. Ele é um transcendente e vivo Senhor que se encarnou no mundo, mas que permanece essencialmente independente do mundo.58

Strong, por sua vez, adverte:

Nem a independência de Deus, nem sua benditibilidade podem ser mantidas sobre as bases da unidade absoluta. O antitrinitarianismo quase necessariamente torna a criação indispensável à perfeição de Deus, tende a uma crença na eternidade da matéria, e conduz por fim, como no maometanismo, e no moderno judaísmo e unitarianismo, ao panteísmo.59

Igualmente Aulén é bem objetivo:

...as idéias fundamentais que produziram a doutrina da Trindade pertencem às mais profundas convicções da fé cristã... Não é um acidente que a fé cristã em Deus é, ao mesmo tempo, fé em Cristo e no Espírito. Nenhuma pode ser eliminada sem destruir a fé cristã, desde que o evento de Cristo envolve a auto-realização da amorosa vontade de Deus, e o Espírito revela o imediato e contínuo trabalho de Deus. Este triplo ponto de vista expressa, portanto, a significativa e viva revelação do Deus verdadeiro, e, ao mesmo tempo, previne a fé de ser empobrecida por influências deísticas e panteísticas. Uma fé em Deus, que é, ao mesmo tempo, fé em Cristo, nunca pode se tornar panteística; e uma fé que é, ao mesmo tempo, fé no Espírito não pode se tornar deística. Todas as assim chamadas interpretações unitarianas tendem inevitavelmente a se tornar panteísticas ou deísticas e empobrecem o conteúdo e vivacidade da fé em Deus.60

Finalmente Kirn:

A doutrina [da Trindade] é uma salvaguarda contra as falsas representações deísticas da divina transcendência... Contra o panteísmo, a mais segura arma é a concepção ética estritamente pessoal, da vontade amorosa de Deus...61

Motivos Divinos

Se Ellen G. White desde o princípio foi usada por Deus como sua mensageira, então por que Ele não a moveu, ainda nos primórdios do movimento, para que instasse com a Igreja no sentido de incluir a doutrina da Trindade como um de seus artigos de fé? Não faria isso com que teorias panteístas nunca se manifestassem no seio do adventismo?

Em primeiro lugar, devemos observar que não é um corpo doutrinário devidamente sistematizado que impede a manifestação de movimentos heréticos no seio da Igreja. Fosse isso verdade e não seríamos vítimas das dissidências que hoje estão ocorrendo. Divergentes e separatistas sempre houve e sempre haverá. A primeira e maior dissidência de todas ocorreu num lugar perfeito, com o próprio Deus declarando de viva voz a sua vontade. Quando alguém resolve divergir da verdade, não se deixará convencer ainda que Deus desça pessoalmente do céu para dizer que ele está errado.

Em segundo lugar, devemos lembrar que o corpo doutrinário sustentado pelos adventistas não foi resultante de uma interferência prévia do Espírito de Profecia. Jamais Ellen G. White pretendeu ser fonte primária informativa de verdades bíblicas para formação do pensamento doutrinário da Igreja. As doutrinas estabelecidas de início emergiram mediante intenso exame das Escrituras secundado por jejum e muita oração. Quando ocorria que todos os recursos humanamente possíveis tinham sido exauridos62 sem se chegar a um consenso sobre determinado ponto, só então o Espírito de Deus atuava mais diretamente para conduzir o grupo à harmonia. “Algumas vezes passávamos a noite toda em solene investigação das Escrituras, para que pudéssemos compreender a verdade para
o nosso tempo. Em algumas ocasiões o Espírito de Deus descia sobre mim, e porções difíceis eram esclarecidas pelo modo indicado por Deus, e havia então perfeita harmonia.”63

Quando determinado assunto ficava definitivamente assentado como verdade bíblica, Ellen G. White era eventualmente movida pelo Espírito Santo no sentido de confirmá-la e exortar a Igreja ao cumprimento da mesma. Seu papel, portanto, era, nesse aspecto, mais subordinado ao consenso em torno da Palavra, ao qual se chegava como fruto de acurado estudo. Igualmente, quando ocorriam distorções64 que punham em risco a unidade da fé, como no caso dos desvios heréticos que foram surgindo, sua voz de advertência se fazia ouvir.

Tudo isto não significa, todavia, que uma vez estabelecidos esses marcos incipientes da fé, nenhuma verdade mais haveria que pudesse se tornar evidente. Em tempo algum a Igreja pretendeu ter recebido toda a revelação que Deus tinha para ela, inclusive sobre a Divindade. Ela sempre esteve aberta à contingência de uma nova luz, sempre foi receptiva às indicações divinas,65 em que pese o zelo com que assume a necessidade de avaliar qualquer nova pretensão. Disse a serva do Senhor em 1900:

Ninguém deve chegar à conclusão de que não há mais verdades a serem reveladas. O que busca a verdade com diligência e oração encontrará preciosos raios de luz que ainda hão de brilhar da Palavra de Deus. Ainda se acham dispersas muitas gemas que devem ser reunidas para tornar-se propriedade do povo remanescente, do povo de Deus.66

Essa é precisamente a razão porque a Igreja nunca estabeleceu um credo, como outras entidades religiosas o fizeram, para fixar definitivamente o que devemos crer; tudo o que temos é uma declaração de fé, susceptível de alterações quando Deus mostrar serem necessárias.

Assim, não é correto afirmar que Deus, em pouco tempo, trouxe à consciência da Igreja recém-surgida toda a verdade que ela deveria crer, viver e anunciar; e, certamente, até hoje não a temos. Os motivos por que Deus age desta ou daquela maneira estão quase sempre acima de nossa capacidade de total compreensão, mas hoje, mais de 160 anos depois do grande desapontamento, podemos perceber que Deus preferiu utilizar circunstâncias que, então, ainda viriam a ocorrer, para conduzir a Igreja à plena aceitação de duas verdades que, por esta ou aquela razão, não haviam ainda sido plenamente assimiladas: a justificação pela fé e a doutrina da Trindade, a primeira de natureza mais experiencial e praxiológica (isto é, que tem a ver com a prática ou a conduta), e a segunda de natureza mais conceitual.

Isto não significa que a Igreja deva ser caracterizada como uma entidade apóstata no período em que ainda não possuía uma conceituação mais cabal sobre a Divindade, não tendo a Trindade como um artigo específico de fé. Afinal, se ela não a admitia explicitamente, tampouco a negava em sua declaração de fé. Além do mais, apostasia se verifica somente quando ocorre abandono de uma verdade revelada e previamente aceita. Por exemplo, um ateu não é um apóstata pura e simplesmente por ser ateu; pode ser que ele sempre foi ateu, então não teria se apostatado de nada pelo fato de ser ateu. Mas no momento em que lhe foi revelado que o ateísmo é um erro e ele deixou de ser ateu, será um apóstata se, renegando sua nova convicção, voltar ao ateísmo. A dedução lógica desse fato é que o atual movimento dissidente que nega a Trindade é, este sim, um movimento
apóstata, pois reassume uma posição antiga da Igreja, anterior à subseqüente revelação de Deus a ela mediante as circunstâncias envolvidas com os eventos de 1888 e coma crise panteísta de Kellogg. A dissidência antitrinitariana é, no mínimo, um retrocesso na fé.

Não haviam ambas as doutrinas, a justificação pela fé e a Trindade, sido tema de pesquisa nos anos iniciais do movimento. A segunda provavelmente por acharem nossos pioneiros, vários deles advindos de comunidades unitarianas, que já possuíam luz suficiente sobre a Divindade e que não careciam de maior pesquisa nesse assunto; ou então por sentirem que, quanto a esse tema, havia pontos de divergência e, portanto, não deviam insistir no assunto.67 A primeira, obviamente, pela ênfase que a Igreja daria à lei de Deus nas primeiras décadas; afinal a terceira mensagem angélica reclamava a reforma do sábado, e, por esta e outras razões, a lei, com justiça, deveria ser exaltada.68

Em outras palavras, antes de 1888 a Igreja adotava uma postura mais repressora e contestadora dos erros doutrinários difundidos na cristandade. Era perita na argumentação doutrinária; os adventistas se viam como um povo chamado por Deus para ciosamente reivindicar, diante de um mundo em rebelião, o caráter santo da sua lei, e restaurar as verdades jogadas por terra pela apostasia. Evidentemente nada de errado havia nesta postura, exceto que, em seu zelo e com sua ênfase, ela se tornou um terreno fértil para o legalismo. Estava perdendo de vista o fato de que Jesus é a razão fundamental de todas as coisas, e o único meio de salvação. Aquilo que, com Ele, deveria ser uma bênção, estava, sem Ele, se tornando uma pedra de tropeço. Deus, porém, teve misericórdia de seu povo, permitindo que os eventos de 1888 e os que ocorreram em seguida despertassem- no para a necessidade de uma identificação mais profunda e significativa com a mensagem e experiência da justificação pela fé. A partir desse tempo, verificou-se
um interesse cada vez maior neste sublime tema, e em suas implicações para a fé e a vida cristã.

Na verdade, uma postura pré-1888 como essa jamais poderia ter-se verificado em detrimento da proclamação do método correto de salvação, mas foi o que infelizmente aconteceu. Nesse contexto, muitos imaginavam que “o importante, segundo a lógica, era pregar as verdades peculiarmente adventistas, para que as pessoas pudessem converter-se doutrinariamente ao adventismo do sétimo dia. Quarenta anos praticando esse tipo de evangelismo levou a uma espécie de distanciamento entre o adventismo e o cristianismo básico.”69

Quarenta anos a partir de 1844 levam à década de 1880, no final da qual ocorreu a Assembléia de Minneápolis. Como diz Knight, “o adventismo precisava de uma correção de curso em sua teologia”,70 o que tomou lugar a partir da referida assembléia. Todavia, o legalismo estava tão arraigado no adventismo, que as colocações de Alonzo T. Jones e Ellet J. Waggoner diante dos delegados, principalmente acerca do plano de redenção, encontraram forte resistência da parte de alguns veteranos, entre eles George I. Butler e Urias Smith.71 Além disso, Ellen G. White, pouco tempo depois da histórica assembléia, advertiu a Igreja neste termos:

Por aproximadamente dois anos temos estado urgindo com as pessoas para que venham e aceitem a luz e a verdade concernente à justificação de Cristo, e eles não sabem se vêm, e tomam esta preciosa verdade, ou não. Estão presos por suas próprias idéias. Não permitem ao Salvador entrar... Como um povo, temos pregado a lei até sermos tão áridos como os montes de Gilboa, que não tinham orvalho, nem chuva.72

Não é correto, todavia, supor, como fazem alguns, que a grande maioria de adventistas teria rejeitado a mensagem da justificação pela fé. Mais de um mês antes de dar o testemunho acima, Ellen G. White havia declarado:

Tenho viajado de lugar a lugar, assistindo reuniões onde a mensagem da justiça de Cristo foi pregada. Eu considerei um privilégio colocar-me ao lado de meus irmãos, e dar meu testemunho com a mensagem para o tempo; e eu vi que o poder de Deus amparou a mensagem onde ela foi falada. Você não poderia levar o povo a acreditar em South Lancaster que não era uma mensagem de luz aquela que viera a eles. As pessoas confessavam os seus pecados, e se apropriavam da justiça de Cristo.73

Note-se, então, que, paradoxalmente, houve os que relutaram em aceitar a “preciosa
mensagem”, enquanto outros prazerosamente a receberam, uma mensagem que, por implicação, destacaria a Divindade de Jesus idêntica à do Pai, e o valor decisivo do ministério divino do Espírito Santo em favor do pecador – detalhes que se ligam à segunda verdade que seria incorporada pela Igreja, a Trindade. Como George R. Knight destaca,

as discussões sobre a questão da salvação durante o período de 1888 intensificaram a conscientização de alguns adventistas sobre a necessidade de corrigir os pontos de vista denominacionais sobre a Divindade. Alguns passaram gradualmente a compreender que a posição tradicional da denominação era inadequada. Em suma, o adventismo precisava de uma concepção cristológica e pneumatológica capaz de satisfazer as exigências de sua compreensão enriquecida do plano da salvação.74

Em 1892, a Pacific Press, onde Waggoner exercia a função de editor, publicou o trabalho de um não-adventista sobre a Trindade, com o título The Bible Doctrine of the Trinity, autoria de Samuel T. Spear. Em suas considerações, Spear afirma que Jesus “é verdadeiramente divino e verdadeiraente Deus no mais absoluto sentido... e que esta distinção... não conflita com a doutrina da unidade divina como ensinada na Bíblia.” Ligando seu tema ao plano de salvação, Spear fala do “Deus tri-personal”, “trazido diante de nossos pensamentos sob os títulos pessoais de Pai, Filho e Espírito Santo”, todos “no mesmo nível de divindade”. No fechamento de suas considerações, Spear classifica seu tema, a Trindade, como “uma gloriosa doutrina”.75 Jamais Ellen G. White censurou a Pacific Press por ter publicado o estudo de Spear, tal como fizera com a Review quando publicou material contrário à fé,76 ou mesmo com a própria Pacific Press quando, uns dez anos após a publicação do trabalho de Spear, publicou matéria comercial também não condizente com o nosso pensamento.77

Dois anos antes, Ellet J. Waggoner afirmara:

Com efeito, o fato de Cristo ser parte da Divindade, possuindo todos os atributos dela, sendo igual ao Pai em todos os respeitos, como Criador e Legislador, é a única força que existe na expiação. É isto apenas que torna a redenção uma possibilidade... Mas se lhe faltasse um iota [a menor letra do alfabeto grego] em ser igual a Deus, não poderia nos conduzir a este... Em Jesus habita a plenitude da Divindade; Ele é igual ao Pai em cada atributo. Conseqüentemente, a redenção que há nele – a habilidade de resgatar o homem
perdido – é infinita.78

Contudo, Waggoner nutria a idéia de que Cristo havia sido gerado do Pai num passado tão remoto “que para a compreensão finita é praticamente sem começo”,79 posição que se harmonizava com aquela mais recente de Uriah Smith.80

Inegavelmente, tudo isso era um notável progresso em direção a um entendimento mais correto da Divindade, e um afastamento bastante significativo do unitarianismo sustentado de início pelos pioneiros que procediam de comunidades religiosas unitarianas, entre elas a Conexão Cristã, e estavam contagiados por idéias antitrinitárias.
Deus estava usando o confronto com um legalismo inconsciente que se infiltrara na Igreja, para chamá-la de volta a uma verdade eclipsada – a justificação pela fé – e, por meio desta, a uma noção mais inequívoca da Divindade, com ênfase no Espírito Santo. Knight assim coloca:

De muitas formas, a década de 1890 foi a década do Espírito Santo. Nas publicações adventistas, escritores como E. J. Waggoner, A. T. Jones, W. W. Prescott e Ellen White exaltavam o papel do Espírito no plano da salvação. Afinal, de uma perspectiva bíblica, o Espírito tem de ser forçosamente tratado teologicamente, uma vez o povo comece a pensar seriamente sobre o plano da salvação. A literatura adventista tinha mais a dizer sobre o Espírito na década de 1890 do que em qualquer outra década de seu primeiro século.81

E quanto ao detalhe questionável da cristologia de Waggoner, ficaria por conta de Ellen G. White uma corrigenda, o que ela fez com a publicação, em 1898, do seu O Desejado de Todas as Nações. Nessa obra, a autora enaltece a Jesus e o Espírito Santo de forma a contestar aqueles “saudosistas” que ainda mantinham idéias estreitas sobre a Divindade. Declarações tais como “desde os dias da eternidade, o Senhor Jesus era um com o Pai”, “em Cristo há vida original, não [tomada] emprestada, não derivada... A divindade de Cristo é a certeza de vida eterna para o crente”, e “o Espírito Santo era o maior dos dons... sem o qual o sacrifício de Cristo de nenhum proveito teria sido... Ao pecado só se poderia
resistir e vencer por meio da poderosa operação da terceira pessoa da Trindade[‘Divindade’, segundo o original], a qual viria, não com energia modificada, mas
na plenitude do divino poder. É o Espírito que torna eficaz o que foi realizado pelo Redentor do mundo”,82 eram uma “pedra no sapato” de antitrinitarianos que ainda permaneciam na Igreja.

Um deles, jovem obreiro de vinte e poucos anos, surpreendeu-se com esses “testemunhos” e chegou à conclusão (tal como dissidentes hoje imaginam que tenha ocorrido com outros escritos da serva do Senhor) de que aquelas afirmações não procediam da própria pena de Ellen G. White. Ele supunha que fossem acréscimos interpolados pelos responsáveis pela editoração e revisão, para final publicação, dos originais de O Desejado.

O jovem, no entanto, era sincero, e queria se certificar de toda a verdade. Viajou então para a Califórnia, onde ela residia, e foi visitá-la. Inquirindo sobre o assunto, foram-lhe franqueados os manuscritos da obra para que ele mesmo se certificasse, para sua surpresa e admiração, de que as ditas afirmações eram rigorosamente originais. Não seria necessário dizer que, por conta disso, Milian Lauritz Andreasen, precisamente aquele jovem, tornou-se trinitariano convicto. Uns cinqüenta anos depois daquela visita, ele viria a afirmar:

...se Cristo não é essencialmente Deus no mais alto sentido, se Ele não é auto-existente, então nós temos um salvador que não é Deus por si mesmo, alguém que deve sua vida a outro, um que teve começo e que pode, portanto, ter um fim. Assim, a obra salvífica do Filho naufraga na insignificância... Isto deprecia e degrada a Deus e a seu caráter.83

Panteísmo de Kellogg: a gota que faltava

Mais ou menos dez anos após a Sessão de Minneápolis, eclodiu em Battle Creek a heresia panteísta de Kellogg, a gota d’água que faltava. Se até ali ainda restava alguma dúvida quanto à necessidade de a Igreja possuir uma definição clara, categórica e efetiva de sua posição quanto à Divindade, defecção encabeçada pelo famoso cirurgião evidenciava que se isto não fosse feito ela teria que pagar o alto preço da perda de sua própria identidade e senso de missão.

Estaria Deus, entretanto, valendo-se de uma heresia para concitar seu povo a fazer o que deveria ser feito? Bem, isso não era absolutamente inédito, pois no passado Deus já havia procedido de forma semelhante. É reconhecido que uma heresia surgida no segundo século concorreu diretamente, entre outros benefícios, para a formação do cânon do Novo Testamento, algo sobre o que a Igreja de então não tinha ainda maiores preocupações; refiro-me ao marcionismo.

Marcion, seu expositor, afirmava em Roma que Cristo havia estabelecido uma religião nova, sem qualquer vínculo com a história de Israel. O Antigo Testamento deveria ser totalmente rejeitado pois apresentava a ação de um Deus que não somente não poderia ser o Pai de Jesus, mas, em certo sentido, era antagônico a Ele. Sendo rigorosamente justo, esse Deus impusera aos homens uma lei impossível de ser cumprida, ocasionando a queda e a degeneração da raça. Por outro lado, o Pai de Jesus, o Deus onipotente e, ao mesmo tempo, misericordioso e compassivo, enviara-o para ser o Salvador. Jesus, o Messias, não
correspondia ao Messias anunciado pelos antigos profetas. A religião de Jesus era absolutamente nova. Apenas Paulo era um apóstolo legítimo, pois fielmente preservara a religião de Cristo em sua pureza original, sem qualquer contaminação com o judaísmo. Prova disto era o aparente combate que Paulo fizera à lei (que na mentalidade do herege não havia sido aparente, mas real), e seus embates contra elementos judaizantes de seu tempo. Assim, Marcion estabeleceu o seu próprio cânon: apenas as epístolas paulinas (excetuando as pastorais) e o evangelho de Lucas eram inspirados.

Isso obrigou a Igreja a reagir. Ela combateu a heresia reafirmando sua aceitação do Antigo Testamento como Palavra de Deus, e considerando o Novo Testamento o seu complemento final e absoluto. A mensagem do evangelho deveria ser recebida em suas quatro versões, e o restante do Novo Testamento não se limitava aos escritos de Paulo. O valor do livro de Atos no combate à heresia foi logo reconhecido, e foi naturalmente inserido ao cânon. Assim também outras produções entre as que compõem hoje o Novo Testamento.

Um mal que resultou em bem, diríamos. Com efeito, não seria demais considerar qualquer heresia uma bênção disfarçada não apenas no sentido de joeirar o povo de Deus fazendo com que a palha se separe do cereal, mas também no sentido de sacudir sua apatia e prepará-lo mais eficazmente para os desafios que o esperam. Ellen G. White escreveu em 1889:

Quando não surgem novas questões em resultado de investigação das Escrituras, quando não aparecem divergências de opinião que instiguem os homens a examinar a Bíblia por si mesmos, para se certificarem que possuem a verdade, haverá muitos agora, como antigamente, que se apegarão às tradições [inclusive a dos pioneiros], cultuando nem sabem o quê... Deus despertará seu povo; se outros meios falharem, introduzir-se-ão entre eles heresias, as quais os hão de peneirar, separando a palha do trigo.84

Assim, o panteísmo de Kellogg resultou igualmente num bem, pois, como estamos vendo, a posição da Igreja quanto à Divindade acabou definida. É a partir da ocasião desta apostasia que temos os mais explícitos testemunhos do Espírito de Profecia quanto à personalidade e divindade do Espírito Santo. Algumas destas declarações com suas respectivas datas são como seguem:

1897:

O príncipe da potestade do mal só pode ser mantido em sujeição pelo poder de Deus, na terceira pessoa da Trindade [“Divindade”, no original], o Espírito Santo.85

1899:

Precisamos reconhecer que o Espírito Santo, que é tanto uma pessoa como o próprio Deus, está andando por esses terrenos.86

A Divindade moveu-se de compaixão pela raça, e o Pai, o Filho e o Espírito Santo deram-se a si mesmos ao estabelecerem o plano da redenção.87

1901:

Os eternos dignitários celestes – Deus, Cristo e o Espírito Santo – munindo-os [aos discípulos] de energia sobre-humana, ... avançariam com eles para a obra e convenceriam o mundo do pecado.88

1905:
O Consolador que Cristo prometeu enviar depois de ascender ao Céu, é o Espírito em toda a plenitude da Divindade, tornando manifesto o poder da graça divina a todos quantos recebem e crêem em Cristo como um Salvador pessoal. Há três pessoas vivas pertencentes à Trindade [“trio”, no original] celeste; em nome deste três grandes poderes – o Pai, o Filho e o Espírito Santo – os que recebem a Cristo por fé viva são batizados, e esses poderes cooperarão como os súditos obedientes do Céu em seus esforços para viver a nova vida em Cristo.89

Cumpre-nos cooperar com os três poderes mais altos no Céu – o Pai, o Filho e o Espírito
Santo – e esses poderes operarão por meio de nós, fazendo-nos coobreiros de Deus.90

1906:

O Espírito Santo é uma pessoa, pois dá testemunho com o nosso espírito de que somos filhos de Deus... O Espírito Santo tem personalidade, do contrário não poderia testificar ao nosso espírito, e com nosso espírito que somos filhos de Deus. Deve ser também [no inglês “must also be”, tem que ser também] uma pessoa divina, do contrário não poderia perscrutar os segredos que jazem ocultos na mente de Deus...91

1908:

O Espírito ia ser dado como agente de regeneração, sem o qual o sacrifício de Cristo de nenhum proveito teria sido... Ao pecado só se poderia resistir e vencer por meio da poderosa atuação da terceira pessoa da Divindade, a qual não viria com energia modificada, mas na plenitude do divino poder. É o Espírito que torna eficaz o que foi realizado pelo Redentor do mundo.92

Mais ou menos simultânea com a crise Kellogg, outra heresia exatamente oposta ao panteísmo, mas envolvendo, também, o Espírito Santo igualmente contribuiu para que a Igreja solidificasse sua posição quanto à Divindade: o “movimento pentecostalizado da carne santa”,93 difundido principalmente em Indiana. Comentando as duas heresias, Knight salienta como o grande tema de Minneápolis ainda foi o fator primordial por esta nova tomada de posição da Igreja.

Em reação a essas aberrações teológicas, houve a tentativa de esclarecer o conceito bíblico da Trindade e de outras doutrinas correlacionadas. Essas tentativas, porém, foram mais do que apenas uma reação a esses problemas da virada do século. Foram uma conseqüência natural da necessidade de ter uma compreensão mais apropriada da Divindade face à nova ênfase sobre o plano da salvação surgida em 1888.94

Fidelidade à maneira como Deus conduzira as coisas naquela assembléia mais o zelo pelo cumprimento correto da missão que recebera de Deus, motivaram a Igreja a definir em termos claros e precisos seu conceito sobre Divindade; tudo muito cristocêntrica e soterocentricamente.

Conclusão: o conhecimento da verdade é progressivo

Como visto, os marcos iniciais de fé, estabelecidos com muito estudo e oração, nunca foram considerados por Ellen G. White a expressão definitiva daquilo em que deveríamos crer; ela sempre os considerou o fundamento, o alicerce em cima do qual “temos estado a construir, nos últimos cinqüenta anos.”95 Ela disse também que, durante esse tempo, a verdade, “ponto por ponto, tem sido buscada com estudo e oração, e atestada pelo poder
milagroso do Senhor.”96 Em verdade, a Igreja nunca parou de estudar a Bíblia em busca de maior conhecimento da vontade do Senhor, como o demonstra estas duas fórmulas empregadas por Ellen G. White: “temos estado a construir” e “tem sido buscada com estudo e oração”. O original inglês registra, respectivamente “we have been building” e “has been sought out by prayerful study”.

Ambas as expressões indicam contínua investigação visando o progresso no conhecimento e compreensão da verdade, em que pese o fato de que a primeira também
envolva outras atividades da obra de Deus. Portanto, cai por terra a teoria sustentada por dissidentes de que o corpo doutrinário da Igreja foi estabelecido em seus primeiros anos, e que este fato tornaria supérflua qualquer inquirição posterior da verdade. Por exemplo, Jairo Pablo Alves de Carvalho, em seu opúsculo A Divindade (p. 41ss), alardeia que esse corpo doutrinário foi estabelecido entre 1844 e 1855, e que “não seria necessário um novo esforço para trazê-la [a temática da Divindade] novamente à luz”; para tanto, ele se vale de citações de Ellen G. White numa desesperada tentativa de encontrar respaldo à sua conclusão.

Mas o dissidente ignora que o conhecimento da verdade é progressivo, e que a própria Ellen G. White afirmou aquilo que foi visto acima, a saber, que nesses 50 anos (1854-1904) a verdade, ponto por ponto (o que, naturalmente, inclui o tema da Divindade), “tem sido buscada com estudo e oração”; ignora também como o Senhor conduziu os acontecimentos para que este progresso no conhecimento adicional da verdade e no estabelecimento (ou restabelecimento) de novos artigos de fé se efetivasse. Em plena crise panteísta ela afirmou:

Não devemos pensar [no original, “we must not think”, é imperativo que não pensemos]: “Bem, nós temos toda a verdade, nós compreendemos os pilares básicos de nossa fé [isto é, aquilo que biblicamente havia sido assentado pelos pioneiros], e podemos descansar neste conhecimento.” A verdade é progressiva, e devemos andar na luz crescente. Não devemos pretender que nas doutrinas vistas por aqueles que estudaram a palavra da verdade, não existia algum erro, pois homem vivente algum é infalível.97

Pergunto então: se é um fato que as verdades fundamentais do adventismo foram estabelecidas até 1855, o que dizer, à luz do que temos considerado, da justificação pela fé, que veio a lume 33 anos mais tarde, tema que, inclusive, estimulou a Igreja a um estudo mais acurado da Divindade? E se este magno assunto já estava plenamente estabelecido, a que devemos tributar a controvérsiapanteísta de Kellogg e a heresia da carne santa, ocorridas logo em seguida, as quais reforçaram ainda mais a necessidade de a Igreja ter uma posição bem clara, objetiva, definida sobre a Divindade, resultando numa ainda mais enfática abordagem de Ellen G. White da divindade de Jesus e da personalidade e divindade do Espírito Santo? Não estaria ela indicando que a crença na Trindade, como visto acima, é, de fato, um anteparo contra o insidioso panteísmo?

Knight informa que a nova concepção em torno da Divindade ocorreu em resultado
do empenho não de teólogos da Igreja, mas da própria Ellen G. White.

Curiosamente, não foram os teólogos de nenhum lado da controvérsia de 1888 que fizeram o adventismo recuperar o ponto de vista bíblico a respeito da Divindade, mas Ellen White. Embora ela não tenha desempenhado papel relevante na formação doutrinária das principais crenças adventistas na década de 1840 [como foi referido], na década de 1890 ela ajudou seus companheiros de igreja a compreender como suas interpretações eram inadequadas.98

Nesse caso, temos de convir que as novas conclusões a que a Igreja chegou vieram como resultado não do mero arbítrio humano, mas inteiramente do influxo divino. Utilizando sua mensageira, Deus demonstrou que esteve invisivelmente conduzindo cada situação, mesmo porque Ele nunca abandonou o seu povo. A certeza desse fato é um legado que recebemos daquela geração, o qual devemos com zelo e espírito de oração conservar, agora quando, segundo posso entender, o ômega da apostasia está afrontosamente atuando para desestabilizar a Igreja.

O ômega da Apostasia: os paralelos óbvios

Feito um levantamento do alfa da apostasia, e circunstâncias que determinaram o seu contexto, estamos em melhor condição de constatar se a presente especulação herética envolvendo a doutrina da Trindade se ajustaria àquilo que Ellen G. White chamou de ômega da apostasia. Naturalmente desde o tempo da defecção do Dr. Kellogg, o inimigo tem sido incansável no combate ao povo de Deus, vez por outra fazendo surgir aqui e ali novos movimentos heréticos. Para se confirmar esse fato, basta uma olhadela na lista de investidas satânicas contra a Igreja depois de 1902, na relação registrada no início deste estudo. 99 Mas a exemplo do que ocorrera com tais movimentos antes da crise Kellogg,
as manifestações que ocorreram depois igualmente envolveram apenas instituições divinas, como a questão do santuário, o dom de profecia e a Igreja; todos eles com exceção de um: aquele corrente em nossos dias. Este, justamente como ocorreu com a heresia panteísta de Kellogg, tem a ver igualmente com a natureza e personalidade divinas, e, portanto, não apenas se levanta contra as instituições de Deus, mas também contra o Deus das instituições.

Antes de tudo, é imperativo que demos atenção a um conselho, ou, melhor dizendo, a uma advertência dada por Ellen G. White justamente quando ela previu o surgimento do terrível ômega.

Sabia eu que devia advertir nossos irmãos e irmãs a que não entrassem em controvérsia em relação à presença e personalidade de Deus.100

Esse tipo de apostasia fê-la tremer “pelo nosso povo”,101 e aqui se tem a nítida impressão de que, em sua ansiedade, ela apelou à igreja a que não especulasse sobre a personalidade de Deus, considerando que quanto mais isso (não especular) fosse feito mais postergaria o terrível quadro. Notamos, então, que a apostasia ômega, a exemplo da alfa, tem a ver com a natureza e personalidade de Deus.

Infelizmente esse tempo chegou, pois hoje se vive nos círculos adventistas uma verdadeira controvérsia sobre a personalidade divina, naturalmente envolvendo também a questão de sua presença.102 Para se constatar essa triste realidade basta observar o que dissidentes antitri-nitários afirmam especialmente sobre o Espírito Santo,103 o qual, na linguagem de Ellen G. White, é tão pessoal e divino como o Pai.104 Desprezando um sem-número de panfletos, folhetins, volantes, etc, que são por aí distribuídos, tomo por referência os opúsculos inventados por Ricardo Nicotra e Jairo de Carvalho105 (verdadeiras cópiascarbonos de outras produções) para fazer notar que os dissidentes não têm o mínimo escrúpulo em tomar aquele a quem a revelação identifica como a inefável “terceira pessoa da Divindade”106 como simples energia, virtude, luz, sopro,107 ou qualquer coisa do tipo. Outra concepção sustentada por alguns deles é a de que, se o Espírito Santo deve ser referido em termos de personalidade, então não seria mais do que um anjo,108 ou, na melhor das hipóteses, fruto de uma fusão ou absorção de personalidade, ora conceituado como sendo o Pai, ora como sendo o Filho.109

Mai s paralelos

Estabelecido o paralelo básico da atual apostasia com a anterior (ambas envolvem a personalidade e presença de Deus), verifiquemos agora se aquelas catorze características do alfa, referidas páginas atrás, encontram uma correspondência na apostasia sobre a Trindade e o Espírito Santo, corrente em nossos dias, de forma a que se solidifique a suspeita de que esta seja, de fato, o anunciado ômega.

CARACTERÍSTICA 01: HERESIA LETAL

O alfa da apostasia era uma heresia letal porque colocava em risco a salvação daquele que a assumia. Seria a atual apostasia antitrinitariana menos letal, desmerecendo o Espírito Santo como ela faz? Leve-se em conta que é somente através dele que podemos vencer o pecado; que é apenas Ele quem aplica ao pecador os efeitos salvíficos do Calvário; que sem Ele “o sacrifício de Cristo de nenhum proveito teria sido.”110 Como diz Donald G. Bloesch, “nossa salvação foi planejada pelo Pai, executada pelo Filho, e aplicada e revelada pelo Espírito Santo. Cristianismo evangélico será para sempre solidamente trinitariano tanto quanto fundamentalmente cristocêntrico.111

Evidência contundente da atividade salvífica da terceira pessoa da Divindade é o fato de que não haverá mais disponibilidade de salvação para o impenitente depois que a porta da graça se fechar, isto é, depois que o Espírito Santo for retirado deste planeta.

CARACTERÍSTICA 02: MISTURA DO FALSO COM O VERDADEIRO

A exemplo das demais, com especial menção do alfa, a atual heresia antitrinitariana não oferece apenas enganos; basta uma lida em materiais que têm sido preparados por dissidentes para que isto seja constatado. Aí está um dos maiores fatores de perigo de qualquer heresia, e com esta não é diferente.

CARACTERÍSTICA 03: ALEGAÇÃO DE SER UMA GRANDE VERDADE

Não é precisamente isso que os dissidentes antitrinitarianos alegam? Que a Igreja apostatou por crer na Trindade e que eles realizam uma grande obra de retorno à verdade?

CARACTERÍSTICA 04: APARENTE APOIO DA BÍBLIA E DO ESPÍRITO DE PROFECIA

Aqui o ômega se aproxima consideravelmente do que Ellen G. White disse do alfa:

Os textos são tirados de seu contexto, e usados para sustentar teorias errôneas... citam-se passagens da Escritura... de modo a fazerem o erro parecer verdade...112

Como já tive oportunidade de mencionar,

o que acontecia no tempo de Ellen G. White, e que mereceu sua veemente censura, está literalmente ocorrendo hoje, pois tal como a serva do Senhor denunciou, os atuais dissidentes [antitrinitarianos] igualmente reúnem um punhado de ‘passagens bíblicas’, arbitrariamente catadas aqui e ali e, sem o mínimo respeito às mais elementares regras hermenêuticas, colocam-nas numa cadeia temática ilegítima que as obriga a afirmar aquilo que eles pretendem.”113

O mesmo é feito com testemunhos do Espírito de Profecia.

CARACTERÍSTICA 05: APARÊNCIA DE PIEDADE

Não se descarta aqui a eventualidade de haver pessoas sinceras envolvidas no ômega, pois até entre os pagãos que não conhecem o evangelho há pessoas assim; essa, portanto, não é a questão. Refirome ao fato de que, em seu empenho por “resgatar” adventistas da condição, segundo alegam, de apostasia em que se encontra a Igreja, líderes do movimento e pessoas que dele participam revelam zelo e interesse suficientes para aparentar um bom grau de piedade. Impressiona, por exemplo, os apelos que fazem a membros da Igreja para que deixem de transgredir o primeiro mandamento do decálogo adorando “um terceiro deus” (como chamam ao Espírito Santo), e abandonem o erro “enquanto é tempo”. Mas será mesmo que somos nós que temos de abandonar o erro?

Apelos nesse sentido, todavia, não têm o mínimo valor, porque os adventistas do sétimo dia não transgridem esse mandamento adorando dois ou três deuses, mas um só Deus em três pessoas distintas, conforme a Bíblia e o Espírito de Profecia revelam. Além disso, o Espírito Santo é digno de nossa reverência e culto, pois sua divindade é inquestionavelmente declarada nas Escrituras.114 Em 4 de janeiro de 1881, Ellen G. White encerrou sua mensagem de ano novo registrando as palavras do cântico trinitário que várias de nossas igrejas costumam cantar como doxologia nos cultos de sábado; aquele que precede imediatamente a “invocação”, e que dissidentes, por uma questão de coerência, não cantam. Mas a serva do Senhor cantava. Suas palavras foram: “...consagremos a Ele tudo o que somos e tudo o que temos, e, então, que todos nos unamos no cântico: ‘Praise God, from whom all blessings flow; praise him, all creatures here below; praise him above, ye heavenly host; praise Father, Son, and Holy Ghost’”,115 (correspondente, em português, ao nº 581 do Hinário Adventista do Sétimo Dia: “A Deus supremo Criador, vós, anjos e homens, dai louvor; a Deus, o Filho, a Deus, o Pai, a Deus, Espírito, glória dai”).

Ademais, não existe piedade autêntica que se faça acompanhar da sórdida atitude de demolir aquilo que Deus edificou. Piedade não combina com heresia e falso ensino. Em 1897, quando a digressão encabeçada por Kellogg começava a crescer, Ellen G. White declarou: “Abundam ao nosso redor falsas doutrinas, falsa piedade, falsa fé e muito do que é na aparência sincero. Mestres virão vestidos como anjos de luz; e, se possível, enganarão até aos escolhidos.”116

CARACTERÍSTICA 06: CONCEITO SOBRE DEUS À LUZ DA RAZÃO HUMANA

Conceitos antitrinitários tendem a explicar a Divindade à luz da razão. Seus expositores apreciam empregar o argumento simplista de que 1+1+1 é igual a 3 e nunca igual a 1; assim submetem a Divindade a uma “prova dos nove”. Mas se querem utilizar uma operação matemática para defini-la, porque não usam a multiplicação em lugar da adição? Pois 1x1x1 é igual a l.

Mas o Deus, cuja “grandeza é insondável” (Sl 145:3), não pode ser avaliado pela medida finita e elementar da criação; Ele pergunta: “...que coisa semelhante confrontareis comigo?” (Is 46:5), e declara:

...são os meus caminhos mais altos que os vossos caminhos, e os meus pensamentos mais
altos do que os vossos pensamentos (55:9).

Embora o binitarista Ricardo Nicotra denuncie os trinitários de tentarem compatibilizar “as contradições” da doutrina da Trindade por declararem-na um mistério (o que, para o dissidente, é uma grande impropriedade,117 ainda que estas contradições estejam mais na mente dele do que na doutrina propriamente), o Deus verdadeiro é mesmo um Deus misterioso (ver Is 45:15).118

O conceito trinitário é, na verdade, a melhor explicação para o aparente paradoxo entre a unidade de Deus e sua pluralidade. Em sua ação nos domínios humanos, Deus se manifesta como unidade composta, pela forma plural como é referido no Velho Testamento, e explicitamente como Pai, Filho e Espírito Santo nas páginas do Novo Testamento. É por isso que aqueles que crêem na Trindade aceitam-na como um item exclusivo da revelação, enquanto que, como assevera Bromiley, “as objeções racionalistas à Trindade naufragam por insistirem em interpretar o Criador em termos da criatura, isto é, a unidade de Deus em termos de unidade matemática... O cristão não é confundido se permanece um elemento de mistério que desafia a derradeira análise ou compreensão, porque ele é apenas homem, e Deus é Deus.”119

“Interpretar o Criador em termos da criatura” envolve também o antropomorfismo, o conceito que toma a realidade substancial do homem por modelo de Deus: como é com o primeiro, assim também deve ser com o segundo. Dessa forma, os dissidentes argumentam que se o homem tem um espírito que não é uma entidade pessoal à parte dele, assim também Deus tem um espírito que é algo inerente a Ele mesmo.120 Mas Deus continua perguntando: “A quem me comparareis para Eu lhe seja igual?” (Is 46:5).

CARACTERÍSTICA 07: PRESSÃO SOBRE ADVENTISTAS DO SÉTIMO DIA

Seria interessante fazer-se um levantamento das atividades missionárias cumpridas por grupos separatistas; por exemplo, quantas almas foram efetivamente ganhas pelos dissidentes que abandonaram a igreja por descrerem da Trindade? Certamente constatar-se-ia que eles não estão preocupados com a salvação de perdidos, exceto dos adventistas do sétimo dia que consideram perdidos por crerem na Trindade. Sem qualquer plano de evangelização, dissidentes se limitam a cirandar igrejas a ver se conseguem demover este ou aquele membro de suas convicções e atraí-lo para o lado deles.

A Bíblia afirma que Jesus voltará apenas quando o evangelho for proclamado “por todo o mundo, para testemunho a todas as nações” (Mt 24:14). Pelo que se nota, se esta tarefa for deixada sob a responsabilidade desses dissidentes, podemos nos preparar para permanecer ao menos mil anos mais neste planeta.

CARACTERÍSTICA 08: UMA AGRESSÃO À PERSONALIDADE DE DEUS

A presente apostasia agride a personalidade de Deus porque elimina uma das pessoas divinas, o Espírito Santo, para transformá-la numa abstração, ou numa criatura (primeiramente Lúcifer, então o anjo Gabriel ou qualquer outro).

Já imaginamos, uma criatura no seio da Divindade? Era isso o que Lúcifer ambicionava,
e o que o motivou a encetar sua rebelião no Céu:

Desejava participar dos conselhos e propósitos divinos, dos quais foi excluído por sua própria incapacidade, como ser criado que era, de compreender a sabedoria do Infinito Deus. Foi esse orgulho ambicioso que o levou à rebelião...121

Veja, então, que Lúcifer quis participar dos conselhos de Deus, mas não pôde, porque era uma criatura.

Pela forma como entendem o Espírito Santo, os dissidentes tornam a Deus um incoerente. Carvalho, por exemplo, afirma que o Espírito Santo e Gabriel são o mesmo ser.122 A Bíblia mostra que o Espírito Santo participa dos conselhos de Deus, afirmando que Ele “a todas as coisas perscruta, até mesmo as profundezas de Deus” (1Co 2:10,11). Mas se Ele e Gabriel são o mesmo ser, por que, então, Lúcifer não pôde participar desses conselhos por ser uma criatura, enquanto que Gabriel, também uma criatura, participa? Faz Deus acepção de pessoas (nesse caso, acepção de anjos)? Usa Ele de parcialidade? Tem os seus preferidos? Proíbe algo para um enquanto permite para outro? É difícil não concluir que, para esses antitrinitanos, Deus não tem critério; o que nega para um, faculta
para outro. Esse, todavia, não é o Deus que se revela na Bíblia, pois o Espírito Santo, segundo ela, não é um mero anjo, ainda que Gabriel.123

Outra agressão à personalidade de Deus imposta pela apostasia antitrinitariana é a forma atípica e artificial como esse mesmo dissidente traduz e interpreta o inglês “of the Godhead” empregado por Ellen G. White em alusão ao Espírito Santo como terceira pessoa da Divindade.124

Carvalho traduz essa expressão por “a partir da Divindade”,125 e não “da Divindade” como seria o correto,126 obrigando Ellen G. White a concordar com os conceitos antitrinitarianos dele: o Espírito Santo não é a terceira pessoa da Divindade, mas uma terceira pessoa a partir dEla! É o caso de se perguntar ao dissidente: se ela quisesse afirmar que o Espírito Santo é a terceira pessoa da Divindade, como teria escrito?



O fato é que Ellen G. White admitia três pessoas na Divindade, O Pai, o Filho e o Espírito Santo, enquanto o dissidente, tomando a Divindade como ponto de partida, coloca o Espírito Santo em terceiro lugar depois desta, cabendo respectivamente ao Pai e ao Filho o primeiro e o segundo postos. A idéia, entretanto, perpetra dois erros: o primeiro, de menor gravidade, é a violência contra o idioma inglês no tocante à estrutura e significado dos termos; o segundo, porém, implica numa aberração teológica séria. Com o seu contra-senso, o dissidente acaba provocando uma separação crítica entre a Divindade e as pessoas que a constituem. Se nesse raciocínio o Espírito Santo, como o dissidente supõe, não participa da Divindade, igualmente o Pai e o Filho também não participam, pois aquele é a terceira pessoa a partir dela, enquanto estes são a primeira e a segunda. Temos aqui, portanto, quatro entidades separadas e autônomas, a saber, uma substância impessoal (a Divindade) e três pessoas:


CARACTERÍSTICA 09: UMA REPRESENTAÇÃO FALSA DE DEUS E, PORTANTO, UMA DESONRA PARA ELE

É no que a presente apostasia antitrinitariana resulta. Ela reduz a terceira pessoa da Divindade às vezes a uma abstração e, outras, a uma criatura. Em qualquer destas duas hipóteses, Deus está sendo desonrado. Por exemplo, numa interpretação equivocada de Atos 2:33,127 Carvalho chegar ao extremo de tachar o Espírito Santo de “isto”,128 o que seria uma ofensa até para um ser humano.

CARACTERÍSTICA 10: “ESPIRITIZAÇÃO” DE DEUS

Também aqui a presente apostasia se aproxima consideravelmente do “alfa”, pois o conceito abstrato que sustentam sobre o Espírito Santo equivale ao conceito abstrato de Deus do panteísmo de Kellogg. Pode-se constatar que isso é verdade observando-se como Ellen G. White condenou as diferentes abstrações aplicadas na época ao Espírito Santo e como elas são praticamente equivalentes às que são aplicadas hoje.

Ela classificou essas abstrações de seus dias como “misticismo”129, “fantasiosas interpretações espiritualistas das Escrituras”,130 “teorias espiritualistas da personalidade de Deus”,131 “ensinos espiritistas que enfraquecerão a fé”,132 “teorias espiritistas acerca de Deus”,133 “teorias espiritualistas” que comprometem a “experiência cristã”,134 “teorias espíritas” que mereciam repreensão,135 “ensinos espiritualistas que minam a fé em Deus e em sua Palavra”,136 “espiritismo” consequente de “fantasiosos pontos de vista”,137 etc. Ela considerou todas as abstrações sobre o Espírito Santo como de cunho espiritualista ou espiritista. “São imperfeitas, inverídicas. Enfraquecem e diminuem a Majestade a que não pode ser comparada nenhuma semelhança terrena.”138 Como essas abstrações praticamente se equivalem às de hoje,139 compreendemos que a atual heresia também consegue a façanha de “espiritizar” a Deus.

CARACTERÍSTICA 11: FATOR DE DESAGREGAÇÃO

Tem a atual dissidência em torno da Trindade e da pessoa e Divindade do Espírito Santo contribuído para fortalecer a unidade da Igreja? A resposta é um categórico “não!” Ao contrário, ela tem sido causa de discórdia e divisão, e consequente enfraquecimento do corpo de Cristo. A esse respeito, e de como nos posicionar frente a tal situação, a Palavra de Deus é incisiva: “Rogo-vos, irmãos, que noteis bem aqueles que provocam divisões e escândalos, em desacordo com a doutrina que aprendestes; afastai-vos deles” (Rm 16:17).

A Igreja não pode ficar indiferente diante daqueles que semeiam dúvida e suspeita com respeito à organização, aos obreiros, e às doutrinas que sustentamos e que formam a substância e conteúdo do que cremos. Enquanto um membro guarda suas idéias divergentes para si mesmo, sem permitir que as mesmas interfiram mesmo em seu comportamento cristão, ele pode continuar em comunhão com a Igreja; mas no momento em que ele passa a pregá-las aos companheiros de fé, gerando confusão e facções, deve ser advertido, e disciplinado, caso continue com sua postura.

Infelizmente é isso o que tem acontecido com respeito a atual dissidência. Igrejas têm sido invadidas e divididas por idéias controversas; que o digam as comissões que têm cumprido o desagradável dever de dar baixa a nomes de membros queridos que antes comungavam na mesma fé; que o digam as congregações que se viram subtraídas de vários de seus membros.

E mais um ponto importantíssimo: não é raro dissidentes (sem se declararem como tal) se fazerem presentes às reuniões da igreja a fim de tomar conhecimento de algo que venha a favorecer a própria dissidência. Na época do alfa da apostasia, Ellen G. White exortou as igrejas nestes termos:

Devo advertir a todas as nossas igrejas a que se acautelem contra homens que estão sendo
enviados para fazer a obra de espiões em nossas associações e igrejas – uma obra instigada pelo pai da mentira e do engano.140

Portanto, cuidado com eles!

CARACTERÍSTICA 12: AMOR ESPIRITUAL NÃO-SANTIFICADO

O fervor, o entusiasmo, a devoção, o interesse, a dedicação, o empenho com os quais os propugnadores de um falso ensino se devotam à disseminação do mesmo indicam uma qualidade de amor espiritual não-santificado, por se expressar em favor de uma causa equivocada. Também os não-cristãos amam aquilo a que se dedicam, e alguns estariam até dispostos a disponibilizar a própria vida em favor da causa amada, fosse assim requerido. O verdadeiro amor, porém, “somente é achado no coração em que Jesus reina”,141 e tais corações jamais se levantarão contra sua causa e contra sua Igreja.

CARACTERÍSTICA 13: TOTAL DISSONÂNCIA COM OS ENSINOS DE CRISTO

Qual o conceito da Divindade apresentada por Cristo? Expressou-se Ele contrário à idéia de um Deus triúno? O que disse Ele acerca da natureza do Espírito Santo?

Aos judeus incrédulos, Jesus se apresentou como Filho de Deus e em igualdade com Ele em natureza e obras, razão porque quiseram apedrejá-lo (Jo 5:18; 10:31-33). Além disso, Cristo definiu a unidade e pluralidade de Deus com a conhecida fórmula “Eu e o Pai somos um” (10:30). Que esta pluralidade não era binitária mas trinitária, infere-se do fato de Ele identificar o Espírito Santo como “outro Consolador”, o que denota sua personalidade142 e sua natureza divina idêntica à dele mesmo.143 Finalmente, Ele confirmou o conceito trinitário de Deus ao conferir à Igreja a grande comissão evangélica, segundo a qual o batismo nas águas deveria ser ministrado “em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo”.144

CARACTERÍSTICA 14: INSPIRAÇÃO PELO DIABO

O que se deveria dizer de um movimento...

(01) que apregoa uma heresia letal?
(02) que mistura o falso com o verdadeiro?
(03) que alega ser uma grande verdade, quando oferece uma heresia?
(04) que se vale deslealmente da Bíblia e do Espírito de Profecia?
(05) que ostenta aparência de piedade ao tempo em que dissemina um engano?
(06) que impõe a lógica humana como norma de interpretação e compreensão de algo tão transcendente como a natureza e personalidade de Deus?
(07) que não se preocupa com a evangelização de um mundo perdido, mas tão somente com proselitismo entre os próprios adventistas para arrebatá-los para as suas próprias fileiras?
(08) que agride a personalidade de Deus?
(09) que oferece uma representação falsa dEle, e que lhe é, portanto, uma desonra?
(10) que resulta, com sua mensagem, na “espiritização” de Deus?
(11) que é um fator de desagregação e enfraquecimento do corpo de Cristo?
(12) que é imbuído de amor espiritual não santificado?, e
(13) que está em dissonância com o que Cristo ensinou?

Que dizer de um movimento assim, senão que é resultante do influxo diabólico? Com efeito, o alfa e o ômega da apostasia provêm de só um lugar: a mente satânica.

Conclusão

Observamos como o panteísmo do alfa da apostasia desmereceu a Deus a ponto de torná-lo inferior à própria criatura e de fazê-lo residir no próprio Satanás.145 A presente dissidência que nega a Trindade, com ênfase no demérito do Espírito Santo, não deixa por menos. O dissidente Jairo de Carvalho, ao classificar o Espírito de “isto”146 (como visto, em resultado de uma interpretação equivocada de At 2:33), rebaixa a terceira pessoa da Divindade a um plano inferior ao da criatura.147 Não sendo suficiente este ultraje, o mesmo dissidente atinge o limiar da insensatez ao identificar a mesma augusta pessoa com a glória divina para, então, afirmar pateticamente que o próprio Satanás possui o Espírito Santo.148

Assim, os antitrinitarianos da dissidência adventista se prestam decididamente a leviandades como esta. Faz algum tempo, recebi de outro dissidente um e-mail no qual ele deixou bem claro sua vil convicção envolvendo a Trindade, ao declarar: “Se o Espírito Santo é uma pessoa, então Deus Pai é um corno, porque foi o primeiro que gerou seu Filho no útero de Maria.”

Considerando esses blasfemos despropósitos149 sobre o santíssimo Deus revelado nas páginas sagradas; considerando as advertências de Ellen G. White à Igreja sobre o vindouro ômega; e, afinal, considerando o fato de que, em seu preciso paralelismo com o alfa, a presente dissidência antitrinitariana cumpre o que poderiam ser chamadas as especificações do ômega, sinto-me fortemente inclinado a crer que a referida dissidência é, com efeito, o anunciado ômega da apostasia.

A serva do Senhor tremeu ao tomar dele conhecimento, tremeu por nosso povo. E não poderia ser diferente, se levarmos em conta que o ômega se revela bem mais preocupante:

(1) em sua propagação, pois, enquantoo alfa se limitou praticamente a uma região na América e não avançou muito para além do círculo de um grupo de obreiros,150 o atual movimento, por meio dos rápidos meios de comunicação disponíveis em nossos dias (com especial alusão a sites de Internet), tem se alastrado por várias regiões do globo;

(2) em sua penetração, pois, enquanto o alfa atingiu parte da classe médica e ministerial
de Battle Creek, a presente dissidência tem contagiado diferentes camadas da força leiga da Igreja (precisamente esse potencial sem a participação do qual a obra não será concluída151), numa amplitude tal que pode penetrar em cada lar adventista no mundo, bastando para isso o acionar de alguns botões;

(3) em seus resultados devastadores, dada a maneira como a dissidência tem sido poderosa em semear dúvidas e incertezas, acabando por dividir e enfraquecer nossas congregações; e, por fim,

(4) na implicação dos conceitos alardeados. No alfa da apostasia, a natureza de Deus foi aviltada em seu todo, por uma filosofia que o reduzia a uma simples energia que permeia o mundo e que nele se integra, de tal modo a se tornar com ele uma unidade; mas se o mundo é Deus e Deus é o mundo, então sua obra a ser nele cumprida é pura ilusão. Na presente apostasia antitrinitariana, embora Deus e o mundo se mantenham distintos, a Divindade é fragmentada e, dependendo do conceito adotado pelo dissidente, reduzida a uma ou a duas pessoas, e mais uma influência, o Espírito Santo, que deverá, a exemplo do que determina o panteísmo, permear a matéria. Se no primeiro caso, a obra de Deus no mundo era ilusão, agora ela é um sonho inatingível, pois sem o Espírito Santo como pessoa divina unindo sua força ao nosso esforço, continuaremos nesse mundo indefinidamente; simplesmente porque a obra divina em nós e no mundo jamais será concluída sem Ele.152 É isso o que o inimigo mais deseja, razão pela qual ele inspira determinados elementos a questionarem mesmo a existência desse sublime ser, e confundir as mentes quanto à maneira como Ele atua.

Como o ministério do Espírito tem importância vital para a igreja de Cristo, é o decidido empenho de Satanás, por meio dessas excentricidades de gente desequilibrada e fanática, cobrir de opróbrio a obra do Espírito Santo e induzir o povo a negligenciar a fonte de virtude que Deus proveu para o seu povo.153

Graças a Deus, porém, que a onda avassaladora o ômega, a exemplo da do alfa, passará, sejam muitos ou sejam poucos os que venham a ser levados por ela. Os sinceros e fiéis entre o remanescente, porém, não serão desencaminhados.

Por entre a confusão de doutrinas enganadoras, o Espírito de Deus será um guia e um escudo aos que não têm resistido às evidências da verdade, silenciando todas as outras vozes além da que vem daquele que é a verdade.154

A obra de Deus continuará “vencendo e para vencer” (Ap 6:2), pois seu grande Comandante jamais perdeu uma batalha. A vitória final se efetivará em breve, pois a Igreja se fundamenta no triunfo da cruz, o mesmo que lhe garante todos os recursos disponíveis pelo Céu, por meio do ministério da terceira pessoa da Divindade, o Espírito Santo, impulsionando-a para as grandes conquistas que a esperam.

Este mesmo Espírito, em 1889, moveu a serva do Senhor a declarar: “Espero que os irmãos sejam fortalecidos e estabelecidos na fé. A obra certamente progredirá, quer avancemos com ela quer não. Ela será vitoriosa.”155

Avançar ou não avançar com ela, é você quem decide!



REFERÊNCIAS

1 Para adequada abordagem dos empenhos satânicos para obstar a obra de Deus entre os adventistas desde o início de sua história, ver Enoque de Oliveira, A Mão de Deus ao Leme (Santo André, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1985), 115-142.

2 Este movimento era quase uma repetição do movimento dos selados, que surgira quatro anos antes. Acerca disso, Ellen G. White comentaria mais tarde:
“Depois de 1844, tivemos que enfrentar fanatismos de todas as espécies. Foram-me dados testemunhos de repreensão, que eu deveria apresentar a alguns que mantinham teorias espíritas.

Havia os que estavam ativos em disseminaridéias falsas acerca de Deus. Foi-me dada luz de que esses homens estavam tornando sem efeito a verdade, por meio de seus falsos ensinos. Fui instruída de que estavam desviando pessoas, apresentando teorias especulativas relativamente a Deus.

Dirigi-me ao lugar onde se encontravam e apresentei-lhes a natureza de sua obra. O Senhor me deu força para lhes revelar, claramente, o seu perigo. Entre outros pontos de vista, sustentavam que os que se achassem uma vez santificados, não poderiam mais pecar. Seu ensino falso estava operando grande mal entre eles mesmos e entre outros. Estavam adquirindo influência espiritista sobre os que não viam o mal dessas teorias vestidas de lindos trajes. A doutrina de que todos eram santos levara à crença de que as afeições dos santos não levariam nunca ao mal. A consequência desta crença foi o cumprimento dos maus desejos de corações que, embora professassem ser santos, estavam longe da pureza de pensamentos e de vida.” Ellen G. White, Testemunhos para a Igreja (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2006), 8:292, 293.

3 Oliveira, A Mão de Deus ao Leme,133.

4 Ellen G. White, Mensagens Escolhidas (Santo André, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1985), 1:208.

5 Ellen G. White, Special Testimonies, Série B, nº 2, 8.

6 Ellen G. White, O Grande Conflito (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2004), 11.

7 Ibid., 13.

8 Ellen White foi suficientemente incisiva a esse respeito: “Não deve ser enfrentado [o panteísmo assumido por Kellogg] retirando nossas forças operantes do campo a fim de investigar doutrinas e pontos de divergência. Não temos tal investigação a fazer” (Mensagens Escolhidas, 1:200). “O inimigo está procurando desviar o espírito de nossos irmãos e irmãs da obra de preparar um povo que subsista nestes últimos dias. Seus enganos destinam-se a desviar a mente dos perigos e deveres do momento” (Testemunhos para a Igreja, 8: 296).

9 B. Carpenter, cit. em R. Tuck, The Preacher’s Complete Homiletic Commentary (London & New York: Funk & Wagnalls Company, s/d), 31:411.

10 R. H. Mounce, The Book of Revelation, The New International Commentary on the New Testament (Grand Rapids: Eerdmans, 1980), 73. Esta maneira de considerar as letras inicial e terminal do alfabeto hebraico como incorporando as demais coincide com o significado do nosso termo alfabeto: as duas primeiras letras gregas (alfa e beta) são reunidas para integrar as demais.

11 Cf. o que Ellen G. White afirmou em plena crise panteísta: “Ensinamentos que estão desviando as pessoas da verdade vêm sendo apresentados como de grande valor... Muitos fatos serão apresentados que parecerão verdadeiros, e, contudo, terão que ser ponderados cuidadosamente, com muita oração; pois podem ser sutis artifícios do inimigo” (White, Testemunhos para a Igreja, 8:231, 290). Os ensinamentos panteístas de Kellogg se diziam fundamentalmente bíblicos, com premissas extraídas de 1Coríntios 6:19 e passagens afins, onde o corpo humano é referido como santuário do Espírito Santo; isso é evidente a partir do título do livro onde o reconhecido médico expôs sua teoria: The Living Temple (O Templo Vivo). Portanto, não seria fácil, de início, perceber o sentido pernicioso deste ensino.

12 White, Mensagens Escolhidas, 1:202. O alfa da apostasia fez Ellen G. White também tremer: “Quando considero o estado de coisas em Battle Creek, tremo por nossos jovens que ali estão”, disse ela em 1903 (White, Testemunhos para a Igreja, 8:227).

13 Sistema filosófico que admite uma doutrina secreta, a que apenas um grupo de pessoas, os iniciados, tem acesso.

14 Cit. em LeRoy Edwin Froom, Movement of Destiny (Washington, DC: Review and Herald,1972), 353.

15 White, Mensagens Escolhidas, 1:204. Cf. White, Testemunhos para a Igreja, 8:291: “Estas teorias, seguidas até à sua conclusão lógica, derribam toda a organização [inglês economy] cristã. Removem a necessidade da expiação e fazem do homem o seu próprio salvador. Essas teorias a respeito de Deus tornam sem efeito a sua Palavra, e os que as aceitam estão em grande perigo de ser afinal levados a considerar a Bíblia toda uma obra de ficção.”

16 David S. Clark, Compêndio de Teologia Sistemática (São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1988), 90.

17 Ibid., 91. O panteísmo “torna Deus tanto bom como mau” (Norman Geisler, Christian Apologetics [Grande Rapids: Baker, 1976], 189), e o faz “responsável pelas mais abjetas impurezas que se encontram no coração humano.” (Carsten Johnsen, The Mystic “OMEGA” of End-Time Crisis [Mezien, França: The Untold Story Publishers, s/d], 84). Se esse é o caráter do Criador, a repercussão em suas criaturas será devastadora; daí a observação que Ellen G. White faz sobre panteísmo e amor livre (ver característica 13, abaixo). Ela afirma: “As teorias panteístas não são apoiadas pela Palavra de Deus. A luz de sua verdade mostra que essas doutrinas são meios destruidores de vida. As trevas são o seu elemento; a sensualidade a sua esfera. Satisfazem o coração natural, e favorecem a inclinação” (White, Testemunhos para a Igreja, 8:291). Grifos acrescentados

18 Clark, Compêndio de Teologia Sistemática, 91.Nesse ponto, o panteísmo seguramente é contraditório, pois ele não admite a personalidade de Deus por considerá-lo a suprema força no universo. Para o panteísmo, personalidade também é, “na melhor das hipóteses, um nível menor e mais inferior de Deus... Um Deus pessoal é um cidadão de segunda classe nos Céus. O absoluto como absoluto e último está além da personalidade e consciência” (Geisler, Christian Apologetics, 189).

19 Clark, Compêndio de Teologia Sistemática, 91.

20 Augustus H. Strong, Systematic Theology (Old Tappan, NJ: Fleming H. Revell, 1979), 1:100.

21 Ibid., 2:567.

22 Louis Berkhof, Systematic Theology (Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1976), 61.

23 Ibid., 139, 168. Ver também 171. Geisler observa que, no panteísmo, “tanto a comunhão como a adoração se tornam impossíveis” (Geisler, Christian Apologetics, 187).

24 Clarence Augustine Beckwith, “Pantheism”, The New Schaff-Herzog Encyclopedia of Religious Knowledge, Samuel Macauley Jackson, ed. (Grand Rapids, MI: Baker Book House, 1959), 8:328. Na realidade, o monismo é “o background metafísico do panteísmo” (Geisler, Christian Apologetics, 173).

25 Russel Norman Champlin & João Marques Bentes, “Panteísmo”, Enciclopédia de Bíblia, Teologia, e Filosofia (São Paulo: Candeia, 1991), 5:40.

26 Ibid., 41.

27 White, Mensagens Escolhidas, 1:200.

28 White, Testemunhos para a Igreja, 8:292.

29 White, Mensagens Escolhidas, 1:199.

30 White, Testemunhos para a Igreja, 8:306.

31 Ibid., 231, 290.

32 White, MS 145, 1905.

33 Em 1906, Ellen G. White comentou esse fato da seguinte forma: “Antes do desenrolar dos recentes eventos, o procedimento que o Dr. Kellogg e seus associados seguiriam foi claramente delineado perante mim. Ele e outros planejavam como ganhar a simpatia do povo [adventista]. Eles procurariam dar a impressão de que criam em todos os pontos de nossa fé, e tinham confiança nos Testemunhos. Assim muitos seriam enganados, e tomariam posição ao lado dos que se haviam apartado da fé.” Carta 328, 1906.

34 White, Mensagens Escolhidas, 1:199, 202, 203.

35 White, Testemunhos para a Igreja, 8:294.

36 Ellen G. White, Carta 253, 1903.

37 White, Testemunhos para a Igreja, 8:298.

38 Ibid., 279.

39 Ibid., 294.

40 White, A Ciência do Bom Viver (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2004), 428.

41 White, Mensagens Escolhidas, 1:202, 203.

42 White, Testemunhos para a Igreja, 8:263.

43 White, A Ciência do Bom Viver, 428. Cf. Gustaf Aulén: “O Deus do panteísmo, que penetra todas as coisas, justamente é tão inativo como o deus do deísmo que é exaltado e removido do mundo” (The Faith of the Christian Church [Philadelphia: Fortress, 1981], 125).

44 White, Testemunhos para a Igreja, 8:291.

45 White, Mensagens Escolhidas, 1:196, 202, 204.

46 Ibid., 195,199.

47 O próprio Kellogg, cabeça do movimento, não se apercebeu desse lado imoral do panteísmo. Maxwell assim o comenta: “O conceito bíblico de que o corpo do cristão é o ‘templo do Espírito Santo’ (1Coríntios 6:19) foi por ele levado a extremos numa forma de panteísmo que tornava Deus residente de modo pessoal em cada criatura vivente, nos animais, insetos e plantas, chegando mesmo a identificar a Deus com a lei da gravidade e a luz solar. Tal posição solapava a doutrina adventista fundamental de Cristo num santuário celestial, e estabelecia uma base potencial para o fanatismo e a imoralidade (com base no fato de que Deus está em mim, qualquer coisa que eu deseje fazer deve estar certa, uma conclusão a que o próprio Kellogg nunca chegou).” C. Mervyn Maxwell, História do Adventismo (Santo André, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1982), 226, 227.

48 White, Testemunhos para a Igreja, 8:292.

49 Sobre a qualidade de fervor, Ellen G. White afirmou em 1903: “Falsas teorias estarão misturadas com cada fase da experiência e serão advogadas com fervor satânico a fim de cativar a mente de toda a alma que não estiver arraigada e fundamentada no pleno conhecimento dos sagrados princípios da Palavra” (MS 94, 1903).

50 Veja acima o tópico “Implicações Teológicas”.

51 White, Testemunhos para a Igreja, 8:265.

52 Ibid., 201.

53 Ibid., 296, 300.

54 White, Mensagens Escolhidas 1:197.

55 White, Testemunhos para a Igreja, 8:292.

56 Froom, Movement of Destiny, 345, 347.

57 Karl Immanuel Nitzsch, System of Christian Doctrine (Edinburgh, E.T., 1849), 81.

58 Donald G. Bloesch, Essentials of Evangelic Theology (San Francisco: Harper & Row, 1982), 1:37.

59 Strong, Sistematic Theology, 1:347.

60 Aulén, The Faith of the Christian Church, 229.

61 Otto Kirn, “Trinity”, The New Schaff-Herzog Enciclopedia of Religious Knowledge, 12:22.

62 Ver White, Mensagens Escolhidas, 1:206. 63 Ellen G. White, Testemunhos para Ministros e Obreiros Evangélicos (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1993), 25.

64 Entre elas a tendência por marcação de novas datas por alguns pioneiros, Tiago White e José Bates como exemplos (ver George R. Knight, Em Busca de Identidade [Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2005], 83, 84).

65 Não se ignora aqui o comportamento entre líderes adventistas de se deixarem levar pela “crescente tendência”, entre 1870 e 1880, “de preservar e proteger suas concepções teológicas, em vez de continuar a progredir no conhecimento.” (Ibid., 89).Essa tendência se nota hoje entre dissidentes.

66 Ellen G. White, Conselhos Sobre Escola Sabatina (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1996), 34.

67 O espírito de fraternidade, harmonia e coesão era nutrido e mantido a todo custo por estes primeiros pesquisadores da verdade (ver White, Testemunhos para Ministros, 25).

68 Significativamente, a partir da Assembléia de 1888, Ellen G. White passaria a insistir que a pregação da justiça pela fé é “a mensagem do terceiro anjo em verdade” (“Repentance the Gift of God”, Review and Herald, 1º de abril de 1890, 193).

69 Knight, Em Busca de Identidade, 92.

70 Ibid.

71 Ibidem.

72 Ellen G. White, “Christ Prayed for Unity Among His Disciples”, Review and Herald, 11 de março de 1890, 146.

73 Ellen G. White, “The Present Message”, Review and Herald, 18 de março de 1890, 147. Ela havia pregado esse assunto em 4 de fevereiro de 1890, em Battle Creek, MI.

74 Knight, Em Busca de Identidade, 112.

75 Conforme republicado in totum em Milian Lauritz Andreasen, The Book of Hebrews (Washington, DC: Review and Herald, 1948), 115-124 (grifos acrescentados).

76 Ver especialmente o capítulo 17, “Advertência Solene”, em White, Testemunhos para Igreja, 8:90-96.

77 Ver especialmente o capítulo 30, “Trabalhos Comerciais”, em Ellen G. White, Testemunhos Para a Igreja (Tatuí, SP: Casa, 2005), 7:161-168.

78 Ellet J. Waggoner, Christ and His Righteousness (Oakland, CA: Pacific Press, 1972), 44, 63. A primeira edição desta obra data de 1890.

79 Ibid., 22. É possível que esta idéia um tanto acristológica (no sentido histórico do termo) de Waggoner tenha contribuído para que ele descambasse mais tarde para o panteísmo de Kellogg.

80 Semi-ariano como era, Uriah Smith não aceitava a plena divindade de Jesus e tampouco a personalidade e divindade do Espírito Santo. Antes, José Bates e Tiago White partilharam desse mesmo ponto de vista.

81 Knight, 115.

82 Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2004), 13, 395 e 501.

83 M. L. Andreasen, The Faith of Jesus (Washington, DC: Review and Herald, 1949), 22.

84 Ellen G. White, Testemunhos Seletos (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1985), 2:312.

85 Ellen G. White, Evangelismo (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1997), 617.

86 Ibid., 616.

87 Ellen G. White, Conselhos Sobre Saúde (Tatuí,SP: Casa Publicadora Brasileira, 1998), 222.

88 White, Evangelismo, 616.

89 Ibid., 615.

90 Ibid., 617.

91 Ibid., 616, 617.

92 Ellen G. White, “Christ’s Most Essential Gift to His Church”, Review and Herald, 19 de novembro de 1908, 16.

93 Knight, Em Busca de Identidade, 117. Vale lembrar que é crido ter o pentecostalismo moderno surgido em 1901 em Topeka, Kansas, o qual acabou, finalmente, dividido em dois grupos principais: o movimento da santidade (coincidentemente o assunto da carne santa em Indiana), e o da Trindade (envolvida pelo menos indiretamente na crise Kellogg). O segundo grupo pentecostalista adotava uma posição sabeliana, que afirmava ser Jesus, Ele unicamente, o Pai, o Filho e o Espírito Santo, e assumiam que a única forma correta de batismo era em “nome de Jesus”, desde que acompanhado de manifestação glossolálica (ver Vinson Synam, “Pentecostalismo”, Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã, Walter A. Elwell, ed. [São Paulo: Vida Nova, 1990], 131-135). A maneira como processavam o batismo, excetuando-se o falar línguas, é defendido e seguido por dissidentes adventistas antrinitarianos hoje.

94 Knight, Em Busca de Identidade, 117.

95 White, Mensagens Escolhidas, 1:207.

96 Ibid., 208.

97 Ellen G. White, “Open the Heart to Light”, Review and Herald, 25 de março de 1890, 177.

98 Knight, Em Busca de Identidade, 117.

99 Confira a listagem de eventos inserida por data no tópico “no Curso Histórico do Povo do Advento”.
100 White, Mensagens Escolhidas, 1:203. Ênfase acrescentada.

101 Ibid.

102 Que este é o caso, basta conferir a maneira exótica como Ricardo Nicotra e Jairo Pablo Alves de Carvalho fazem a exegese de João 15:26, com especial atenção voltada ao verbo grego ekporeúomai, “proceder”, só para demonstrar que o Espírito Santo tem, como seu habitat natural, o íntimo do Pai – uma dedução com cheiro de panteísmo (ver respectivamente página 35 e páginas 114, 115 dos opúsculos, relacionados na nota 105, da autoria desses dissidentes). Para uma avaliação desta interpretação, ver José C. Ramos, “Uma pessoa maravilhosa chamada Espírito Santo”, Parousia, nº. 2, ano 4, 42, 43.

103 A esse respeito, veja Ibid., 41-51.

104 White, Evangelismo, 616, 617.

105 R. Nicotra, Eu e o Pai Somos Um (São Paulo: Ministério Bíblico Cristão, 2004) e Jairo P. A. de Carvalho, A Divindade, e a maravilhosa conexão entre o céu e a terra, chamada Espírito Santo (Contenda, PR: Ministério 4 Anjos, [2003]). 106 White, O Desejado de Todas as Nações, 501.

107 Nicotra, Eu e o Pai Somos Um, 8, 9, 28; Carvalho, A Divindade, 21, 22, 44-46, 52, 74, 110, 114, 116, 117, 118, 121, 122, 124, 125, 142, 143, 159.

108 Carvalho, A Divindade, 24.

109 Nicotra, Eu e o Pai Somos Um, 8, 12, 28, 32, 33, 36; Carvalho, A Divindade, 18, 19, 20, 21, 26, 31, 32, 50, 51.

110 White, O Desejado de Todas as Nações, 501.

111 Bloesch, Essentials of Evangelic Theology, 2:239.

112 White, Mensagens Escolhidas, 1:199, 202.

113 Ramos, “Uma pessoa maravilhosa chamada Espírito Santo”, 44.

114 Ver Ibid., 48, 49.

115 Ellen G. White, “The New Year”, Review and Herald, 4 de janeiro de 1881, 5. Tradução: “Louvai a Deus de Quem todas as bênção fluem; louvai-O todas as criaturas cá embaixo; louvai-O acima, vós exército celestial; louvai ao Pai, Filho e Espírito Santo.”

116 White, Evangelismo, 364.

117 Nicotra, Eu e o Pai Somos Um, 3, 4. Este dissidente argumenta que não se pode continuar considerando um mistério aquilo que Deus já revelou. Mas o mistério que Deus achou por bem revelar é o evangelho (Rm 16:25, 26), e o que ocorre é que o dissidente simplesmente confundiu conhecimento salvífico de Deus, aquele conhecimento experiencial, espiritual que resulta em nossa salvação, com uma compreensão da personalidade e natureza divinas (exatamente do que trata o ensino da Trindade) que podemos obter na dependência exclusiva do que é exarado nas Escrituras.

118 Àqueles que tentavam sondar a realidade divina estribados no raciocínio, Ellen G. White foi bem explícita: “Tanto na divina revelação, como na natureza, Deus deixou aos homens mistérios para lhes exigir fé” (White, Testemunhos para a Igreja, 8:261; grifos acrescentados). 119 Geoffrey W. Bromiley, “Trindade”, em Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã, 3:577.

120 Nicotra, Eu e o Pai Somos Um, 8, 9, 11.

121 Ellen G. White, Testemunhos Para a Igreja (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2004), 5:702.

122 Carvalho, A Divindade, 24, 80, 132, 133, 134-137.

123 A inspiração claramente nega que o Espírito Santo é Gabriel. Este disse à Maria, anunciando a geração de Jesus em seu íntimo: “Descerá sobre ti o Espírito Santo e o poder do Altíssimo te envolverá com a sua sombra...” (Lc 1:35). Gabriel não poderia estar falando de si mesmo.

124 A fórmula aparece em White, Conselhos Sobre Saúde, 222; O Desejado de Todas as Nações, 501; Evangelismo, 617; Testemunhos para Ministros, 392; The Seventh-Day Adventist Bible Commentary (Hagerstown, MD: Review and Herald, 1980), 6:671; e My Life Today (Washington, DC: Review and Herald, 1952), 36.

125 Carvalho, A Divindade, 107, 128.

126 Ver Ramos, “Uma pessoa maravilhosa chamada Espírito Santo”, 50, nota 27, quanto ao equívoco da versão “a partir de” para “of the Godhead”. 127 Sobre o erro de interpretação do dissidente, ver Ibid., 44, 45.

128 Carvalho, A Divindade, 21.

129 White, Mensagens Escolhidas, 1:202.

130 Ibid., 196.

131 Ibid., 204.

132 Testemunhos Para a Igreja, 8:291.

133 Ibidem; A Ciência do Bom Viver, 428.

134 White, Testemunhos Para a Igreja, 8:292.

135 Ibid.

136 White, A Ciência do Bom Viver, 428.

137 White, Evangelismo, 602.

138 Ibid., 614.

139 Quanto a esta equivalência, ver Ramos, “Uma pessoa maravilhosa chamada Espírito Santo”, 44, 45.

140 White, Special Testimonies, série A, 12, 9.

141 Ellen G. White, Atos dos Apóstolos (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1999), 551.

142 Por meio do termo “Consolador”, grego parákletos, que significa etimologicamente “chamado para estar ao lado de”; o termo é masculino e se aplica à pessoa que apóia, conforta, orienta, defende, etc, o que uma abstração não faz.” (Ramos, “Uma pessoa maravilhosa chamada Espírito Santo”, 47, 48).

143 Por meio do termo “outro”, grego állos, outro da mesma espécie ou natureza, em contraste com héteros, outro de natureza diferente, como em Gálatas 1:6, héteron euangélion – “outro evangelho”, distinto daquele que Paulo pregava, e que deveria ser denominado “anátema” (v. 8, 9). Assim, a divindade de Jesus e a do Espírito Santo são idênticas. “Mas, qual a qualidade da divindade de Jesus? A Bíblia e o Espírito de Profecia não deixam por menos: Ele é tão divino quanto o Pai, e é um com Este desde toda a eternidade (Jo 1:1; 10:30). ‘Cristo era Deus em essência e no mais alto sentido. Ele esteve com Deus desde toda a eternidade...’ [Ellen G. White, ‘The Word Made Flesh,’ Review and Herald, 5 de abril de 1906, 8]. Se assim é com o primeiro Consolador [Cristo, ver 1Jo 2:1] não será diferente com o segundo. O mesmo Espírito de Profecia confirma esse fato: ‘O Consolador que Cristo prometeu enviar depois de ascender ao Céu, é o Espírito em toda a plenitude da Divindade, tornando manifesto o poder da graça divina a todos quantos recebem e crêem em Cristo como um Salvador pessoal.’ [Evangelismo, 615 (grifos acrescentados)]. ‘Toda a plenitude da divindade’ é precisamente o que Colossences 2:9 afirma residir corporalmente em Cristo. Com efeito, o Espírito Santo é o segundo Consolador, da mesmíssima natureza do primeiro” (Ramos, “Uma pessoa maravilhosa chamada Espírito Santo”, 48).

144 Quanto à autenticidade dessa fórmula registrada por Mateus em seu Evangelho, ver José Carlos Ramos, “Mateus 28:19 – falso ou autêntico?”, Revista Adventista, maio de 2005, 10, 11.

145 Ver acima o tópico “Implicações teológicas”.

146 Carvalho, A Divindade, 21.

147 Ver Ramos, “Uma pessoa maravilhosa chamada Espírito Santo”, 44.

148 Carvalho, A Divindade, 165.

149 Para outros sérios despropósitos ver o tópico “Ironia vulgar”, em Alberto R. Timm, “Hermenêutica Antitrinitariana Moderna”, nesta edição de Parousia.

150 Em que pese o ter sido propagado em várias igrejas e instituições na época (ver, acima, a sétima das 14 características que distinguem o alfa da apostasia).

151 Sem a participação da assim chamada força leiga, evidentemente em sintonia com a liderança e o corpo de obreiros, jamais a Igreja chegará a cumprir a missão que Cristo lhe confiou. “A obra de Deus na Terra nunca poderá ser finalizada enquanto os homens e mulheres que compõem nossa igreja não cerrem fileiras, e juntem seus esforços aos dos ministros e oficiais da igreja” (Ellen G. White, Serviço Cristão [Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1999], 68). O diabo sabe disso, daí seu empenho de, com o ômega, quebrar essa força indispensável aos interesses do reino de Deus na Terra.

152 “Em toda a sua divina beleza devem elas [as jóias da verdade] resplandecer nas trevas morais do mundo. Isso não pode ser realizado senão com o auxílio do Espírito Santo, mas com Ele podemos fazer todas as coisas” (Ellen G. White, Obreiros Evangélicos [Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1993], 289).

153 White, O Grande Conflito, 10. Que este texto é, de fato, da pena da serva do Senhor, embora seja extraído da introdução desta obra, é evidente do fato que nela a autora está contanto a sua própria experiência como mensageira de Deus.

154 White, Obreiros Evangélicos, 289.

155 Ellen G. White, Testemunhos Para a Igreja (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2004, 5:571.


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