quarta-feira, 25 de março de 2015

A TRINDADE: NISTO CREMOS



No Calvário, praticamente todos rejeitaram a Jesus. So­mente uns poucos reconheciam quem, realmente Ele era. Dentre estes um ladrão — igualmente sendo executado — dirigiu-se a Cristo como "Senhor" ( Luc. 23:42); e um sol­dado romano reconheceu: "Verdadeiramente este homem era Filho de Deus!" (Mar. 15:39).

Quando João, referindo-se a Jesus, escreveu: "Veio para o que era Seu, mas os Seus não O receberam" (João 1:11), suas palavras possuíam aplicação não apenas para a multidão ali reunida, e não somente para a nação israelita, mas efetivamente para todo o mundo, ao longo de todos os tempos. Exceto um pequeno punhado, todos fracassaram em reconhecê-Lo como Deus e Salvador. Este fracasso, o maior e mais trá­gico que o homem pode experimentar, mostra que o conheci­mento que a humanidade possui de Deus é radicalmente defi­ciente.

O Conhecimento de Deus

As numerosas teorias que explicam ou definem a Deus e os muitos argumentos que tentam provar ou negar a Sua exis­tência, constituem evidências de que a sabedoria humana é por si própria insuficiente para penetrar no terreno do divino. De­pender tão-somente da sabedoria humana para aprender acerca de Deus, é como utilizar uma lupa com o intuito de estudar as constelações. Portanto, para muitos a sabedoria de Deus é uma sabedoria "em mistério" (I Cor. 2:7). Para estes Deus continua sendo um mistério. A respeito dessa sabedoria divina disse Paulo que "nenhum dos poderosos deste século co­nheceu; porque se a tivessem conhecido, jamais teriam cruci­ficado o Senhor da glória" (I Cor. 2:8).

Um dos mais básicos mandamentos das Escrituras é "ama­rás a Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento" (Mat. 22:37; cf. Deut. 6:5). Não podemos amar alguém a respeito de quem nada conhecemos; por outro lado, não poderemos descobrir as coisas profundas de Deus através de investigação (Jó 11:7). Assim, de que mo­do poderemos conhecer e amar o Criador?

Deus Pode Ser Conhecido. Conhecendo a situação huma­na, Deus — em Seu amor e compaixão — procurou fazer che­gar à raça humana a Sua revelação especial, a Bíblia, que abre diante de nós as possibilidades para conhecê-Lo. Ela revela que "o cristianismo não constitui um registro da pesquisa do homem em busca de Deus; é o produto da revelação que Deus faz de Si mesmo e de Seus propósitos para o homem".1 Esta auto-revelação destina-se a cobrir o abismo cavado pelo mun­do em sua rebelião contra um Deus amorável.

Através das Escrituras Deus provê a certeza de que é pos­sível conhecê-Lo. Nela Ele manifesta Seu mais amplo amor por intermédio de Sua suprema revelação, Jesus Cristo, Seu Filho. Jesus salienta que a chave para a vida eterna se acha no conhecimento de Deus: "E a vida eterna é esta: que Te co­nheçam a Ti, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste" (João 17:3). A Bíblia também garante que a pes­soa pode conhecer a Deus e que Jesus é o caminho para seme­lhante conhecimento, ao dizer: "Também sabemos que o Fi­lho de Deus é vindo, e nos tem dado entendimento para reco­nhecermos o verdadeiro; e estamos no verdadeiro, em Seu Fi­lho Jesus Cristo. Este é o verdadeiro Deus e a vida eterna" (IJoão 5:20).

Muito boa esta notícia de que o ser humano pode conhecer a Deus. Isto significa que é possível desenvolver um relacio­namento pessoal com Ele. Ainda assim, cumpre reconhecer que é impossível obter um conhecimento completo e perfeito de Deus. As Escrituras revelam um conhecimento de Deus que é muito prático. Trata-se de um conhecimento perfeitamente adequado a quem deseja alcançar a vida eterna.

Como Obter o Conhecimento de Deus. Verdadeira com­preensão de Deus é mais um assunto do coração humano do que de seu cérebro. Envolve a pessoa como um todo, e não apenas o intelecto. Deve-se permitir ampla entrada ao Espíri­to Santo e manifestar plena disposição de aceitar a vontade de Deus (João 7:17; cf. (Mat. 11:27). Disse Jesus: "Bem-aventurados os limpos de coração, porque verão a Deus" (Mat. 5:8). Descrentes não poderão, portanto, obter genuíno conhecimento de Deus. Referindo-se à sabedoria dessas pes­soas, Paulo exclamou: "Então, o que acontece com esses sá­bios, esses eruditos, esses brilhantes comentaristas das gran­des questões mundiais? Deus fez com que todos eles pareces­sem ridículos, e mostrou que a sua sabedoria é uma tolice inú­til. Deus, em Sua sabedoria, providenciou para que o mundo nunca encontrasse a Deus através da inteligência humana. E então Ele Se manifestou e salvou todos quantos creram em Sua mensagem — essa mesma que o mundo tacha de absurda e ridícula" (I Cor. 1:20 e 21, O Novo Testamento Vivo).

O modo como adquirimos o conhecimento de Deus a partir da Bíblia, é diferente de todos os outros métodos de aquisição de conhecimento. Não podemos colocar-nos acima de Deus, tratando-O como um objeto capaz de ser analisado e quantifi­cado. Aquele que se propõe a obter conheci-mento de Deus, deve colocar-se sob a jurisdição de Sua auto-revelação — a Bíblia. Uma vez que a Bíblia interpreta a si própria, devemos sujeitar-nos aos princípios e métodos que ela provê. Sem estes parâ­metros bíblicos, não podemos conhecer a Deus.

Por que tantas pessoas dos dias de Cristo fracassaram em ver a auto-revelação de Deus em Jesus? Porque elas recusa­ram sujeitar-se à orientação do Espírito Santo através das Es­crituras, interpretando erroneamente as mensagens de Deus e crucificando o Salvador. Seu problema não era de ordem in­telectual. Foi o endurecimento de seu coração que lhes obs­cureceu a mente, resultando em perda eterna.

A Existência de Deus

As Escrituras salientam o fato de que as evidências para a existência de Deus podem ser obtidas tanto a partir da Cria­ção quanto a partir da Bíblia.

Evidências na Criação. Deus revelou Sua existência a todos os seres humanos. Ele pode ser conhecido através da Na­tureza e da experiência humana. Davi escreveu: "Os Céus pro­clamam a glória de Deus e o firmamento anuncia a obra de Suas mãos" (Sal. 19:1). João indicou que a revelação de Deus ilumina a todo aquele que a contempla (João 1:9). Paulo, a seu turno, disse que "os atributos invisíveis de Deus, assim como o Seu eterno poder como também a Sua própria divin­dade, claramente se reconhecem, desde o princípio do mun­do, sendo percebidos por meio das coisas que foram criadas" (Rom. 1:20).

Evidências no Homem. Evidências da existência de Deus podem igualmente ser ob­servadas no comportamento humano. Na prática religiosa dos atenienses que adoravam o "Deus desconhecido", Paulo per­cebeu evidências de crença em Deus. Ele disse: "Esse que ado­rais sem conhecer, é precisamente Aquele que eu vos anun­cio" (Atos 17:23). Paulo observou também revelações de Deus na consciência de não-cristãos. Sua forma de conduzir-se, dis­se o apóstolo, revela o testemunho de sua "consciência" e mos­tra que o amor de Deus se acha gravado "em seus corações" (Rom. 2:14 e 15).

Essas revelações divinas são responsáveis pela ideia intui­tiva de Deus que prevalece entre aqueles que não possuem aces­so à Bíblia.
Ao longo dos anos, a revelação geral de Deus, que se acha disponível a todas as pessoas, fez surgir considerável número de argumentos racionais em favor da existência de Deus.2

Evidências das Escrituras. A Bíblia não prova a existên­cia de Deus; ela assume que assim ocorre. O texto inicial das Escrituras declara: "No princípio criou Deus os Céus e a Ter­ra" (Gên. 1:1). Aqui Deus é descrito como Criador, Sustentador e Legislador de toda a Criação. Destaca ainda a Bíblia que a revelação divina, através da criação, é tão vigorosa que não resta margem de excusa para a descrença ou mesmo o ateís­mo. Este último resulta de uma persistente supressão da ver­dade divina ou da depravação da mente que se recusa a reco­nhecer a soberania de Deus (Sal. 14:1; Rom. 1:18-22 e 28).

As evidências da existência de Deus são suficientes para con­vencer o indivíduo honesto. Não é de surpreender que a Bíblia afirme ser a fé um pré-requisito para nos aproximarmos de Deus: "Sem fé é impossível agradar a Deus, porquanto é ne­cessário que aquele que se aproxima de Deus creia que Ele existe e que Se torna galardoador dos que O buscam" (Heb. 11:6). Embora a existência de Deus deva ser aceita pela fé, não significa isso que ela deve repousar sobre uma fé cega. Baseia-se antes em evidências razoáveis e adequadas, que podem ser encontradas em ambas as revelações de Deus — através das Escrituras e através da Natureza.

O Deus das Escrituras

A Bíblia revela de vários modos as qualidades essenciais de Deus. Consideraremos, a seguir, de que modo Deus é reve­lado através de Seus nomes, Suas atividades, e pelos atribu­tos a Ele associados pelos autores bíblicos.

Os Nomes de Deus. Os nomes desempenham importante papel nas Escrituras, o que aliás acontece ainda hoje no Oriente Próximo e no Extremo Oriente. Nesses lugares, o nome reve­la o caráter de seu possuidor, sua verdadeira natureza e iden­tidade. Portanto, o nome de Deus representa importante as­pecto na revelação de Seu caráter, natureza e qualidades, pa­ra os seres humanos.

A importância do nome de Deus pode ser observada em nu­merosos textos. O próprio Deus declara: "Não tomarás o no­me do Senhor teu Deus em vão" (Êxo. 20:7). Davi cantou: "Renderei graças ao Senhor... e cantarei louvores ao nome do Senhor Altíssimo" (Sal. 7:17). "Santo e tremendo é o Seu no­me" (Sal. 111:9). "Louvem o nome do Senhor, porque só o Seu nome é excelso" (Sal. 148:13).

Os nomes hebraicos de Deus, tais como El e Elohim ("Deus") revelam o Seu divino poder. Retratam a Deus como o Todo-poderoso, o Deus da criação (Gên. 1:1; Êxo. 20:2; Dan. 9:4). Elyon ("Altíssimo") e El Èlyon focalizam o elevado ou exaltado status divino (Gên. 14:18-20; Isa. 14:14). Adonai ("Se­nhor") retrata a Deus como o Legislador Poderoso (Isa. 6:1; Sal. 35:23). Todos estes nomes enfatizam o majestoso e trans­cendental caráter de Deus.

Outros nomes podem, às vezes, revelar a Deus como Al­guém que deseja entrar em relacionamento com Seu povo. Shaddai e El Shaddai identificam o Deus Todo-poderoso, a fonte de toda bênção e conforto (Êxo. 6:3; Sal. 91:1). O nome Yahweh,3 também traduzido como Jeová ou Senhor, salienta a fidelidade e graça de Deus na manutenção do concerto (Êxo. 15:2 e 3; Osé. 12:5 e 6). Em Êxo. 3:14, Yahweh descreve a Si próprio como "Eu sou o Que Sou" ou "Eu Serei Aquilo Que Serei", in­dicando a inalterabilidade do relacionamento que Ele mantém com Seu povo. Em certas ocasiões Deus até mesmo Se revelou de modo mais íntimo como "Pai" (Deut. 32:6; Isa. 63:16; Jer. 31:9; Mal. 2:10) no momento em que identifica Israel como "Meu filho, o Meu primogênito" (Êxo. 4:22; cf. Deut. 32:19).

Os nomes neotestamentários de Deus possuem significa­dos equivalentes, exceto a palavra "Pai". Jesus atribuiu a es­ta palavra um significado pessoal mais profundo, tendo em vista levar os indivíduos crentes a um relacionamento íntimo e pes­soal com o Deus, que é o seu Pai (S. Mat. 6:9; S. Mar. 14:36; cf. Rom. 8:15; Gál. 4:6).

As Atividades de Deus. Os autores bíblicos ocupam-se mais tempo em descrever o que Deus faz do que em dizer o que Ele é. Deus é apresentado como Criador (Gên. 1:1; Sal. 24:1 e 2) e como Sustentador do mundo (Heb. 1:3). Ele é também Re­dentor e Salvador (Deut. 5:6; II Cor. 5:19), que carrega sobre Si o fardo do destino último da humanidade. Ele estabelece planos (Isa. 46:11), faz predições (Isa. 46:10), concede promes­sas (Deut. 15:6; II S. Ped. 3:9) e perdoa pecados (Êxo. 34:7). Consequentemente, Ele é digno de adoração (Apoc. 14:6 e 7). Finalmente, as Escrituras revelam a Deus como Legislador, "Rei eterno, imortal, invisível, Deus único" (I Tim. 1:17). Es­tas ações confirmam o conceito de que Deus é um Deus pessoal.

Os Atributos de Deus. Os autores bíblicos providenciaram informações adicionais no tocante à essência de Deus através de seus testemunhos quanto aos atributos divinos, tanto co­municáveis quanto incomunicáveis.

Os atributos incomunicáveis incluem alguns aspectos da na­tureza divina de Deus, os quais não podem ser concedidos a seres criados. Deus possui "vida em Si próprio" (João 5:26); portanto é Auto-existente. Ele possui vontade independente (Efés. 1:5) e poder próprio (Sal. 115:3).

Deus é Onisciente, pois conhece todas as coisas (Jó 37:16; Sal. 139:1-18; 147:5; IJoão 3:20); na qualidade de Alfa e Ômega (Apoc. 1:8), Ele co­nhece o fim desde o princípio (Isa. 46:9-11).

Deus é Onipresente (Sal. 139:7-12; Heb. 4:13), e assim trans­cende todo o espaço. Logo, Ele Se encontra presente de mo­do pleno em cada região do espaço. Ele é eterno (Sal. 90:2; Apoc. 1:8), e assim transcende os limites do tempo, estando plenamente presente em todos os momentos do tempo.

Deus é Onipotente - plenamente poderoso - e pode reali­zar tudo aquilo que deseja; nada Lhe é impossível (Dan. 4:17, 25 e 35; S. Mat. 19:26; Apoc. 19:6).

Ele também é imutável, uma vez que é perfeito. Ele diz: "Eu, o Senhor, não mudo" (Malaq. 3:6; veja Sal. 33:11; S. Tia. 1:17). Estes atributos não podem ser comunicados porque, em certo sentido, eles defi­nem a Deus.

Os atributos comunicáveis de Deus resultam de Seu amorável interesse pela humanidade. Ele concede amor (Rom. 5:8), graça (Rom. 3:24), misericórdia (Sal. 145:9), longanimidade (II Ped. 3:15), santidade (Sal. 99:9), justiça (Esd. 9:15; João 17:25), galardão (Apoc. 22:12) e verdade (I João 5:20). Es­tas qualidades divinas aparecem à medida que Deus doa a Si próprio. Esses dons, contudo, não podem ser recebidos sem que se receba o próprio Doador.

A Soberania de Deus

A soberania de Deus é claramente ensinada nas Escritu­ras. "Segundo a Sua vontade Ele opera... Não há quem Lhe possa deter a mão (Dan. 4:35). "Porque todas as coisas Tu crias­te, sim, por causa da Tua vontade vieram a existir e foram criadas" (Apoc. 4:11). "Tudo quanto aprouve ao Senhor, Ele o fez, nos Céus e na Terra" (Sal. 135:6). Desse modo Salomão pôde dizer: "Como ribeiros de água, assim é o coração do rei na mão do Senhor; este, segundo o Seu querer, o inclina" (Prov. 21:1). Paulo, estando cônscio da soberania de Deus, escreveu: "Se Deus quiser, voltarei para vós outros" (Atos 18:21; veja Rom. 15:32); ao mesmo tempo, Tiago admoesta: "Devíeis di­zer: 'Se o Senhor quiser' " (Tia. 4:15).

Predestinação e Liberdade Humana. A Bíblia revela o ple­no controle de Deus sobre o mundo. Ele "predestinou" pes­soas "para serem conformes à imagem de Seu Filho" (Rom. 8:29 e 30), para serem adotadas como Seus filhos e para obte­rem a herança (Efes. 1:4, 5 e 11). O que representa tal sobera­nia para a liberdade humana?

O verbo predestinar significa "determinar antecipadamen­te". Alguns entendem que essas passagens ensinam que Deus elegeu arbitrariamente alguns para a salvação e outros para a perdição, sem considerar as escolhas dessas pessoas. Mas o estudo do contexto de tais passagens mostra que Paulo não está falando de um Deus que caprichosamente exclui a quem quer que seja.

O impulso desses textos é inclusivo. A Bíblia declara, sem rodeios, que Deus "deseja que todos os homens sejam salvos e cheguem ao pleno conhecimento da verdade" (I Tim. 2:4). Ele não quer que qualquer pessoa "pereça, senão que todos cheguem ao arrependimento" (II Ped. 3:9). Não existe qual­quer evidência de que Deus decretou que algumas pessoas de­vam perder-se; semelhante decreto seria uma negação do Cal­vário, onde Jesus morreu em favor de todos. A expressão to­do aquele no conhecido texto de João 3:16: "Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o Seu Filho unigénito, para que todo aquele que nEle crê não pereça, mas tenha a vi­da eterna" significa que qualquer pessoa pode salvar-se.

"Que a livre vontade humana é o fator determinante em seu destino pessoal, torna-se evidente pelo fato de que Deus continuamente apresenta os resultados da obediência e da de­sobediência, e insiste em que o pecador escolha a obediência e a vida (Deut. 30:19; Jos. 24:15; Isa. 1:16-20; Apoc. 22:17); e do fato de que é possível ao crente que uma vez foi recipien­te da graça, cair dela e vir a perder-se (I Cor. 9:27; Gál. 5:4; Heb. 6:4-6; 10:29)....

"Deus pode ver antecipadamente todas as decisões indivi­duais que serão tomadas, mas em Sua presciência Ele não de­termina quais devem ser estas escolhas.... A predestinação bí­blica consiste no efetivo propósito de Deus, de que todos aqueles que crerem em Cristo sejam salvos (João 1:12; Efes. 1:4-10)."4

Assim, pois, o que deseja dizer a Escritura quando afirma que Deus amou Jacó e aborreceu Esaú (Rom. 9:13), e que Ele endureceu o coração de Faraó (vs. 17-18; confira com os versos 15-16, e com Êxo. 9:16; 4:21)? O contexto dessas passagens mostra que o interesse de Paulo é pela missão, e não pela salvação. Redenção acha-se disponível para todos - mas Deus escolheu determinadas pessoas para responsabilidades especiais. A salvação achava-se igualmente disponível para Jacó e Esaú, mas Deus escolheu Jacó - e não Esaú - para consti­tuir a linhagem por intermédio da qual Ele haveria de enviar a mensagem de salvação ao mundo. Deus exerceu soberania em Sua estratégia missionária.

Quando a Escritura afirma que Deus endureceu o coração de Faraó, está atribuindo a Deus o crédito por aquilo que Ele meramente permite, e não a responsabilidade de uma ordem Sua para que aquilo ocorra. A negativa de Faraó em respon­der aos apelos de Deus, serve, na verdade, para ilustrar o res­peito de Deus pela liberdade de escolha das pessoas.

Conhecimento Antecipado e Liberdade Humana. Alguns crêem que Deus Se relaciona com as pessoas sem efetivamente conhecer as suas decisões até que elas tenham sido toma­das; que Deus conhece certos eventos futuros, tais como o Se­gundo Advento, o milênio e a restauração da Terra, mas não tem ideia de quais serão as pessoas salvas. Estas pessoas sen­tem que as dinâmicas relações de Deus com a raça humana estariam em perigo se Ele conhecesse tudo aquilo que trans­pira de eternidade a eternidade. Alguns sugerem que Ele Se sentiria entediado se conhecesse o fim desde o princípio.

Mas o conhecimento divino a respeito daquilo que os ho­mens irão fazer, não interfere com as suas decisões efetivas em maior grau do que o conhecimento que um historiador pos­sui dos atos passados das pessoas interfere naquilo que elas fizeram. Da mesma forma como uma câmera registra as ce­nas mas não interfere nelas, o conhecimento antecipado de Deus penetra o futuro sem alterá-lo. A presciência de Deus jamais viola a liberdade humana.

Dinamismo Interno da Divindade

Porventura existe apenas um Deus? O que dizer de Cristo e do Espírito Santo?

A Singularidade de Deus. Em contraste com o paganis­mo das nações circunvizinhas, Israel cria na existência de um Deus único (Deut. 4:35; 6:4; Isa. 45:5; Zac. 14:9). O Novo Tes­tamento estabelece a mesma ênfase quanto à unidade de Deus (Mar. 12:29-32; João 17:3; I Cor. 8:4-6; Efes. 4:4-6; I Tim. 2:5). Esta ênfase monoteísta não contradiz o conceito cristão de um Deus triúno ou Trindade - Pai, Filho e Espírito Santo; em vez disso, enfatiza que não existe um panteão com várias deidades.

A Pluralidade Interna da Divindade. Embora o Antigo Testamento não ensine explicitamente que Deus é triúno, ele alude à pluralidade interna da Divindade. Por vezes Deus uti­liza pronomes e verbos no plural, tais como nestas expressões: "Façamos o homem à nossa imagem e semelhança" (Gên. 1:26); "Eis que o homem se tornou como um de nós" (Gên. 3:22); "Vinde, desçamos e confundamos ali a sua linguagem" (Gên. 11:7). Por vezes o Anjo do Senhor é identificado com Deus. Tendo aparecido a Moisés, o Anjo do Senhor disse: "Eu sou o Deus de teu pai, o Deus de Abraão, o Deus de Isaque, e o Deus de Jacó" (Êxo. 3:6).

Várias referências distinguem o Espírito de Deus do pró­prio Deus. Na história da Criação, lemos que "o Espírito de Deus pairava por sobre as águas" (Gên. 1:2). Alguns textos não apenas fazem referência ao Espírito, como também in­cluem uma terceira pessoa na obra redentora de Deus: "Ago­ra o Senhor Deus [Deus Pai] Me enviou a Mim [o Filho de Deus] e o Seu Espírito [o Espírito Santo]" (Isa. 48:16); "Pus [Deus Pai] sobre Ele [o Messias] o Meu Espírito [Espírito Santo], e Ele promulgará o direito para os gentios" (Isa. 42:1). [Ver tbm Isa. 63:7-10].

O Relacionamento Interno da Divindade. O primeiro ad­vento de Cristo nos provê alguns lampejos mais claros a res­peito do Deus triúno. O evangelho de S. João revela que a Di­vindade consiste em Deus Pai (veja o terceiro capítulo desse livro), Deus Filho (capítulo 4) e Deus Espírito Santo (capítulo 5), uma unidade de três pessoas coeternas que se inter-relacionam de forma única e misteriosa.

1. Relacionamento amorável. No momento em que Jesus exclamou: "Deus Meu, Deus Meu, por que Me desamparaste?" (Mar. 15:34), sofria Ele o afastamento de Seu Pai, que o pecado causara. O pecado rompeu o relacionamento original da humanidade com Deus (Gên. 3:6-10; Isa. 59:2). Em Suas últimas horas antes da cruz, o Salvador, que por Si mesmo não conhecia o pecado, tornou-Se pecado por nós. Ao assumir nosso pecado e nosso lugar, experimentou Ele a separação do Pai que representava a nossa sorte, e, consequentemente, pereceu.

Os pecadores jamais compreenderão o que a morte de Jesus representou para a Divindade. Desde a eternidade fora Ele um com o Pai e o Santo Espírito. Eles haviam existido como coeternos, numa coexistência em que Se ofereciam a Si próprios mutuamente em amor. Tendo estado juntos durante tanto tem­po, compreende-se o perfeito e absoluto amor que existia entre a Divindade. "Deus é amor" (I João 4:8); isto significa que cada uma das Pessoas vivia de modo tão completo para as de­mais, que Eles experimentavam completa realização e felicidade.

O amor é definido em I Coríntios 13. Alguns poderão inter-rogar-se por que razão as qualidades da longanimidade e da paciência seriam necessárias no relacionamento interno da Di­vindade, uma vez que ali existia o mais perfeito amor. A pa­ciência tornou-se necessária pela primeira vez no tratamento com os anjos rebeldes, e mais tarde no relacionamento com o indócil ser humano.

Não existe distância entre as pessoas da divindade triúna. Todas elas são divinas, e assim compartilham seus poderes e qualidades divinas. Nas organizações humanas, a autoridade final repousa sobre uma pessoa — um presidente, rei, ou primeiro-ministro. Na economia da Divindade, a autoridade final re­side sobre todos os três membros.

Embora a Divindade não seja apenas uma Pessoa, Deus é um em propósito, mente e caráter. Esta unicidade não oblite­ra as personalidades distintas do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Tampouco a existência destas personalidades separa­das destrói o conceito monoteísta das Escrituras, de que Pai, Filho e Espírito Santo são um único Deus.

2. Relacionamento Funcional. Dentro da Divindade existe uma distribuição de funções. Deus não duplica desnecessaria­mente o serviço. Ordem é a primeira lei do Céu, e Deus opera através de modos ordenados. Esta organização parte da uni­dade interna da Divindade. O Pai parece atuar como fonte, o Filho como mediador e o Espírito Santo como atualizador ou aplicador.

A encarnação ilustra de modo perfeito o relacionamento fun­cional entre as três pessoas da Divindade. O Pai entregou Seu Filho. Cristo deu-Se a Si próprio e o Espírito Santo operou a concepção de Jesus (João 3:16; Mat. 1:18,20). O tes­temunho do anjo a Maria indicou as atividades dos três no pro­cesso misterioso em que Deus Se fez homem. "Descerá sobre ti o Espírito Santo e o poder do Altíssimo te envolverá com a Sua sombra; por isso também o ente santo que há de nascer, será chamado Filho de Deus" (Luc. 1:35).

Todos os membros da Trindade achavam-Se presentes no batismo de Cristo: o Pai concedeu-Lhe estímulo (Mat. 3:17), Cristo apresentou-Se a Si próprio para ser batizado e servir-nos de exemplo (Mat. 3:13-15) e o Espírito Santo deu-Se a Si mesmo para encher Jesus de poder (Luc. 3:21 e 22).

Aproximando-Se do fim de Seu ministério terrestre, Jesus prometeu enviar o Espírito Santo como conselheiro ou ajuda-dor (João 14:16). Horas mais tarde, pendente da cruz, Je­sus clamou a Seu Pai: "Deus Meu, Deus Meu, por que Me de­samparaste?" (Mat. 27:46). Naqueles momentos extremos e cruciais para a história da salvação, Pai, Filho e Espírito San­to compuseram conjuntamente o quadro dramático.

Nos dias atuais, Pai e Filho chegam até nós através do Es­pírito Santo. Jesus disse: "Quando, porém, vier o Consolador, que Eu vos enviarei da parte do Pai, o Espírito da verdade, que dEle procede, Esse dará testemunho de Mim" (João 15:26). O Pai e o Filho enviaram o Espírito para que Este re­velasse o Filho a cada pessoa. O grande fardo que repousa so­bre a Divindade é trazer a cada pessoa o conhecimento de Deus e de Jesus Cristo (João 17:3) e tornar Jesus presente e real (Mat. 28:20; cf. Heb. 13:5). Os crentes são eleitos para a salvação, diz Pedro, "segundo a presciência de Deus Pai, em santificação do Espírito, para a obediência e a aspersão do san­gue de Jesus Cristo" (I Ped. 1:2).

A bênção apostólica inclui as três Pessoas da Divindade. "A graça do Senhor Jesus Cristo, e o amor de Deus, e a co­munhão do Espírito Santo sejam com todos vós" (II Cor. 13:13). Cristo aparece no início da lista. O ponto de contato de Deus com a humanidade realizava-se, e ocorre ainda hoje, através de Jesus Cristo — o Deus que Se tornou homem. Embora to­dos os três membros da Divindade trabalhem em conjunto para a nossa salvação, somente Jesus viveu como homem, e tor-nou-Se o nosso Salvador (João 6:47; Mat. 1:21; Atos 4:12). Uma vez, porém, que "Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo" (II Cor. 5:19), Deus também poderia ser de­signado como nosso Salvador (cf. Tito 3:4), pois Ele nos sal­vou através de Cristo, o Salvador (Efés. 5:23; Filip. 3:20; cf. Tito 3:6).

Em Sua distribuição interna de funções, diferentes mem­bros da Divindade executam tarefas distintas para a salvação do homem. O trabalho do Espírito Santo não acrescenta coisa alguma à perfeição e eficácia do sacrifício empreendido por Cristo na cruz. Através do Espírito Santo, a propiciação obje-tiva efetuada no Calvário é aplicada subjetivãmente à medida que o Cristo da propiciação é trazido para o íntimo do crente. E por esta razão que Paulo fala de "Cristo em vós, a esperan­ça da glória" (Col. 1:27).

A Salvação é o Foco

A igreja primitiva batizava as pessoas em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo (Mat. 28:19). Uma vez, porém, que foi através de Jesus que ocorreu a revelação do amor e do propósito de Deus, é nEle que a Bíblia se centraliza. Ele é a esperança antecipada pelos sacrifícios e festivais do Anti­go Testamento. É Ele quem ocupa a posição central nos Evan­gelhos. Ele representa as boas novas proclamadas pelos discí­pulos através de sermões e de escritos - a Bendita Esperan­ça. O Antigo Testamento dirige seu olhar para o futuro, esperando-O; o Novo Testamento relata Seu primeiro advento e prossegue olhando para o futuro, em direção a Sua segunda vinda.

Cristo, o Mediador entre Deus e o homem, estabelece nos­so vínculo de união com a Divindade. Jesus é "o caminho, a verdade e a vida" (João 14:6). As boas novas acham-se cen­tralizadas numa Pessoa, e não apenas numa prática. Têm a ver com um relacionamento, não apenas com regras — pois o cristianismo é Cristo. NEle encontramos o cerne, o conteú­do e o contexto de todas as verdades e da vida.

Contemplando a cruz, conseguimos olhar o interior do co­ração de Deus. Naquele instrumento de tortura, Ele derramou Seu amor por nós. Através de Cristo, o amor da Divindade ocupa por completo nossos corações doloridos e vazios. Jesus permaneceu ali pendurado como o Dom de Deus e nosso Subs­tituto. Na cruz do Calvário Deus desceu à Terra, ao ponto mais baixo imaginável, a fim de encontrar-nos; mas este mesmo lu­gar representa o ponto mais alto que nós podemos atingir. Quando nos aproximamos do Calvário, subimos ao lugar mais alto possível em direção a Deus.

Na cruz a Trindade demonstrou a maior revelação de al­truísmo. Foi aquela a nossa mais elevada revelação de Deus. Cristo tornou-Se homem a fim de morrer pela raça humana. Ele valorizou a auto-negação como sendo mais valiosa que a auto-existência. Ali Cristo tornou-Se nossa "justiça, e santifi­cação, e redenção" (I Cor. 1:30). Qualquer que seja o valor que tenhamos ou venhamos a ter, este provém do sacrifício que Ele efetuou na cruz.

O único Deus verdadeiro é o Deus da cruz. Cristo desven­dou ao Universo o infinito amor e poder salvador de Deus; Ele revelou um Deus triúno que Se dispôs a suportar a agonia da separação em virtude de Seu amor incondicional por um pla­neta rebelde. Da cruz Deus proclamou o amorável convite que nos dirige: devemos reconciliar-nos, "e a paz de Deus, que ex­cede todo o entendimento, guardará os vossos corações e as vossas mentes em Cristo Jesus" (Filip. 4:7).

Referências

1.  Gordon R. Lewis, Decide for Yourself: A Theological Workbook (Downers Grove, IL: Inter Varsity Press, 1978), pág. 15.
2.  Trata-se dos argumentos cosmológico, teleológico, ontológico, antropológico e religioso. Veja, por exem­plo, T. H. Jemison, Christian Beliefs (Mountain View, CA: Pacific Press, 1959), pág. 72; Richard Rice, The Reign of God (Berrien Springs, MI: Andrews University Press, 1985), págs. 53-56. Estes argumentos não provam a existência de Deus mas mostram que existe forte probabilidade de que Deus exista. Em termos últimos, contudo, a crença na existência de Deus está baseada na fé.
3. Yahweh representa uma "transliteração conjectural" do sagrado nome de Deus no Antigo Testamento (Êxo. 3:14, 15; 6:3). O original hebraico continha quatro consoantes, YHWH. Com o decorrer do tempo, recean­do profanar o nome de Deus, os judeus recusaram-se a pronunciar em voz alta o sagrado nome. Em vez de fazé-lo, sempre que apareciam as consoantes YHWH eles liam a palavra ADONAI. No sétimo ou oitavo século da era cristã, quando as vogais foram acrescentadas às palavras hebraicas, os massoretas supriram as vogais de Adonai às consoantes de YHWH. A combinação resultou na palavra JEOVÁ. Outras versões bíblicas preferem manter o termo YAHWEH, ou Senhor. (Veja Siegfried H. Horn, Seventh-day Adventist Bible Dictionary, edição de Don F. Neufeld, edição revista [Washington. D. C: Review and Herald, 1979], págs. 1192 e 1193).
4. "Predestination", Seventh-day Adventist Encyclopedia, Don F. Neufeld, editor; edição revista (Washing­ton, D. C: Review and Herald, 1976), pág. 1144.

Fonte: Nisto Cremos, Casa Publicadora Brasileira, págs. 32-45

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